Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

«Dignidade da pessoa e direitos humanos» Homilia Cartagena das Índias

Celebro a última Eucaristia da viagem nesta cidade, que foi chamada «a heróica» pela sua tenácia – há duzentos anos – na defesa da liberdade obtida. E, desde há trinta e dois anos, Cartagena das Índias é também a sede dos Direitos Humanos na Colômbia, porque aqui se valoriza o facto de que, «graças ao grupo missionário formado pelos sacerdotes jesuítas Pedro Claver y Corberó, Alonso de Sandoval e o irmão Nicolás González, acompanhados por muitos filhos da cidade de Cartagena das Índias, no século XVII, nasceu a preocupação por aliviar a situação dos oprimidos de então, especialmente a dos escravos, para quem reclamaram bom tratamento e a liberdade» (Congresso da Colômbia, 1985, Lei 95-art. 1).

Aqui, no Santuário de São Pedro Claver, onde de forma contínua e sistemática se procede à verificação, aprofundamento e promoção dos avanços na vigência dos direitos humanos na Colômbia, a Palavra de Deus hoje fala-nos de perdão, correção, comunidade e oração.

No quarto discurso do Evangelho de Mateus, Jesus fala-nos a nós que decidimos apostar na comunidade, que valorizamos a vida em comum e sonhamos com um projeto que inclua a todos. O texto anterior é o do bom pastor que deixa as noventa e nove ovelhas para ir atrás da perdida, e este aroma perfuma todo o discurso que acabamos de ouvir: não há ninguém tão perdido que não mereça a nossa solicitude, a nossa proximidade e o nosso perdão. Então, a partir desta perspectiva, compreende-se que uma falta, um pecado cometido por alguém nos interpele a todos, mas a primeira pessoa envolvida é a vítima do pecado do irmão; e ela é chamada a tomar a iniciativa para que não se perca quem lhe fez mal. Tomar a iniciativa: quem toma a iniciativa é sempre o mais corajoso.

Nestes dias, ouvi muitos testemunhos de pessoas que saíram ao encontro de quem lhes fizera mal. Feridas terríveis que pude contemplar nos seus próprios corpos, perdas irreparáveis pelas quais se continua a chorar, e contudo aquelas pessoas saíram, deram o primeiro passo num caminho diferente daqueles já percorridos. Porque, há decénios que a Colômbia multiplica as tentativas à procura da paz e, como ensina Jesus, não foi suficiente que duas partes se encontrassem e dialogassem; foi necessário incorporar muitos mais atores neste diálogo reparador dos pecados. «Se [o teu irmão] não te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas» (Mt 18, 16): diz-nos o Senhor no Evangelho.

Aprendemos que estes caminhos de pacificação, de primazia da razão sobre a vingança, de delicada harmonia entre a política e o direito, não podem prescindir das pessoas implicadas nos processos. Não basta o desenho de quadros normativos e acordos institucionais entre grupos políticos ou económicos de boa vontade. Jesus encontra a solução para o dano causado no encontro pessoal entre as partes. Além disso, é sempre enriquecedor incorporar nos nossos processos de paz a experiência de setores que, em muitas ocasiões, foram deixados de lado, para que sejam precisamente as comunidades a revestir os processos de memória coletiva. «O autor principal, o sujeito histórico deste processo, é a gente e a sua cultura, não uma classe, uma fracção, um grupo, uma elite [mas a gente toda e a sua cultura]. Não precisamos de um projecto de poucos para poucos, ou de uma minoria esclarecida ou testemunhal que se aproprie de um sentimento coletivo. Trata-se de um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural» (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 239).

