O único país no mundo que perde, e aplaude, o seu ministro das Finanças ao entrar em crise. O único país no mundo que prefere debater ameaças anónimas, infelizmente longe de serem novidade, à barbárie do abandono e da fome dos seus mais velhos. O único país em que um "ativista" que admitiu usar a raça como "arma para a luta" insulta a polícia e depois lhe pede escolta, em jeito de humilhação, e ainda é elevado a vítima pelo regime. O mesmo ativista "anti-racista" que não diz uma palavra sobre a ditadura a quem os embaixadores de países africanos tiveram de pedir, há escassos meses, que parasse com o racismo durante a pandemia: a China. O único país no mundo que celebrou a vinda de um torneio de futebol a que ninguém foi, poucos vieram ou por cá viram, enquanto as filas para ajuda aos sem-abrigo triplicaram. O país que falou mais de um crowd-funding que do descarrilamento de um comboio. O país que se riu do "drink" enquanto se morria de desidratação nos lares. O país em que as críticas a um partido anti-democrático se resumem a um festival de música. O país em que para haver mais turistas se fazem menos testes e em que para não haver mentiras se deixam de fazer perguntas.
O país que à beira do precipício finge que está tudo bem, como se isso fosse mudar alguma coisa e as narrativas enchessem estômagos. O país que fala mais de um deputado único que do secretário de Estado que usou um vírus para dar contratos a amigos – e que continua em funções. O país em que um futebolista uruguaio e o livro de um italiano abriram mais jornais e deram assunto a mais opiniões que a maior queda económica em meio século. O país em que vamos de euro-bravos a euro-mendigos consoante o dia da semana. O país em que a ambição da recuperação rapidamente virou um sonho de esquemas. O país em que os líderes dos dois maiores partidos fazem acordos e nomeações por SMS, sem partidos, parlamento ou debate, e se batem palmas. O país em que a moderação passou a crime e a discordância a risco. O país em que as polémicas são prioridade e as tragédias lixo.
Não vai ficar "tudo bem" enquanto não se assumir que está quase tudo mal. E não haverá "milagre" nenhum enquanto não houver algo de verdadeiro em que acreditar.
Se a democracia morre na escuridão, e morre, alguém apagou a luz.
Sebastião R. Bugalho no Facebook