Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O demónio existe?

O Antigo Testamento fala dos demónios; o confronto deles com Jesus atingiu proporções épicas; a Igreja também nunca teve dúvidas acerca da existência de demónios. O que talvez seja novidade é a frequência com que o actual Papa fala da acção tenebrosa destes espíritos da insídia, da divisão e da morte. Nesta quinta-feira, 24 de Junho, assistimos a mais um acontecimento difícil de explicar se não tivermos em conta esta realidade poderosa.


Na segunda sessão de votações do Parlamento Europeu, ao princípio da tarde, aconteceu o seguinte: 14 deputados faltaram a toda a sessão. 16 dos deputados presentes, quando chegou o momento de se pronunciarem sobre a Resolução A9-0169/2021, saíram para tomar café e voltaram 1 minuto depois da votação. 42 deputados abstiveram-se, 255 tiveram a honra de votar contra e 378 deputados aceitaram a resolução.


Esta resolução, intitulada «dos direitos sexuais e da saúde reprodutiva», é apenas um parecer sem valor legal mas é um teste de força. Fundamentalmente, mostra que metade dos deputados europeus é favorável ao aborto e defende medidas contra quem respeita a vida humana.


A linguagem da resolução é característica de sociedades em que uma ideologia controla a comunicação social com pouca oposição. Só neste ambiente de unanimidade artificial é possível embrulhar as realidades mais duras em tanto eufemismo: matar o bebé nascituro é «tratar da saúde», o direito de o matar é um «direito humano» e, mais retorcido ainda, condenam-se os médicos e enfermeiros que não aceitam colaborar com este «direito humano».


Numa sociedade verdadeiramente livre ninguém se atreveria a dizer que a gravidez é uma doença que precise de ser «curada» matando o bebé.


Cidadãos capazes de pensar por sua conta nunca inventariam esse «direito humano» que vai contra a Declaração Universal dos Direitos do Homem e não está contemplado em nenhum tratado internacional de direitos humanos: nem no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, nem na Convenção Europeia dos Direitos do Homem, nem na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.


Se não fosse o peso opressivo de uma corrente ideológica, ninguém levantaria o dedo contra a liberdade de consciência, consagrada na Declaração Universal dos Direitos do Homem, no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, na Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia e — já agora — tão oportunamente defendida na Constituição da República Portuguesa.


Um artigo recente de José Diogo Ferreira Martins e Inês Quadros (https://observador.pt/opiniao/totalitarismo-vs-objecao-de-consciencia/) expõe com clareza os termos da questão.


A Resolução do Parlamento Europeu não é lei, mas dá-nos o retrato de uma Europa triste, de pensamento limitado, de cultura decadente.


Por estes mesmos dias, o Parlamento húngaro associou a pedofilia e a homossexualidade, para proteger as crianças desta propaganda. É um facto que a pedofilia tem relação com a homossexualidade, no sentido de que a pedofilia é mais frequente entre as pessoas com tendência homossexual, geralmente homens, mas trata-se de coisas diferentes e era escusado associá-las directamente. No entanto, não era preciso aproveitar a ocasião para fustigar destemperadamente a Hungria, em homenagem subserviente à ideologia dominante. Porque atacar húngaros não é sinal de grande coragem.


Em Portugal, os deputados preparam-se para voltar à eutanásia e aprovaram uma lei que confere ao Estado o encargo de controlar o que os cidadãos pensam. O que é a censura?


A Itália que impor, em especial às crianças, um pensamento alinhado com a nova ideologia sexual. O Vaticano lembrou formalmente ao Governo italiano que a liberdade de pensamento está consagrada na Concordata entre a Itália e o Vaticano. Tanto bastou para que muitos meios de comunicação europeus classificassem a Igreja de inimiga dos direitos humanos!


Estes apontamentos soltos dos tempos que correm explicam-se sem a acção perversa do demónio?

José Maria C.S. André

sábado, 12 de junho de 2021

Imaculado Coração da Virgem Santa Maria


A festa litúrgica do Coração de Maria passou por muitas vicissitudes. De acordo com a história, houve primeiramente uma devoção privada ininterrupta, que não chegou a formas públicas oficiais.

