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sábado, 27 de setembro de 2014
«João veio até vós, ensinando-vos o caminho da justiça, e não acreditastes nele»
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 167; CCL 248, 1025, PL 52, 636
João Baptista ensina com palavras e actos. Verdadeiro mestre, mostra pelo seu exemplo aquilo que afirma com a sua palavra. O saber faz o mestre, mas é a conduta que confere autoridade. [...] Ensinar pelos actos é a única regra daquele que quer instruir. A instrução pelas palavras é sabedoria; mas quando passa pelos actos é virtude. Por conseguinte, a sabedoria é autêntica quando unida à virtude: só então é divina e não humana. [...]
«Naqueles dias, apareceu João, o Baptista, a pregar no deserto da Judeia. Dizia: 'Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu'» (Mt 3,1-2). «Convertei-vos.» Porque não diz: «Rejubilai»? «Rejubilai antes porque as realidades humanas dão lugar às realidades divinas, as terrestres às celestiais, as temporais às eternas, o mal ao bem, a incerteza à segurança, a tristeza à felicidade, as realidades perecíveis às que permanecerão para sempre. O Reino dos céus está muito próximo. Convertei-vos.» Que a tua conduta de convertido seja evidente. Tu que preferiste o humano ao divino, que quiseste ser escravo do mundo em vez de vencedor do mundo com o Senhor do mundo, converte-te. Tu que fugiste da liberdade que as virtudes conferem porque quiseste sofrer o jugo do pecado, converte-te; converte-te verdadeiramente, tu que, por medo de possuir a Vida, te entregaste à morte.
O Evangelho de Domingo dia 28 de setembro de 2014
«Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Aproximando-se do primeiro, disse-lhe: “Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha”. Ele respondeu: “Não quero”. Mas, depois, arrependeu-se e foi. Dirigindo-se em seguida ao outro, falou-lhe do mesmo modo. E ele respondeu: “Eu vou, senhor”, mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?». Eles responderam: «O primeiro». Disse-lhes Jesus: «Na verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes vos precederão no reino de Deus. Porque veio a vós João pelo caminho da justiça, e não crestes nele; e os publicanos e as meretrizes creram nele. E vós, vendo isto, nem assim fizestes penitência depois, crendo nele.
Mt 21, 28-32
Um santo normal
É hoje beatificado, em Madrid, o bispo D. Álvaro del Portillo, primeiro prelado do Opus Dei: um santo que era surpreendentemente pouco surpreendente.
Finalmente, um santo normal! Não é que os outros sejam anormais mas, com frequência, são figuras tão gigantescas que, na realidade, não servem de modelo para quem é, apenas, um fulano qualquer.
Com efeito, quem se atreve a comparar-se com Francisco de Assis, Teresa de Jesus ou Inácio de Loyola? São todos grandes vultos da história da Igreja e da humanidade, fundadores de novos caminhos de santidade e de apostolado, semelhantes, em importância histórica, aos grandes heróis. Gente magnífica, sem dúvida, que não pode servir de referência para quem é apenas um fiel igual a tantos outros, um mero cidadão comum.
Desses tais foi também São Josemaria Escrivá de Balaguer, fundador do Opus Dei. O Papa Paulo VI, que vai ser beatificado em Outubro próximo e que o conheceu pessoalmente, disse que São Josemaria foi uma das pessoas que recebeu mais graças de Deus e que a elas melhor correspondeu. Ou seja, um dos maiores santos da Igreja. Foi também um precursor do Concílio Vaticano II, a que profeticamente se antecipou, difundindo, a partir de 1928, o chamamento universal à plenitude da vida cristã. Mas já não o foi D. Álvaro del Portillo, primeiro sucessor de Escrivá e primeiro bispo prelado do Opus Dei, que hoje mesmo, 27 de Setembro de 2014, é beatificado em Madrid.
É verdade que os Evangelhos, quando se referem aos primeiros santos, falam da amorosa prontidão da sua resposta afirmativa a Cristo. Mas falam também das dúvidas de fé de Tomé; dos sete demónios de que Madalena esteve possessa; do carreirismo dos intempestivos filhos de Zebedeu, João e Tiago; da néscia impertinência de Filipe; da censurável impaciência de Marta; e, até, da tripla negação de Pedro. Quando chegou a hora da paixão e morte de Cristo, todos fugiram cobardemente, com a única excepção do discípulo adolescente que, com Maria e algumas santas mulheres, permaneceu firme aos pés da Cruz do Senhor.