Podemos dar uma grande contribuição para este novo passo que quer dar a Colômbia. Jesus indica-nos que este caminho de reinserção na comunidade começa por um diálogo a dois. Nada poderá substituir este encontro reparador; nenhum processo coletivo dispensa do desafio de nos encontrarmos, de esclarecer, de perdoar. As feridas profundas da história precisam necessariamente de instâncias onde se faça justiça, se dê possibilidade às vítimas de conhecer a verdade, seja devidamente reparado o dano e se atue claramente para evitar que se repitam tais crimes. Mas tudo isto deixa-nos apenas no limiar das exigências cristãs. A nós, cristãos, é-nos exigido gerar «a partir de baixo» uma mudança cultural: à cultura da morte, da violência, responder com a cultura da vida e do encontro. Já no-lo dizia aquele escritor tão querido para vós e tão querido para todos: «Este desastre cultural não se remedeia com chumbo nem com dinheiro, mas com uma educação para a paz, construída com amor sobre as ruínas dum país em chamas onde nos levantamos cedo para continuar a matar-nos uns aos outros... uma revolução legítima de paz que canalize para a vida a imensa energia criativa que, durante quase dois séculos, usamos para nos destruirmos e que reivindique e exalte o predomínio da imaginação» (Gabriel García Márquez, Mensagem sobre a paz, 1998).

Quanto atuamos nós a favor do encontro, da paz? Quanta omissão houve da nossa parte, permitindo que a barbárie se fizesse carne na vida do nosso povo? Jesus manda confrontar-nos com os modelos de comportamento, os estilos de vida que fazem mal ao corpo social, que destroem a comunidade. Quantas vezes se «normalizam» – se vivem como uma coisa normal – processos de violência, exclusão social, sem que a nossa voz se erga nem as nossas mãos acusem profeticamente! Ao lado de São Pedro Claver, havia milhares de cristãos, muitos deles consagrados; mas só um punhado iniciou a cultura contracorrente do encontro. São Pedro soube restaurar a dignidade e a esperança de centenas de milhares de negros e escravos que chegavam em condições absolutamente desumanas, cheios de pavor, com todas as suas esperanças perdidas. Não possuía títulos académicos de renome; chegou-se mesmo a afirmar que era «medíocre» de inteligência, mas teve o «génio» de viver cabalmente o Evangelho, de ir ao encontro daqueles que os outros consideravam apenas um desperdício. Séculos mais tarde, a senda deste missionário e apóstolo da Companhia de Jesus foi seguida por Santa Maria Bernarda Bütler, que dedicou a sua vida ao serviço dos pobres e marginalizados nesta mesma cidade de Cartagena.[1]

No encontro entre nós, descobrimos novamente os nossos direitos, recriamos a vida para voltar a ser verdadeiramente humana. «A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma reta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, dos idosos, das crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números desta ou daquela estatística. A casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão de uma certa sacralidade da natureza criada» (Francisco, Discurso às Nações Unidas, 25/IX/2015).

No Evangelho, Jesus prevê também a possibilidade de o outro se fechar, se negar a mudar, persistir no seu mal. Não podemos negar que há pessoas que persistem em pecados que ferem a convivência e a comunidade: «Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis» (Francisco, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2014, 8). Este mal ameaça diretamente a dignidade da pessoa humana e, gradualmente, rompe a imagem que o Criador moldou em nós. Condeno firmemente esta praga que apagou tantas vidas e que é mantida e sustentada por pessoas sem escrúpulos. Não se pode jogar com a vida do nosso irmão, nem manipular a sua dignidade. Lanço um apelo para que se procurem as formas de pôr fim ao narcotráfico, que para nada mais serve senão para semear morte por todo o lado, destroçando tantas esperanças e destruindo tantas famílias. Penso também noutro drama: «na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas vezes, assume carateres predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se especula indignamente na ilegalidade» (Ibidem, 8); e especula-se até com uma «assética legalidade» pacifista que não tem em conta a carne do irmão, que é a carne de Cristo. Também para isto devemos estar preparados e solidamente fundados em princípios de justiça que, em nada, diminuem a caridade. Não é possível conviver em paz, sem fazer nada contra aquilo que corrompe a vida e atenta contra ela. A propósito, lembramos todos aqueles que, ousada e incansavelmente, trabalharam e até perderam a vida em defesa e proteção dos direitos da pessoa humana e da sua dignidade. Como a eles, a história pede-nos para assumirmos um compromisso definitivo na defesa dos direitos humanos, aqui em Cartagena das Índias, lugar que escolhestes como sede nacional da defesa deles.

