Professor despedido por explicar pensamento católico sobre homossexualidade
Um professor de doutrina católica foi expulso da Universidade americana do Illinois por explicar aos alunos por que razão as práticas homossexuais são contrárias à lei natural, como defende a Igreja Católica. O professor certificou-se de estar a medir bem as palavras, concentrando as suas explicações num correio electrónico muito respeitoso. Mas nem assim se livrou da censura.
Desde 2001 que Kenneth Howell leccionava a cadeira de "Introdução ao Catolicismo e ao Pensamento Católico Moderno" na Universidade de Illinois, sendo também director do St. John's Institute of Catholic Thought, um centro de estudos ligado à Universidade, do qual foi igualmente expulso.
Pelos vistos, Howell estava a desempenhar optimamente as suas funções. Mantendo embora algumas divergências com o director do Departamento de Religião da Universidade, Robert McKim, os alunos atribuíram a Howell na página web do centro a classificação de "excelente" pelo trabalho por ele desenvolvido durante o ano lectivo de 2008-2009.
O professor comparou a diferente avaliação moral de práticas homossexuais, conforme se encaram de um ponto de vista utilitarista ou do ponto de vista da lei natural
Neste ano lectivo, Howell arriscou-se a explicar o pensamento católico sobre as práticas homossexuais. Em princípio, não tinha por que supor nenhum risco, pois já todos mais ou menos imaginam o que um professor de doutrina católica irá dizer sobre o assunto. Mas quando no mesmo campus existe um Centro de Recurso para Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais, nunca se sabe o que pode acontecer. Conforme Howell posteriormente explicou, os alunos deste ano eram particularmente combativos. Como a discussão na aula foi muito acalorada, o professor quis esclarecer melhor algumas ideias, com vista ao exame. E decidiu escrever um correio electrónico para os seus alunos.
Como se pode ver pelo mail publicado na News-Gazette.com, o tom de Howell é sereno e respeitoso. Limita-se a comparar a diferente avaliação moral que se pode fazer das práticas homossexuais conforme se encaram de sob um ponto de vista utilitarista (baseado nos resultados) ou sob o ponto de vista da lei natural.
O presidente da Associação Americana de Professores sai em defesa da liberdade de expressão do professor
"A lei natural diz-nos que a moralidade deve ser uma resposta à realidade". Daí se conclui que "as relações sexuais só são admissíveis entre pessoas complementares e não entre pessoas do mesmo sexo".
O argumento de Howell, sofisticado, pode ser mais ou menos convincente. Mas se algo fica claro depois de se ler o seu mail é que não é absolutamente nada ofensivo. Não obstante, um amigo de um aluno de Howell (nenhum dos dois se identifica) escreveu ao director do Departamento de Religião para denunciar o abuso.
Então e a liberdade de cátedra?
No seu mail de protesto, o estudante anónimo explica: "Não sou activista gay, mas consentir numa mensagem de incitação ao ódio numa universidade pública é inteiramente inaceitável. Fico indignado ao constatar que há cidadãos do Illinois a trabalhar arduamente para pagar o lugar a um homem que não faz senão catequizar os seus alunos e alimentar estereótipos (...)".
"Ensinar a um estudante os princípios de uma religião é uma coisa. Mas declarar que os actos homossexuais violam a lei natural é outra coisa muito diferente. Os cursos desta instituição deviam contribuir para o debate público e promover o pensamento crítico, e não limitar a visão pessoal do mundo nem condenar quem tem determinada orientação sexual ao ostracismo".
Howell, que é católico praticante, foi até agora o único a ser votado ao ostracismo. "A minha responsabilidade como professor de doutrina católica é ensinar o que diz a Igreja. Deixo sempre muito, mesmo muito claro aos meus alunos que não têm por que partilhar as minhas ideias e que não vão ser penalizados por isso".
O caso pareceu tão injusto aos olhos de alguns que o reitor da Universidade, Michael J. Hogan, o está presentemente a rever. "O nosso compromisso para com a liberdade de cátedra é firme, mas é importante investigar o que aconteceu em todo o pormenor", declara ele.
Aprender a discordar
Um dos que saíram em defesa de Howell é Cray Nelson, professor emérito da Universidade de Illinois e presidente da Associação Americana de Professores Universitários. "Cada professor é livre de expor os seus pontos de vista e de os defender (...), sempre que dê aos alunos a possibilidade de livremente discordarem e garanta que não irá usar represálias".
O próprio Nelson ensina aos seus alunos que debater assuntos na aula faz parte da sua vida intelectual. "Espero que façam o mesmo quando saírem da Universidade: que sejam capazes de defender uma ideia e de a argumentar bem. A sua contribuição para a democracia poderá deste modo ser mais produtiva.".
O que chama a atenção é o procedimento seguido pelo estudante anónimo. Se de facto queria contribuir para o debate público, poderia ter ido falar com Howell. Ao fim e ao cabo, a referência à lei natural, que este fazia no seu correio electrónico, era um convite a usar a razão e não a fé.
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Juan Meseguer
Aceprensa
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