Álvaro del Portillo era, surpreendentemente, pouco surpreendente. Nos três anos em que com ele convivi, em Roma, não lhe recordo nenhuma genialidade, nenhuma reacção espantosa, nenhum dito absolutamente original, nenhuma acção invulgar. Pelo contrário, parecia ser muito normal para quem era, afinal, o primeiro sucessor de uma figura tão carismática como Escrivá. Mas, sem deixar de ser normal, nunca foi uma pessoa banal. Havia nele, em grau superlativo, o que se pede aos cristãos do Opus Dei: o heroísmo escondido do cumprimento habitual do próprio dever, a inteligência arguta de uma profunda sabedoria cristã, a grandeza discreta da verdadeira caridade, a bondade serena de um coração transbordante de amor a Deus. E, sobretudo, uma imensa afabilidade: um cardeal, que o conhecia, disse que falava sorrindo e sorria falando.
Apesar dos seus pesares, os apóstolos não eram banais. Havia neles a presença de um desígnio sobrenatural a que todos foram fiéis, salvo Judas Iscariotes. Graças a essa sua correspondência, são estrelas do firmamento eclesial, luzes que iluminam o mundo, não obstante a sua bendita normalidade.
Muitas pessoas, ainda que alheias ao Opus Dei, sentem pelo Beato Álvaro del Portillo uma devoção filial. Alguns pais e mães são extraordinariamente heróicos mas, na sua grande maioria, são pessoas simples, discretos protagonistas das alegrias e tristezas da vida familiar. Não há aplauso público para este tipo de heróis, mas não há filho, por ingrato que seja, que não canonize, no altar do seu coração, o santo amor de seus pais.
Talvez o bem-aventurado Álvaro del Portillo não tenha feito nada de muito extraordinário, mas cumpriu heroicamente bem a sua missão. Foi, como Maria, a única criatura que é santíssima, um santo extraordinariamente normal!
P. Gonçalo Portocarrero de Almada in 'i' online AQUI
Álvaro del Portillo, um engenheiro civil nos altares (no 1º aniversário da sua beatificação)
A pessoa que a Igreja Católica vai beatificar no próximo sábado em Madrid chama-se Álvaro del Portillo e era engenheiro civil.
Na verdade, também foi outras coisas, e bem relevantes: um dos primeiros padres do Opus Dei; bispo aos 76 anos; o colaborador mais próximo de S. Josemaria; colaborador do Concílio Vaticano II de 1959 a 1965 e da Cúria Romana até ao fim da vida; sucessor do fundador à frente do Opus Dei e por isso, conhecedor da grande diversidade da Igreja espalhada pelo mundo; amigo próximo de S. João Paulo II.
Era pessoa afável e cálida, com quem dá vontade de estar. Via as coisas com bondade, e dava paz. Era também realista, e de ingénuo não tinha nada. É ele que a Igreja vai beatificar.
Mas a Igreja beatifica os homens para se focar em Deus e não nos homens, pois, afinal, é Deus o grande “responsável” pelo que aconteceu na vida do santo.
Então, para quê conhecer a vida concreta dos santos? Para tropeçarmos nalguma dessas vidas e aí nos revermos. E para nunca mais voltarmos à velha falácia: “eu gostava de ser santo, mas não há condições”. Falso!: mentira disfarçada de humildade. Deus cruzou-se, e cruza-se, hoje, na minha vida, na tua vida, na vida de todos.
Isto é: a “santidade” não é coisa de laboratório, tubos de ensaio e luvas esterilizadas. É sempre drama da vida real, romance de graça e desgraça, queda e perdão, cair e levantar, começar e recomeçar.
Por isso, hoje gostava de falar de Álvaro del Portillo e em concreto: era engenheiro civil. Mas antes devo fazer a costumada “declaração de interesses”: também eu sou engenheiro civil. Dito isto, e apesar disto, creio que há razões importantes para o fazer.
Álvaro del Portillo foi engenheiro civil por insistência, até ao máximo, e por carácter. Explico.
Foi engenheiro civil por insistência. Teve de adiar o começo da licenciatura, para ajudar a sustentar a família trabalhando como técnico de obras públicas. Terminou já com 27 anos, pois, além disso, deu-se a terrível Guerra Civil em Espanha, e dedicava-se, apesar de tão jovem, a ajudar S. Josemaria. Em suma, teve de querer muito para ir até ao fim.
Foi engenheiro civil até ao máximo. Cada vez mais ligado ao fundador, aos 30 anos foi ordenado padre e, como seria previsível, deixou a engenharia como actividade profissional. Porém, assim que soube do início dos doutoramentos nas escolas superiores técnicas, candidatou-se com um projecto sobre a modernização de uma ponte metálica, e foi aprovado em 1965. Tinha 51 anos. Só que, desde 1959, colaborava assiduamente em várias comissões do Vaticano II. Ou seja: quis completar a sua formação técnica, sugando os restos de tempo disponível.
