Concertação, solidariedade e participação responsável: é o caminho indicado por Bento XVI para enfrentar a actual crise económica mundial e, de maneira particular, as dificuldades do mundo do trabalho. O Papa falou sobre este tema durante a audiência concedida aos dirigentes da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores (CISL), recebidos na manhã de 31 de Janeiro na Sala Clementina. Após as palavras introdutivas do Secretário-Geral, que pronunciou um discurso em nome de todos os presentes, Bento XVI proferiu as seguintes expressões.
Ilustres Senhores
Gentis Senhoras
É com profundo apreço que recebo em vós, e saúdo cordialmente, os membros do grupo de dirigentes da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores: saúdo de modo particular o Secretário-Geral, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu em nome de todos. Ele recordou que precisamente há 60 anos, a CISL dava os primeiros passos, participando activamente na fundação do sindicato livre internacional, oferecendo à nascente entidade a contribuição da ancoragem nos princípios da doutrina social da Igreja e a prática de um sindicalismo livre e autónomo das linhas políticas e dos partidos. Hoje vós tencionais reconfirmar estas mesmas orientações, desejando continuar a haurir do magistério social da Igreja a inspiração na vossa acção, destinada a tutelar os interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras e dos aposentados da Itália. Como o Secretário-Geral recordou oportunamente, o grande desafio e oportunidade que a preocupante crise económica deste momento convida a saber enfrentar, é encontrar uma nova síntese entre bem comum e mercado, entre capital e trabalho. E neste âmbito, é significativa a contribuição que podem oferecer as organizações sindicais.
No pleno respeito pela autonomia legítima de todas as instituições a Igreja, perita em humanidade, não se cansa de oferecer a contribuição do seu ensinamento e da sua experiência para aqueles que têm a intenção de servir a causa do homem, do trabalho e do progresso, da justiça social e da paz. A sua atenção às problemáticas sociais aumentou ao longo do século passado. Precisamente por isso, os meus venerados Predecessores, atentos aos sinais dos tempos, não deixaram de oferecer indicações oportunas aos fiéis e aos homens de boa vontade, iluminando-os no seu compromisso pela salvaguarda da dignidade do homem e pelas reais exigências da sociedade.
No alvorecer do século XX, com a Encíclica Rerum novarum, o Papa Leão XII fez uma defesa premente da dignidade inalienável da dignidade dos trabalhadores. As orientações ideais, contidas neste documento, contribuem para revigorar a animação cristã da vida social; e isto traduziu-se, entre outras coisas, no nascimento e na consolidação de muitas iniciativas de interesse civil, como os centros de estudos sociais, as sociedades de trabalhadores, as cooperativas e os sindicatos. Verificou-se inclusive um impulso notável para uma legislação do trabalho, respeitosa das legítimas expectativas dos operários, especialmente das mulheres e dos menores, e houve também um sensível aumento dos salários e das próprias condições de trabalho. Desta Encíclica, que teve "o privilégio" de ser comemorada por vários documentos pontifícios sucessivos, João Paulo II quis tornar solene o centésimo aniversário, publicando a Encíclica Centesimus annus, na qual observa que a doutrina social da Igreja, especialmente neste nosso período histórico, considera o homem inserido na complexa rede de relações, que é típica das sociedades modernas. Por sua vez, as ciências humanas contribuem para o tornar capaz de se compreender cada vez melhor a si mesmo, enquanto ser social. "Todavia, somente a fé observa o meu venerado Predecessor lhe revela plenamente a sua verdadeira identidade, e é precisamente dela que parte a doutrina social da Igreja que, recolhendo todos os contributos das ciências e da filosofia, se propõe assistir o homem no caminho da salvação" (n. 54).
Na sua precedente Encíclica social Laborem exercens, de 1981, dedicada ao tema do trabalho, o Papa João Paulo II tinha sublinhado o facto de que a Igreja nunca cessou de considerar os problemas do trabalho no âmbito de uma questão social que, progressivamente, foi assumindo dimensões mundiais. Aliás, o trabalho ele insiste deve ser visto como a "chave essencial" de toda a problemática social, porque condiciona o desenvolvimento não apenas económico, mas também cultural e moral, das pessoas, das famílias, das comunidades e de toda a humanidade (cf. n. 1). Ainda neste importante documento são frisados o papel e a importância estratégica dos sindicatos, definidos como "um elemento indispensável da vida social, especialmente nas modernas sociedades industrializadas" (cf. n. 20).
Há outro elemento que volta frequentemente no magistério dos Papas do século XX, e trata-se do apelo à solidariedade e à responsabilidade. Para superar a crise económica e social que estamos a viver, sabemos que é necessário um esforço livre e responsável da parte de todos; ou seja, é necessário ultrapassar os interesses particularistas e sectoriais, de maneira a enfrentar em conjunto e unidos as dificuldades que investem todos os âmbitos da sociedade, de modo especial o mundo do trabalho. Nunca se sentiu tal urgência como hoje; as dificuldades que angustiam o mundo do trabalho impelem a uma concertação efectiva e mais estreita entre os múltiplos e diversos componentes da sociedade. O apelo à colaboração encontra referências significativas também na Bíblia. Por exemplo, no livro do Qohelet lemos: "É melhor serem dois do que um só, porque obterão mais rendimento no seu trabalho. Se um cair, o outro levanta-o. Mas ai do homem que está só: se cair, não há ninguém para o levantar!" (4, 9-10). Portanto, formulo bons votos a fim de que na actual crise mundial nasça a vontade comum de dar vida a uma nova cultura da solidariedade e da participação responsável, condições indispensáveis para construir em conjunto o porvir do nosso planeta.
Queridos amigos, a celebração do 60º aniversário de fundação da vossa organização sindical seja motivo para renovar o entusiasmo dos primórdios e para redescobrir ainda mais o vosso carisma originário. O mundo tem necessidade de pessoas que se dediquem com abnegação à causa do trabalho, no pleno respeito pela dignidade humana e do bem comum. A Igreja, que aprecia o papel fundamental dos sindicatos, está próxima de vós tanto hoje como ontem, e está pronta para vos ajudar, a fim de que possais cumprir da melhor forma o vosso papel na sociedade. Na hodierna festa de São João Bosco, desejo enfim confiar a actividade e os programas do vosso sindicato a este Apóstolo dos jovens, que com grande sensibilidade social fez do trabalho um precioso instrumento de formação e de educação das novas gerações. Além disso, invoco sobre vós e as vossas famílias a salvaguarda de Nossa Senhora e de São José, pai bom e trabalhador perito, que cuidava quotidianamente da família de Nazaré. Quanto a mim, asseguro-vos uma lembrança na oração, enquanto com afecto vos abençoo, a vós aqui presentes, e todos os que estão inscritos na vossa Confederação.
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