Por todos os cientistas e pessoas da cultura, para que, por meio da sincera busca da verdade, possam chegar ao conhecimento do único Deus verdadeiro.
1. Uma cultura que estranha o Cristianismo
É essa a situação actual, na maior parte dos países de antiga tradição cristã. Culturas cuja origem é a referida tradição mas que se lhe tornaram estranhas – culturas desenraizadas, portanto – e, não raro, empenhadas em fazê-la desaparecer do espaço público. Bento XVI tem vindo a insistir neste facto. Fê-lo, mais uma vez, em discurso ao Corpo Diplomático acreditado na Santa Sé, no passado dia 11 de Janeiro: «Infelizmente, em certos países, sobretudo ocidentais, difundiu-se nos meios políticos e culturais, bem como nos mass media, um sentimento de pouca consideração e por vezes de hostilidade, para não dizer menosprezo, para com a religião, particularmente a religião cristã». Se a Igreja teve responsabilidades no processo que conduziu a esta situação, não lhe cabem as responsabilidades todas – como alguns, mesmo na Igreja, pretenderam e pretendem ainda fazer crer. A questão, hoje, é essencialmente outra, como salientou o Papa, no referido discurso: «É claro que, se se considera o relativismo como um elemento constitutivo essencial da democracia, corre-se o risco de conceber a laicidade apenas em termos de exclusão ou, mais exactamente, de recusa da importância social do facto religioso». O problema reside aqui: a ditadura do relativismo, que grupos variados pretendem impor como norma «democrática» através de um laicismo intolerante e avesso à diferença, mesmo se afirma promovê-la. «Mas uma tal perspectiva gera confronto e divisão, prejudica a paz, perturba a ecologia humana e, rejeitando por princípio atitudes diversas da sua, torna-se uma estrada sem saída» (Bento XVI).
2. Cientistas ideologicamente comprometidos
Este relativismo erigido em paradigma cultural reclama-se moderno, ilustrado e identifica-se com o progresso científico-tecnológico. E, estranhamente, são muitos os cientistas que o cultivam. Em geral, tais cientistas perfilham a mesma agenda ideológica: a promoção do ateísmo e do relativismo ético, por meio do qual pretendem libertar a ciência de todas as restrições, segundo o princípio: tudo quanto a ciência pode fazer, deve fazer. Cientistas comprometidos com esta agenda ideológica não deixam, apenas por isso, de ser competentes nas suas áreas de investigação e podem contribuir grandemente para o avanço do conhecimento humano e do seu domínio sobre a natureza. Ao mesmo tempo, porém, contribuem poderosamente – até pela credibilidade que a sua competência científica lhes confere – para a degradação ética e para a ruína moral das sociedades, com consequências que apenas começamos a vislumbrar.
3. A busca sincera da verdade
À medida que o laicismo de exclusão vai impondo a ditadura do relativismo e este vai sendo adoptado por largas camadas da população, o Cristianismo aparece sempre mais estranho ao ambiente cultural. Pode-se, certamente, pensar uma outra relação, fundada naquilo que Bento XVI chama «uma laicidade positiva, aberta, que, fundada sobre uma justa autonomia da ordem temporal e da ordem espiritual, favoreça uma sã cooperação e um espírito de responsabilidade compartilhada». Isto, porém, implica, da parte da Igreja, o reconhecimento continuado da «justa autonomia da ordem temporal», de que fala o Papa. E, da parte dos representantes da «ordem temporal», o reconhecimento do direito da Igreja a intervir no espaço público e o respeito do seu papel específico na sociedade. Numa relação assim, ganha consistência a intenção do Papa de que os cientistas e as pessoas de cultura, buscando sinceramente a verdade, cheguem ao conhecimento do único Deus verdadeiro. Este é o desejo da Igreja e a sua proposta a cada pessoa – proposta que, em ambiente de estima recíproca, pode ser acolhida por qualquer pessoa de boa vontade, mesmo por aquelas que consideram inalcançável a verdade ou que não há nenhuma verdade definitiva a alcançar.
Elias Couto
(Fonte: site Agência Ecclesia)
Sem comentários:
Enviar um comentário