Por fim, Jesus pede-nos para rezarmos juntos; que a nossa oração seja sinfónica, com matizes pessoais, acentuações diferentes, mas que se erga de maneira concorde num único grito. Estou certo de que hoje rezamos juntos pelo resgate daqueles que erraram e não pela sua destruição, pela justiça e não pela vingança, pela reparação na verdade e não no seu esquecimento. Rezamos para cumprir o lema desta visita: «Demos o primeiro passo», e que este primeiro passo seja numa direção comum.

«Dar o primeiro passo» é sobretudo ir ao encontro dos outros com Cristo, o Senhor. Ele sempre nos pede para darmos um passo decidido e seguro rumo aos irmãos, renunciando à pretensão de sermos perdoados sem perdoar, de sermos amados sem amar. Se a Colômbia quer uma paz estável e duradoura, deve dar urgentemente um passo nesta direção, que é a do bem comum, da equidade, da justiça, do respeito pela natureza humana e as suas exigências. Só se ajudarmos a desatar os nós da violência, é que desenredaremos a complexa teia dos conflitos: é-nos pedido para darmos o passo do encontro com os irmãos, tendo a coragem duma correção que não quer expulsar mas integrar; é-nos pedido para sermos caridosamente firmes naquilo que não é negociável; em suma, a exigência é construir a paz «falando, não com a língua, mas com as mãos e as obras» (São Pedro Claver), e juntos erguermos os olhos ao céu: Jesus Cristo é capaz de desatar aquilo que nos parecia impossível; Ele prometeu acompanhar-nos até ao fim dos tempos, e não deixará estéril um esforço tão grande.

São Josemaría Escrivá nesta data em 1943

“Estou verdadeiramente esgotado e preciso descansar uns dias, logo que termine o retiro que estou a dar neste momento”, escreve ao Pe. António Rodilla, de Madrid onde está a pregar um retiro. Meses depois, anota: “Como é claro para mim que, de um modo especial na Obra, ser sacerdote é estar continuamente na Cruz!”.

A guerra das escolas em África

Como as antigas colónias inglesas de África não seguem o calendário escolar da Europa, pude aproveitar o mês de Agosto para visitar várias escolas em funcionamento. Ao entrar numa escola do Uganda, a primeira impressão é ter chegado ao império britânico. Cada estabelecimento de ensino tem uma farda própria, que geralmente inclui saia para as raparigas e gravata para os rapazes. Crianças ou «teenagers», ninguém escapa. O espaço abunda e, no Uganda, a mais de mil metros de altura, os relvados são verdejantes: de repente, a pessoa imagina-se em Inglaterra. Em contraste, os edifícios são muitas vezes rudimentares, as paredes têm um acabamento mínimo, o chão é térreo ou com uma camada singela de cimento.

Melhor que visitar escolas, foi falar com o Prof. Charles Sotz. Tive a sorte de o apanhar de férias no Uganda e aproveitei a oportunidade para me informar sobre o sistema educativo das antigas colónias inglesas de África. Sotz é um queniano com raízes argentinas e checas, apaixonado pelo ensino e pelo desenvolvimento social, é dos que mais sabe de educação nestes países. Foi ele quem me apresentou as escolas privadas para pobres, sobretudo no ensino básico.

O fenómeno tem raízes antigas, mas acelerou na última década. Por exemplo, em 2005, havia quase uma centena de escolas estatais na província de Mombasa e um número equivalente de escolas não estatais. Em 10 anos, a procura das escolas estatais manteve-se e a das outras escolas triplicou. Na província de Nairobi, a proporção actual já é de 4 escolas privadas por cada escola estatal. No «ranking» dos exames nacionais de 2005, a melhor escola estatal da província de Mombasa estava em 23º lugar, actualmente, a melhor escola estatal está em 94º lugar.

