Na semana passada vi algo na televisão que muito me incomodou.
Tratava-se de um reportagem realizada numa paróquia do Norte de Portugal, em que as pessoas protestavam pela mudança e consequente saída do seu pároco, fruto de uma decisão que a todo o tempo os Bispos têm de tomar, obviamente, para uma melhor organização das Igrejas locais.
Aquela gente que protestava, eram, supostamente, cristãos fiéis, de prática cristã activa, de Missa Dominical, de vivência da fé.
Gente portanto, cujo testemunho devia ser exemplo para os outros, devia ser testemunho de paz, de alegria, de aceitação, de entrega.
Nada mais contrário, infelizmente, pois alguns rostos expressavam rancor, violência, quase ódio e as expressões utilizadas confirmavam isso mesmo.
O testemunho que estava a ser dado era exactamente o contrário do verdadeiro testemunho cristão.
Claro que as pessoas até podem não concordar com uma decisão do seu Bispo, e podem manifestá-la no sítio certo, ou seja, pedindo para serem recebidas e ordeiramente explicarem as suas razões.
Devem no entanto estar preparadas para as mudanças necessárias nas suas paróquias, não só como melhoria de organização da Igreja local, mas também porque a missão do sacerdote, para além de ser de disponibilidade total, deve ter sempre novos desafios que o levem a uma maior e empenhada vivência da fé, e também ao descobrir de novos caminhos na proclamação da Palavra, no anúncio da Boa Nova.
Sabemos que quando temos missões de responsabilidade na condução dos homens, (seja na vida religiosa, seja na vida social civil), se ficamos muito tempo no mesmo lugar, tendemos a entrar na rotina, a adormecermos sobre os caminhos conquistados, e assim todas as conquistas alcançadas, não são mais do que conquistas repetidas, que não provocam novas vivências, novos empenhos, novas alegrias.
Ser Igreja é também mais dar do que receber.
Ora se sentimos o nosso pároco como um bem para nós, alguém de quem muito gostamos e queremos, que belo e cristão será proporcionarmos que outros o possam conhecer e dele receberem os talentos e dons que Deus lhe concedeu.
Não será esta uma partilha fraternal, que nos faz mais unidos, mais Igreja?
Não será bem mais belo e cristão, fazermos uma linda festa de homenagem e despedida àquele de quem tanto gostamos, e juntos, em alegria, irmos acompanhá-lo à sua nova missão?
Que seria da cristandade se as comunidades que Paulo visitava e com as quais ficava, o retivessem e não deixassem sair em missão para outras comunidades?
Na minha paróquia estamos neste momento a passar por uma fase semelhante, e o nosso pároco que connosco está há treze anos, e é por todos amado e querido, bem como o vigário paroquial, estão de saída para novas missões e a paróquia está a organizar em alegria e paz, um jantar de despedida, em que, acolhendo a todos, também queremos acolher representantes das novas comunidades onde eles vão passar a exercer o seu sacerdócio.
Verdade seja dita que, julgo eu, estas manifestações têm também muito a ver com a reacção dos próprios sacerdotes à sua saída das paróquias, e também ao modo como transmitem esses factos ao povo crente.
Se recebem a notícia com espírito de missão e aceitação, por muito que lhes custe, (são humanos como todos nós), transmitirão aos seus paroquianos uma imagem de paz, de aceitação firme e pessoal e até de alegria pela nova missão que lhes é confiada.
Logicamente uma tal maneira de anunciar a sua saída de pároco, coloca imediatamente de lado toda e qualquer manifestação que não seja de concordância, e, embora revestido de tristeza, esse acontecimento, pode e torna-se com certeza num momento de unidade, alegria e partilha fraternal, assim entendida como acima escrevo.
Peço ao Pai e ao Filho que derramem o Espírito Santo sobre estes sacerdotes, e sobre nós fiéis, para que tenhamos sempre na mente e no coração o primeiro mandamento, «amar a Deus acima de todas as coisas», bem como o testemunho de unidade cristã à volta dos nossos Bispos e Sacerdotes, na procura da certeza de que só unidos e disponíveis uns para os outros é que podemos realizar a Palavra de Deus:
«Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação» Act 2,47
Monte Real, 26 de Julho de 2010
Joaquim Mexia Alves
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