Depois do encerramento do Ano da misericórdia (2016), com alcance mundial, começamos o Advento e um novo ano litúrgico. A Igreja anima-nos a acelerar o passo em direção ao Senhor. Uma recomendação sempre atual, mas que, na preparação para o Natal, ganha, se é possível, maior urgência.
Todos temos gravadas na alma umas palavras que, nas próximas semanas, envolvem tudo: veni, Domine, et noli tardare [1], Vem, Senhor, não demores. Convidam-nos a pôr o olhar em Cristo, recordando o Seu nascimento humano em Belém e esperando – também com alegria e paz – a Sua vinda gloriosa, no fim dos tempos. Se faltasse este esforço, talvez as ocupações diárias, o monótono repetir‑se dos dias quase sempre iguais, fizessem do nosso caminhar quotidiano uma existência cinzenta, sem relevo, diminuindo a expectativa do encontro com o Salvador.
Daí o imenso clamor da Igreja: vem, Senhor Jesus! Como S. Bernardo explicava, entre o primeiro e o último Advento, decorre um adventus medius, uma chegada intermédia de Cristo, que ocupa todo o arco da nossa existência. «Esta vinda intermédia é como que um caminho pelo qual se passa da primeira à última vinda: na primeira, Cristo foi a nossa redenção; na última, Ele aparecerá como a nossa vida; nesta, Ele é o nosso descanso e o nosso consolo» [2].
Ao prepararmo-nos para a iminente comemoração do nascimento de Jesus em Belém, estas semanas ajudam-nos a compreender como Deus Se avizinha de nós em cada momento, como nos espera nos sacramentos – especialmente nos da Penitência e da Eucaristia – e também na oração, nas obras de misericórdia. «Desperta. Lembra-te que Deus vem. Não ontem, não amanhã, mas hoje, agora. O único Deus verdadeiro, “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob”, não é um Deus que está no céu, desinteressando-se de nós e da nossa história, mas é o Deus-que‑vem» [3].
Nesta espera, cada dia nos situa mais intensamente junto de Maria e de José, também com Simeão, Ana e todos os justos da Antiga Aliança que ansiavam pela vinda do Messias. Meditemos melhor nessa fome do Senhor – porque as Suas delícias são estar com os filhos dos homens [4] –, que se manifesta na História da Salvação. Como nos esforçamos nós por corresponder? Procuremos, cada vez mais constantemente, voltar o nosso olhar para a Virgem Maria e o Santo Patriarca José: reparemos como aguardavam, com uma paixão maior em cada dia, o nascimento do Filho de Deus. É natural pensar que, durante os meses que antecederam aquele celestial acontecimento, as suas conversas girassem à volta de Jesus. Tornam-se agora muito atuais as palavras do nosso Padre: Acompanha, alegremente, José e Santa Maria... E ficarás a par das tradições da Casa de David.
Ouvirás falar de Isabel e de Zacarias, enternecer-te-ás com o amor puríssimo de José, e baterá com mais força o teu coração, cada vez que pronunciarem o nome do Menino que há-de nascer em Belém... [5]. Sugiro que nos esmeremos, com mais afeto, na oração do Angelus.
[1]. Liturgia das Horas, Primeiras vésperas do 1º. domingo do Advento, Preces.
[2]. S. Bernardo, Discurso 5 sobre o Advento, 1 (Liturgia das Horas, quarta-feira da 1ª Semana do Advento, 2ª leitura).
[3]. Bento XVI, Homilia 2-XII-2006.
[4]. Pr, 8, 31. (Vg).
[5]. S. Josemaria, Santo Rosário, 2º mistério gozoso.
(D. Javier Echevarría excerto da carta do mês de dezembro de 2016)
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