Efetivamente, a primeira festa litúrgica do Coração de Maria foi celebrada a 8 de Fevereiro de 1648, na diocese de Autun (França). Em 1864, alguns bispos pedem ao Papa a consagração do mundo ao Coração de Maria, aduzindo como justificativa e motivo a realeza de Maria. O pedido decisivo partiu de Fátima e do episcopado português. Inesperadamente, a 31 de Outubro de 1942, Pio XII, na sua mensagem radiofónica em português, consagrava o mundo ao Coração de Maria. O Papa Paulo VI, a 21 de Novembro de 1964, ao encerrar a terceira sessão do Concílio Vaticano II, renovava, na presença dos padres conciliares, a consagração ao Coração de Maria feita por Pio XII. Mais recentemente, João Paulo II, no fim de sua primeira encíclica, “Redemptor Hominis” (4 de Março de 1979), escreveu um significativo texto sobre o Coração de Maria. Ao tratar do mistério da redenção diz o Papa: “Este mistério formou-se, podemos dizer, no coração da Virgem de Nazaré, quando pronunciou o seu “fiat”. A partir de tal momento, este coração virginal e ao mesmo tempo materno, sob a ação particular do Espírito Santo, acompanha sempre a obra do seu Filho e dirige-se a todos os que Cristo abraçou e abraça continuamente no seu inesgotável amor. E por isso este coração deve ser também maternalmente inesgotável. A característica deste amor materno, que a mãe de Deus incute no mistério da redenção e na vida da Igreja, encontra sua expressão na sua singular proximidade do homem e de todas as suas vicissitudes. Nisso consiste o mistério da mãe”.

A Exortação Apostólica “Marialis cultus” (2/2/1974), do Papa Paulo VI inclui a memória do Coração Imaculado da bem-aventurada Virgem Maria entre as “memórias ou festas que ... expressam orientações surgidas na piedade contemporânea”, colocando-a no dia seguinte à solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus.

Essa aproximação das duas festas (Sacratíssimo Coração de Jesus e Imaculado Coração de Maria) faz-nos voltar à origem histórica da devoção: na verdade, São João Eudes, nos seus escritos, jamais separa os dois corações. Aliás, durante nove meses, a vida do Filho de Deus feito carne pulsou seguindo o mesmo ritmo da vida do coração de Maria. Mas os textos próprios da missa do dia destacam mais a beleza espiritual do coração da primeira discípula de Cristo.

Ela, na verdade, trouxe Jesus mais no coração do que no ventre; gerou-o mais com a fé do que com a carne! De acordo com textos bíblicos, Maria escutava e meditava no seu coração a palavra do Senhor, que era para ela como um pão que nutria o íntimo, como que uma água borbulhante que irriga um terreno fecundo. Neste contexto, aparece a fase dinâmica da fé de Maria: recordar para aprofundar, confrontar para encarnar, refletir para atualizar.

Maria nos ensina como hospedar Deus, como nutrir-nos com o seu Verbo, como viver tentando saciar a fome e a sede que temos dele. Maria tornou-se, assim, o protótipo dos que escutam a palavra de Deus e dela fazem o seu tesouro; o modelo perfeito dos que na Igreja devem descobrir, por meio de meditação profunda, o hoje desta mensagem divina. Imitar Maria nesta sua atitude quer dizer permanecer sempre atentos aos sinais do tempos, isto é, ao que de estranho e de novo Deus vai realizando na história por trás das aparências da normalidade; em uma palavra, quer dizer refletir, com o coração de Maria, sobre os acontecimentos da vida quotidiana, destes tirando, como ela o fazia, conclusões de fé.

cf. Dicionário de Mariologia, 1995 - Editora Paulus

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Três santas, El Patas & Co.

Há poucos dias (29 de Maio), a Igreja beatificou três enfermeiras espanholas mártires, Olga Pérez (23 anos), María Pilar Gullón (25 anos) e Octavia Iglesias (41 anos).


