Ainda não foi canonizada, mas, para milhões de pessoas, esse passo será apenas uma questão de tempo. Teresa de Calcutá foi beatificada, em Roma, há precisamente seis anos.
Toda a vida tentou passar despercebida, mas a mundo apaixonou-se por esta mulher minúscula que era uma gigante da caridade. Seis anos depois da sua morte, em tempo recorde, mesmo para o Papa que mais canonizações e beatificações decretou, João Paulo II elevou-a à condição de beata.
Nasceu Inês, no império Otomano, e morreu Teresa, no país do hinduísmo. Mas a jovem católica, de etnia albanesa, nunca perdeu a sua fé em Jesus Cristo, por quem se apaixonara irremediavelmente e a quem procurou toda a sua vida, nos mais pobres dos pobres, nos moribundos e nos abandonados.
Aos 18 anos, saiu de casa para se tornar freira na ordem do Loreto. Nunca mais veria a família. Depois de uma passagem pela Irlanda, foi enviada para a Índia. Em 1946, sentiu um chamamento divino para formar uma nova ordem dedicada exclusivamente aos mais pobres. Obteve autorização e, em 1950, nasceu a ordem das Missionárias da Caridade.
Nunca procurou a fama, mas esta surgiu com a mesma celeridade com que apareciam noviças e voluntárias para trabalhar consigo. Teresa era uma superiora exigente, ralhava frequentemente com as jovens ao seu cuidado. Não chegava cuidar e lavar incansavelmente os moribundos, doentes, cobertos de sujidade. Era preciso fazê-lo com um sorriso na cara.
Viajou por todo o mundo, exortando à caridade e advertindo contra um distanciamento dos ensinamentos de Cristo. Era admirada por todos, embora algumas das suas palavras deixassem as sociedades ocidentais desconfortáveis: “O maior destruidor da paz é o aborto”, declarou, “porque é uma guerra contra as crianças”, mas completava sempre estas palavras com o mandamento do amor: “Como é que convencemos uma mulher a não abortar? Como sempre, devemos fazê-lo com amor, recordando que o amor significa a disponibilidade de dar até que doa”.
Uma multidão de 250 mil pessoas encheu a Praça de São Pedro, no dia 19 de Outubro de 2003, para ver um Papa com claros sinais de velhice declarar Teresa Beata. Ana Van Uden era uma dessas pessoas. A jovem portuguesa viajou de propósito para Roma para assistir a esta cerimónia e para celebrar os 25 anos do pontificado de João Paulo II.
“Lembro-me que foi uma cerimónia intensíssima, e muito vivida. A Praça de São Pedro estava completamente cheia”, recorda.
Embora tivesse menos de 20 anos nessa altura, recordava-se bem da pequena freira: “Nunca tive a menor dúvida de que aquela mulher era santa e a devoção de João Paulo II por ela apenas confirmou essa ideia”.
Filipe d’Avillez
(Fonte: ‘Página 1’ grupo Renascença na sua edição de 19.10.2009)
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