Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Importante Editorial no “Il Giornale” de Andrea Tornielli

Se se transformasse a Igreja num “Talk-Show”

Muitos dos comentários e das reacções à sentida carta de Bento XVI enviada aos Bispos de todo o mundo para explicar o verdadeiro significado da revogação da excomunhão aos “lefebvrianos” e extinguir a polémica suscitada pela entrevista negacionista de Mons. Williamson, deram indicações sobre a solidão do Papa, sobre os problemas do governo da Cúria, sobre a oposição por parte do episcopado progressista e sobre a rigidez de posições dos tradicionalistas, sobre os erros de comunicação. Concentrando-se em fugas de informação «lamentáveis», segundo a definição do director do L’Osservatore Romano, que num seu editorial http://spedeus.blogspot.com/2009/03/como-carta-aos-galatas.html suscitou a atenção mediática precisamente sobre este argumento.

No entanto o âmago da insólita mensagem papal – uma carta simultaneamente corajosa e humilde, com a qual Bento XVI assumiu como sua, a responsabilidade da máquina da Cúria – arriscou e arrisca a manter-se ainda alvo de atenção.

Na verdade, Ratzinger não esconde, nas sete páginas enviadas aos «irmãos no ministério episcopal», de haver sido profundamente atingido não pelas polémicas externas, da instrumentalização mediática do seu gesto de misericórdia e reconciliação para com os “lefebvrianos”, mas sobretudo pela dureza e pela hostilidade das reacções no campo católico, na Igreja. Bispos e Cardeais atacaram-no, considerando que o Pontífice quereria fazer uma inversão de marcha em relação ao Concílio Vaticano II. Uma «avalanche e protestos, cuja amargura revelava feridas existentes para além do momento».

Com o seu gesto solitário e sofrido, o Papa quis, uma vez mais, apelar a todos sobre a necessidade de uma visão diversa, a visão da fé: «E que devemos aprender sem cessar a prioridade suprema: o amor».

Não para alimentar o debate e o confronto interno à Igreja, não para fazer tábua rasa das diferenças e da diversidade, que desde sempre caracterizaram a «católica», que assim se chama precisamente porque inclui e não exclui, e que no seu interior a mesma fé pode ser vivida segundo experiências, modalidades e sensibilidades muito diversas entre si.

Não, a tristeza do Papa não foi determinada pelo facto que se tenham expresso juízos diferentes sobre a sua revogação da excomunhão. O sofrimento que transparece das páginas da carta tem a ver com o facto que naqueles juízos, naquelas críticas fizeram-lhe recordar a frase Paulina sobre os cristãos que se mordem e devoram mutuamente, a caridade estava ausente.

Prevaleceram as lógicas das facções contrapostas, que acabaram por transformar também a Igreja num “Talk-Show” ou num congresso partidário, com tantas correntes em confronto e aguerridas que apenas visam à obtenção do poder.

Este Papa de idade avançada, que no início do seu Pontificado afirmou que era seu dever «fazer resplandecer diante dos homens e das mulheres de hoje a luz de Cristo: não a sua luz, mas aquela de Cristo», uma vez mais volta a pedir à Igreja e a todos os seus membros, como também à sua Cúria, uma mudança de visão e mentalidade.

Esta visão pode-se retirar no comentário publicado no “L’Osservatore Romano” de hoje pelo Bispo Rino Fisischella, dedicado ao caso da menina brasileira vítima de violação pelo padrasto, engravidando de dois gémeos e levada a abortar. Uma história trágica, que fez saltar o Bispo de Recife para ribalta das crónicas internacionais por haver anunciado de imediato que os médicos que praticaram o aborto estavam sujeitos à excomunhão. «Antes de pensar na excomunhão – escreve Fisischela – era necessário e urgente salvaguardar a sua vida inocente e elevá-la a um nível de humanidade da qual nós homens de Igreja deveremos ser anunciadores e mestres especializados».

Precisamente, esta mesma visão de misericórdia é aquela que Bento XVI testemunha à Igreja.

Pensar que o cerne do problema sejam apenas as poltronas da Secretaria de Estado – aonde no entanto existem inegáveis maus funcionamentos – ou o estudo de estratégias de comunicação mais eficazes, ou ainda a divisão segundo a lógica política entre conservadores e progressistas, significa, uma vez mais, reduzir a profundidade da lição papal à lógica do poder mundano.

O Papa não precisa de intérpretes autorizados: comunica muito bem e dá o melhor de si mesmo quando fala de improviso. Num momento da história em que Deus «desaparece do horizonte dos homens» é necessário redescobrir, que à Igreja não se podem aplicar as lógicas empresariais, nem pode ficar dobrada sobre si mesma, concentrada nos seus organigramas.

A Igreja vive totalmente aberta ao mundo e é exactamente por isso, que na próxima terça-feira, o Bispo de Roma parte para África, o continente esquecido.



Por Andrea Tornielli em “Il Giornale” – 15 de Março de 2009
http://www.ilgiornale.it/a.pic1?ID=336242&START=0&2col=


(Tradução e adaptação de JPR)

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