No Domingo passado, 7 de Dezembro, faleceu uma grande amiga nossa. Fui à Igreja onde estava o corpo para cumprimentar o Marido. Era o meu dever.
Ver o seu cadáver teve um efeito devastador.
A memória de uma situação similar por mim vivida provocou tal de-sassossego e abatimento que estive até de madrugada com um nó no peito num choro incontrolável... enfim, um sofrimento indizível.
Para mais, no dia Oito seria o cinquentenário do meu casamento.
De madrugada, olhando para a televisão - sem de facto ver - algo me chamou a atenção.
Tratava-se de um filme policial em que um homem desesperado e completamente devastado pela perda da esposa na explosão das Tor-res Gémeas, em Nova Iorque, tinha sequestrado várias pessoas exi-gindo uma reparação que no seu perturbado espírito seria a "devolu-ção" da esposa perdida.
Um agente do FBI tinha conseguido introduzir-se no ambiente e aos poucos convencido o pobre homem a libertar todos os reféns.
Estavam os dois sozinhos.
Depois de troca de argumentos o agente diz-lhe:
‘Você pensa que é o único que perdeu alguém nesse fatídico aconte-cimento em que pereceram centenas de pessoas?’
(Foi aqui que comecei a prestar atenção).
‘Quantos casais não perderam um dos cônjuges, pais que ficaram sem filhos, filhos sem pais etc., etc.? O que o torna a si tão especial?’
O homem caiu em si e pouco depois tudo acabava sem mais compli-cações.
Um filme como tantos outros...
Porém, esta parte final foi o "sinal " que eu precisava. Também eu caí em mim considerando que o meu sofrimento não é exclusivo, que não sou ninguém "especial", que devo lembrar-me de tantos que não têm ninguém com quem desabafar, que lhes faça companhia, que estão absolutamente sós!
Então, envergonhado, pedi perdão, fiquei tranquilo e fui deitar-me.
Deus Nosso Senhor envia-nos sinais como quer e entende, até mes-mo num vulgar filme na televisão.
(AMA, Reflexões, 2015.12.10)