O documento de trabalho (instrumentum laboris) da assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro, alertou para o risco de uma “mentalidade reivindicativa” em relação aos sacramentos.
“Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa condição irregular”, refere o texto, apresentado hoje pelo Vaticano.
Na preparação para este Sínodo, foi enviado às conferências episcopais de todo o mundo um questionário com 38 perguntas para promover uma consulta alargada às comunidades católicas sobre as principais questões ligadas à família e ao casamento.
As respostas são agora condensadas neste documento de trabalho, que dedica uma atenção particular à questão do acesso à Comunhão pelos divorciados e aos casos de nulidade matrimonial.
“O sofrimento causado pela não receção dos sacramentos está claramente presente nos batizados que estão conscientes da própria situação. Muitos sentem-se frustrados e marginalizados”, pode ler-se.
Por outro lado, no entanto, há muitos que “consideram com menosprezo a própria situação irregular” e não fazem “qualquer pedido de admissão à Comunhão eucarística” ou ao sacramento da Reconciliação.
“A misericórdia de Deus não provê a uma cobertura temporária do nosso mal, mas abre radicalmente a vida à reconciliação, conferindo-lhe renovada confiança e serenidade, mediante uma verdadeira renovação”, pode ler-se.
O próximo Sínodo tem como tema os “desafios pastorais sobre a família” e será seguido por uma assembleia ordinária em 2015; só após a conclusão destes dois momentos serão apresentadas propostas ao Papa, a partir das quais poderá redigir uma exortação apostólica.
O ‘instrumentum laboris’ fala na “caridade pastoral” que leva a Igreja a acompanhar as pessoas que passaram por uma “falência matrimonial” e admite que “uma ferida mais dolorosa” se abre para as pessoas que se voltam a casar, “entrando numa condição de vida que não lhes permite o acesso à Comunhão”.
“Nestes casos a Igreja não deve assumir a atitude de juiz que condena, mas a de uma mãe que acolhe sempre os seus filhos e cuida das suas feridas em vista da cura”, realça o texto, no qual se pede “mais atenção aos separados e aos divorciados não recasados, fiéis ao vínculo nupcial”.
Nas respostas que chegaram ao Vaticano recorda-se a prática de determinadas Igrejas ortodoxas que “abre o caminho para um segundo ou terceiro matrimónio, com caráter penitencial”, mas o documento de trabalho insiste, sobretudo, na importância de verificar a “eventual nulidade matrimonial”.
“Muitos apresentam pedidos relativos à simplificação: processo canónico facilitado e mais rápido; concessão de maior autoridade ao bispo local; maior acesso de leigos como juízes; e redução do custo económico do processo”, precisa-se.
Segundo o texto divulgado pela Santa Sé, existe “um amplo pedido de simplificação da prática canónica das causas matrimoniais”, no que diz respeito à declaração de nulidade.
Nas respostas e nas observações, “tendo em consideração a vastidão do problema pastoral das falências matrimoniais”, pergunta-se se é possível “fazer face ao mesmo unicamente por via processual judicial” e “apresenta-se a proposta de empreender um percurso administrativo”.
A terceira assembleia extraordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer no Vaticano entre os dias 5 e 19 de outubro.
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