As comparações económicas são difíceis de estabelecer, porque o custo de vida é muito diferente do da Europa, mas podemos confrontar as escolas entre si. As propinas de algumas escolas privadas custam 14 euros por mês, mas na maioria a propina é de 7 euros por mês, durante 10 meses. Ao lado, o Estado gasta mensalmente cerca de 35 euros por aluno nas escolas estatais.

Esta disparidade de custo e sobretudo de eficácia tem muitas explicações. A mais óbvia é que as instalações das escolas não estatais são realmente muito deficientes, os salários são muito inferiores aos dos funcionários públicos e geralmente os professores das escolas não estatais têm piores qualificações formais. Isto explica a diferença entre o que os pais pagam nas escolas privadas e o que o Estado gasta por aluno nas escolas estatais.

A parte interessante, e que mais ocupou as minhas conversas com Sotz, foi a razão de as escolas privadas serem tão assinaladamente melhores.

Em primeiro lugar, Sotz verificou uma diferença abissal entre a motivação dos professores, pais e alunos. No Estado, os pais não conseguem contactar com os professores e os professores não estão dispostos a sacrificar-se pelos alunos. No ensino privado, os alunos são mais responsáveis, trabalham mais e sabem o que estão a fazer na escola.

Outra observação estatística que me deixou a pensar é que não há correlação entre a qualidade dos edifícios e o nível de aprendizagem dos alunos. Se a escola não tem instalações desportivas, os alunos jogam ao ar livre; se as salas são velhas e desconfortáveis, isso não afecta o rendimento escolar. As qualificações formais dos professores também não têm relação estatística com os resultados dos alunos: um professor trabalhador e exigente é muito melhor que um diplomado em pedagogia, com uma atitude pouco generosa.

Os sindicatos dos professores das escolas estatais opõem-se ferozmente à existência de escolas livres e têm forçado o Governo a tomar medidas restritivas, tais como exigir melhores equipamentos e professores mais qualificados. Os pais reagem, porque essas medidas aumentam os custos e, se a propina aumentar acima de 7 euros por mês, as famílias mais pobres têm de colocar os filhos nas escolas do Estado. Criando mais exigências, o Governo já conseguiu fechar várias escolas privadas. (Onde é que eu já vi isto?). O surpreendente, explicou-me Sotz, é que essas escolas continuam a funcionar. Como?!

– Os pais têm lá os filhos durante todo o ano lectivo e, no final, inscrevem-nos numa escola do Estado, para eles fazerem os exames nacionais.

– E as escolas estatais aceitam esses paraquedistas?!...

– Sim, porque esses alunos têm melhor preparação que os das escolas do Estado e fazem-nas subir no «ranking».

O mundo é tão diferente, de país para país! E tão igual, nalgumas coisas! Os sindicatos dos professores de África insistem em que os «rankings» dão cabo da qualidade das escolas.
José Maria C.S. André
Spe Deus
11-IX-2016

O Evangelho do dia 11 de setembro de 2017

Aconteceu que, noutro sábado, entrou Jesus na sinagoga e ensinava. Estava ali um homem que tinha a mão direita atrofiada. Os escribas e os fariseus observavam-n'O para ver se curava ao sábado, a fim de terem de que O acusar. Mas Ele conhecia os seus pensamentos, e disse ao homem que tinha a mão atrofiada: «Levanta-te e põe-te em pé no meio». Ele, levantando-se, pôs-se de pé. Jesus disse-lhes: «Pergunto-vos se é lícito, aos sábados, fazer bem ou mal, salvar a vida ou tirá-la». Depois, percorrendo a todos com o olhar, disse ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e a sua mão ficou curada. Eles encheram-se de furor e falavam uns com os outros para ver que fariam contra Jesus.

Lc 6, 6-11