As três, solteiras, trabalhavam num pequeno hospital em Somiedo, nas Astúrias, e participavam activamente na vida da igreja: eram catequísticas, visitavam os pobres, etc. No dia 27 de Outubro de 1936, quando o exército vermelho invadiu Somiedo, as três enfermeiras não quiseram abandonar os doentes do hospital. Os milicianos vermelhos irromperam no edifício, fuzilaram os doentes e levaram o médico, o restante pessoal e as três enfermeiras algemados ao comandante, conhecido como o «El Patas». Os populares que viram o cortejo contam que foram 8 quilómetros muito duros para os prisioneiros. O capelão do hospital e o médico foram logo assassinados e os seus cadáveres expostos em público, mas o «El Patas» propôs-se libertar as três enfermeiras se deixassem de ser católicas e se juntassem ao partido. As raparigas recusaram a proposta e o «El Patas» deu ordem aos milicianos para abusarem delas à vontade.


Os soldados violaram-nas e torturaram-nas toda a noite. A gritaria foi tanta que o «El Patas» pôs carroças de bois a circular nas ruas à volta da casa para fazerem barulho. Apesar da violência, as raparigas mantiveram-se leais a Deus. Rezavam elas e gritavam, e gritavam também os soldados fora de si, enquanto os bois mugiam lá fora e as carroças chiavam pelas ruas desertas. Numa das carroças a ranger jazia o cadáver do capelão do hospital, que durante o dia tinha sido exibido a toda a povoação juntamente com o cadáver do médico e, chegada a noite, fora deixado em cima da carroça, talvez por esquecimento.


No dia seguinte, ao meio-dia, exaustos uns e outros, levaram as três enfermeiras despidas para um descampado para serem fuziladas atadas a dois homens. As mulheres milicianas que trataram do assunto despacharam primeiro os homens e depois as três enfermeiras, que morreram louvando a Deus e perdoando as assassinas.


Depois do fuzilamento, os milicianos profanaram os cadáveres, arrastaram-nos pelo chão e deixaram-nos a apodrecer ao ar livre até à noite. Já escuro, obrigaram alguns aldeões a cavar um buraco e a colocá-las lá, já vestidas com a sua farda de enfermeiras.


Estas circunstâncias conhecem-se porque, no final da guerra civil, o «El Patas» contou o que tinha acontecido e alguns habitantes da povoação também prestaram testemunho. Entre as muitas pessoas mortas pelas «milícias republicanas» naqueles dias, a população guardou especial memória destas três raparigas de modo que, acabada a guerra civil, convenceram o bispo a levar os corpos delas para a catedral, em Astorga.


Hoje, em tempos mais pacíficos, é difícil conceber tanto ódio desvairado, mas de acordo com os princípios marxistas a vida humana não vale nada e o ambiente daquele tempo, exacerbado pela crueldade da guerra civil, fez da loucura um padrão habitual. Sem nenhum intuito de reavivar ódios velhos ou de pedir vingança, o Papa Francisco considerou que nos fazia bem a todos recordar estas três enfermeiras, que amaram a Deus com tal generosidade e deram a vida por Ele. Por isso mandou que fossem beatificadas no passado dia 29 de Maio de 2021.


Embora já tenham decorrido 85 anos desde o martírio e as actuais correntes de inspiração marxista estejam mais apostadas em promover o aborto e a eutanásia do que em combater os cristãos, ainda há sectores que não conseguem olhar com serenidade para estes exemplos de virtude. Em Espanha e em Itália, só os meios de comunicação católicos transmitiram a cerimónia de beatificação ou deram a notícia. No resto do mundo, as agências noticiosas mais importantes omitiram o assunto. Tanto quanto sei, em Portugal ninguém se apercebeu da decisão do Papa ou transmitiu a cerimónia da beatificação.


A perseguição religiosa antes e durante a guerra civil espanhola deu origem a numerosos mártires, dos quais já foram beatificados e canonizados vários milhares. São exemplos edificantes de gente comum, muitas vezes crianças e mulheres, que postas perante uma situação extrema puseram Deus em primeiro lugar. É pena que estas histórias não sejam mais conhecidas. E o catálogo é abundante, porque já foram beatificadas e canonizadas milhares de mártires deste período de perseguição religiosa em Espanha.