Foi engenheiro civil por carácter. Olhava a vida como engenheiro. Desenhava bem. Era prático, organizado, programava com realismo os objectivos e ponderava possibilidades. Recorria instintivamente a metáforas com pontes, equações, coeficientes, planos, mapas e tecnologia. O jornalista Vittorio Messori testemunha-o assim: “Dava mais vontade de nos confessarmos com ele do que fazer-lhe perguntas. Notava-se que tinha sido engenheiro, perito em pontes e estradas. Atrás do hábito de bispo era perceptível um homem do mundo”.
Aqui é preciso parar. Estamos habituados a que quando Deus chama se abandone tudo. E aqui vemos que, porque Deus chama, se abraça tudo. O mundo, o trabalho, a formação profissional, é também vocação. A que é preciso corresponder.
Talvez à grande maioria dos cristãos Deus peça, sim, que convertam o seu coração e mudem o mundo, mas não que mudem de mundo. Para isso são leigos.
Em Álvaro del Portillo ser engenheiro não foi um aspecto transitório, depois superado, e finalmente esquecido. Não. Foi um cromossoma que Deus pôs no seu DNA e que esteve sempre activamente presente no seu genoma de leigo, sacerdote, bispo, prelado, beato.
O Papa Francisco sugeriu que ao pensar em Álvaro del Portillo sentíssemos o apelo de “imitar a vida humilde, feliz, escondida, silenciosa” de que é exemplo, e também o seu “testemunho decidido da perene novidade do Evangelho”. Rezo ao Senhor – e peço orações a quem se queira associar – entregando-Lhe nas mãos o desejo de que aceitemos o desafio do Santo Padre.
Pe. José Rafael Espírito Santo - Vigário regional do Opus Dei em Portugal
'Observador'
Quando a ignorância se transforma num acto de Fé e amor
Quando não entendermos como os discípulos não entenderam o Senhor no Evangelho de hoje (Lc 9, 43b-45) pode ser uma graça, pois aí estaremos junto d'Ele movidos pela Fé e pelo amor que Lhe temos e essa mesma Fé e amor ajudar-nos-ão quando Ele assim o entender a compreendê-Lo melhor e com mais convicção.
Louvado seja Deus Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento!
JPR
O relativismo e a decadência
No centro do relativismo em que se vai deteriorando a identidade e capacidade dos ocidentais para sustentarem uma posição igual na coexistência em liberdade com as áreas culturais que antes dominaram em regime imperial, parece estar a questão da relação entre valor e preço, em que este serviu de eixo a um credo de mercado que conduziu à crise financeira e económica actual. Os valores são correntemente definidos como instrumentais ou fundamentais, e expressaram-se frequentemente nas coisas, incluindo as pessoas no que toca às funções que desempenham, em qualquer área de actividade, incluindo a económica. Mas não pode, ou não deve, ainda neste último caso, aceitar-se que os valores humanos podem ser secundarizados pelos instrumentais, o que significa sempre que o preço das coisas superou o valor das coisas, que, por isso, o salário não tem que ter em conta a dignidade de quem trabalha, que a medida monetária, isto é, a viabilidade da compra e venda supera todas as restantes exigências. Os países, ou alguns responsáveis, ainda antes de o credo do mercado ser assumido, também viveram como regra nessa condição quando, por exemplo, a escravatura e o transporte de escravos eram um regime legal consentido.
Foram necessárias muitas lutas, sacrifícios, pregações, e possivelmente iluminações das consciências, para entender que o dinheiro é a unidade que mede os valores instrumentais, mas não os valores morais, especialmente os que se aglutinam no conceito de dignidade humana. Da sentença de Kant segundo a qual a pessoa tem dignidade, e não preço, porque este último apenas respeita às coisas intercambiáveis, decorre que a dignidade humana evidencia-se pelo facto de que cada ser é um fenómeno que não se repete na história da humanidade. Escreveu algures Oscar Wilde que "um cínico é um homem que sabe o preço de todas as coisas mas não sabe o valor de nada". A esta percepção responde, em parte, o estado social, já que sem um poder governativo humanista a comunidade não pode funcionar com justiça. Nessa formulação cabe necessariamente o reconhecimento de que, não obstante, no que respeita às pessoas, a convergência de valores humanos e dos valores instrumentais é uma regra frequente. É notado que, se a saúde é suporte do valor essencial da vida, os cuidados médicos e medicamentos são coisas com valor monetário. O mesmo se diga do ensino, da qualificação técnica, e assim por diante. Esta realidade faz com que o Estado social seja composto, ao longo dos tempos, de uma principiologia que aponta para a possibilidade, variável com as épocas, de apoiar com valores monetários a dignidade humana, mantendo sempre a principiologia.
Existem outras formas de apoiar aquela dignidade sem valores monetários que porventura escasseiam, como o serviço ao próximo, a solidariedade, a caridade, o amor oferecido com a gratuidade da doação. Mas o que não é admissível, em face do património imaterial que deu sentido à identidade ocidental, deu fundamento à Declaração Universal dos Direitos Humanos, e espera a consagração da Declaração de Deveres que circula em busca de adesão da ONU, é que a principiologia desapareça dos textos constitucionais, à sombra de uma semântica variável, mas que lhe nega o carácter directivo e a imposição ética. Não é a pobreza que o dispensa, como está demonstrado ao longo dos tempos pelas sociedades pobres, é o facto de colocar o preço das coisas acima do valor das coisas. A decadência ocidental, e não apenas europeia, tem outras causas, designadamente a frequência com que sofreu as guerras internas e que chamou mundiais. Mas, nesta entrada do milénio, é o relativismo que a faz regredir, que divide a Europa entre países ricos e pobres, e que afecta a definição de um futuro possível. Não tem sentido propor e adoptar a responsabilidade pelas gerações futuras, e ignorar o paradigma que antecede a formulação da principiologia do Estado social, que se torna mais exigente à medida que a fronteira da pobreza avança.
Adriano Moreira
(Fonte: DN online em 19.07.2012)
«Ele distribui do que é seu, dá aos pobres; a sua prosperidade subsiste para sempre» (Sl 111,9)
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermão 302, para a festa de São Lourenço
São Lourenço era diácono em Roma. Os perseguidores da Igreja pediram-lhe para entregar os tesouros da Igreja; foi para obter um verdadeiro tesouro no céu que ele sofreu tormentos cujo relato não se consegue ouvir sem horror: foi deitado numa grelha sobre as chamas. […] No entanto, triunfou de todas as dores físicas pela extraordinária força que extraía da sua caridade e do auxílio daquele que o tornava inquebrável: «Pois nós somos obra sua, criados em Jesus Cristo em vista das boas acções que Deus de antemão preparou para nós as praticarmos» (Ef 2,10).
Eis o que provocou a cólera dos perseguidores. […] Lourenço disse: «Tragam-me carroças nas quais possa levar-vos os tesouros da Igreja.» Trouxeram-lhe carroças; ele encheu-as de pobres e enviou-lhos, dizendo: «Eis os tesouros da Igreja.»
Nada é mais verdadeiro, meus irmãos; nas necessidades dos pobres encontram-se as grandes riquezas dos cristãos, se compreendermos bem como fazer frutificar aquilo que possuímos. Os pobres estão sempre diante de nós; se lhes confiarmos os nossos tesouros, não os perderemos.
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
AS IRMÃZINHAS ATEIAS DA CARIDADE
Porque razão a Igreja tem o monopólio da caridade?
Consta que um zeloso pároco afixou esta convocatória para uma quermesse paroquial: «Estimadas senhoras: vamos ter em breve a nossa habitual venda de caridade, para a qual esperamos que contribuam com aquelas coisas que têm lá em casa e que não servem para nada. Tragam os vossos maridos!».
A referência aos esposos não foi, de facto, feliz. Mas a verdade é que a Igreja, com ou sem maridos, realiza obras de caridade desde o início: um dos seus primeiros problemas foi, precisamente, o excesso de empenho com que os apóstolos se dedicaram a esta pastoral, com prejuízo da oração e do ministério da palavra. Depois floresceram, ao longo dos séculos, múltiplas instituições religiosas vocacionadas para o serviço dos mais carentes.
Mesmo aqueles que não prezam a presença e a acção da Igreja, tendem a elogiar a sua generosa dedicação aos órfãos, aos doentes, aos prisioneiros, aos imigrantes, aos moribundos e, em geral, aos mais necessitados. Um escritor actual, premiado com o Nobel, chegou mesmo a dizer que não subscrevia a fé da Beata Teresa de Calcutá, mas que não podia deixar de louvar a ajuda que a sua benemérita ordem religiosa presta aos mais pobres dos pobres. E é de crer que esta genuína e sincera admiração seja um sentimento comum a muitas outras pessoas, não obstante as suas reservas em relação ao dogma cristão e à moral católica.