Cada uma destas histórias é motivo para nos perguntarmos como teríamos reagido e como actuamos hoje no dia-a-dia. Guardamos rancor? Rezamos pelos outros, por mais desvairados que sejam? Olhamos para eles com simpatia? Somos leais e justos?

José Maria C.S. André

terça-feira, 8 de junho de 2021

Pensamentos e emoções

A dimensão afectiva é tão real e importante como a intelectual e a corporal e, como estas duas, necessita de ser cuidada e educada.

Notamos isto, de um modo especial, no meio da crise gerada pela pandemia de covid 19, que fez aumentar os níveis de angústia, segundo a OMS, para valores muito mais altos do que os que são habituais.

Como gerir a angústia?

É evidente que, em algumas ocasiões, será necessário recorrer a um médico especialista. Mas isso não é sempre assim.

Um cristão sabe que não está sozinho nesta luta e conta sempre com a ajuda de Deus, que é Pai e nos ama infinitamente. A oração (diálogo confiado com Deus) é essencial para não cair nas garras dessa aflição acompanhada de tristeza a que chamamos angústia.  

Mas, ao mesmo tempo, é o próprio Deus que nos pede que nos esforcemos de verdade – contando com a Sua graça – por gerir as emoções que, obrigatoriamente, se apresentarão na nossa vida.

Gerir as emoções é uma “ginástica” que todos devemos praticar. E não convém esquecer um dado bastante óbvio da sabedoria popular: todas as emoções são precedidas de pensamentos.

Por isso, é primordial perguntarmo-nos sinceramente por onde andam habitualmente os nossos pensamentos. Se é verdade que não possuímos um domínio directo sobre o nosso mundo interior, também é verdade que necessitamos de aprender a geri-lo com “inteligência”.

Quem sabe dirigir os seus pensamentos a Deus e ao próximo por amor a Deus, evita uma quantidade enorme de angústias interiores que acontecem porque, como dizia Santa Teresa, não se domina “a louca da casa” (assim chamava ela à imaginação descontrolada).

Uma condição fundamental da nossa autoeducação afectiva é meditar com calma em que só gerimos bem as emoções quando não permitimos que os pensamentos vagueiem sem rumo, como se isso não tivesse nenhuma influência no nosso equilíbrio interior. 

Pe. Rodrigo Lynce de Faria

terça-feira, 1 de junho de 2021

Oração

Desde que a humanidade existe, as pessoas rezam. Sempre e em toda a parte têm tido consciência de não estarem sós no mundo, de que há Alguém que as escuta.

Sempre têm tido consciência de precisarem de um Outro que é maior do que elas, e de que precisam esforçar-se por alcançá-lo se quiserem que a sua vida seja o que deve ser.

Mas o rosto de Deus sempre esteve velado, e só Jesus nos mostrou a sua verdadeira face: quem o vê, vê o Pai (cfr. Jo 14, 9).

Se, por um lado, é natural que rezemos (que peçamos no momento da necessidade e agradeçamos no momento da alegria), por outro experimentamos também a nossa incapacidade de orar e de falar com um Deus oculto: Não sabemos pedir o que nos convém, diz São Paulo (Rom 8, 26). Portanto, sempre deveríamos dizer ao Senhor, como os discípulos: Senhor, ensina-nos a orar (Lc 11, 1).

O Senhor ensinou-nos o Pai-Nosso como modelo de autêntica oração, e deu-nos uma Mãe, a Igreja, que nos ajuda a rezar. A Igreja recebeu um enorme tesouro de orações da Sagrada Escritura, e ao longo dos séculos surgiram também, dos corações dos fiéis, inúmeras orações que nos permitem renovar sempre o modo como nos dirigimos a Deus. Rezando com a nossa Mãe, a Igreja, aprendemos a rezar.

(Cardeal Joseph Ratzinger em Introdução a ‘Chi prega se salva’, 30 Giomi, Roma, 18.02.2005)