Assim sendo, porque não congregar todas essas boas vontades, avessas à fé e à moral cristãs, numa ordem das irmãzinhas ateias da caridade?!
Com efeito, se tantas pessoas boas, embora não crentes, manifestam o seu entusiasmo pela dedicação aos mais necessitados, por que não institucionalizar esses sentimentos altruístas numa ordem arreligiosa, que se dedique a praticar o bem que tão entusiasticamente louvam?! Se, de facto, muitos ateus e agnósticos têm tanto apreço pelo trabalho humanitário das instituições católicas de caridade, porque não possibilitar que façam o mesmo pelo próximo, mas sem necessidade de se inscreverem numa religião em que não crêem, nem de professarem uma fé que não têm? Se é genuína a sua preocupação social, como autêntico o seu empenho em servir os mais indigentes, porque não fazem o que fazem tantas e tantos religiosas e religiosos de tantas congregações católicas, mas numa ordem ateia ou agnóstica?!
Em teoria, são viáveis instituições humanitárias laicas, mas dois mil anos de história ensinam que foi, sobretudo por virtude da fé cristã, que tantos e tantas entregaram a sua própria vida ao serviço dos outros. O facto, empiricamente demonstrável, de que essa abnegada e tantas vezes heróica prestação social ocorre, por regra, como consequência de uma prévia experiência de amor pessoal a Jesus Cristo, na sua Igreja, prova que é essa fé e a correspondente moral que fazem possível uma tal caridade.
Os homens, como as árvores, conhecem-se pelos seus frutos e não pelas suas palavras, ou pelos seus bons sentimentos, de que se diz estar o inferno cheio. Todos podem enaltecer a caridade, ou compadecer-se com os que sofrem, mas é Cristo que faz possível o amor maior, ou seja, dar a vida pelos outros. Elogiar a caridade cristã, menosprezando a correspondente fé, é tão absurdo como louvar as rodas de um carro, subestimando o seu motor; ou apreciar uma flor, mas esquecendo a sua raiz.
Bento XVI recordou, na sua primeira encíclica, o caso de Juliano, cognominado o apóstata, por ter abandonado a religião cristã. Este imperador pretendeu restaurar o paganismo, mas enriquecido com uma prática social análoga à actividade caritativa da Igreja. Também agora, não poucos países laicos, se não mesmo apóstatas, renunciam à fé, mas pretendem dar continuidade às obras da caridade cristã. Mas se a fé, sem caridade, está morta, a caridade, sem fé, não existe.
P. Gonçalo Portocarrero de Almada
«Aquela linguagem estava-lhes velada»
Orígenes (c. 185-253), presbítero, teólogo
Tratado dos princípios, II, 6, 2; PG 11, 210
Tratado dos princípios, II, 6, 2; PG 11, 210
De entre todas as grandes coisas e maravilhas que se pode dizer sobre Cristo, há uma que ultrapassa totalmente a admiração de que o espírito humano é capaz; a fragilidade da nossa inteligência mortal não consegue compreendê-la nem imaginá-la. É o facto de a omnipotência da majestade divina, o próprio Verbo do Pai (Jo 1,1), a própria Sabedoria de Deus (1Cor 1,24), na qual todas as coisas foram criadas — as visíveis e as invisíveis (Jo 1,3; Col 1,16) — Se ter deixado conter nos limites deste homem que Se manifestou na Judeia. É este o objecto da nossa fé. E há mais: acreditamos que a Sabedoria de Deus entrou no seio de uma mulher e nasceu por entre os vagidos e os choros comuns a todos os recém-nascidos. E aprendemos que, depois, Cristo conheceu a perturbação perante a morte a ponto de exclamar: «A minha alma está numa tristeza de morte» (Mt 26,38), e que foi arrastado para uma morte vergonhosa entre os homens, embora saibamos que ressuscitou ao terceiro dia. […]
Na verdade, fazer com que os ouvidos humanos entendam estas coisas, tentar exprimi-las por palavras, ultrapassa a linguagem dos homens […] e provavelmente a dos anjos.
Na verdade, fazer com que os ouvidos humanos entendam estas coisas, tentar exprimi-las por palavras, ultrapassa a linguagem dos homens […] e provavelmente a dos anjos.
O Evangelho do dia 27 de setembro de 2014
E todos se admiravam da grandeza de Deus. Enquanto todos admiravam as coisas que fazia, Jesus disse aos discípulos: «Fixai bem estas palavras: O Filho do Homem está para ser entregue nas mãos dos homens». Eles, porém, não entendiam esta linguagem; era-lhes tão obscura que não a compreendiam; e tinham medo de O interrogar acerca dela.
Lc 9, 43b-45
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