Este ano, o presépio da praça de S. Pedro é uma escultura de areia com 16 m de comprimento, 5 m de altura e 6 m de profundidade. Foram precisos 20 camiões grandes para transportar 700 toneladas de areia oriunda de Jesolo, no Norte de Itália, para a praça de S. Pedro. 10 operários realizaram a operação de compactar a areia, para a tornar mais consistente, e depois montaram a cobertura que protege o conjunto da intempérie. Nas duas semanas seguintes, 4 escultores internacionais com experiência neste tipo de material juntaram esforços para esculpir as figuras: Richard Varano (dos Estados Unidos), Ilya Filimontsev (da Rússia), Susanne Ruseler (da Holanda) e Rodovan Ziuny (da República Checa). Richard Varano conquistou 11 vezes o título mundial de escultura na areia e os outros são também escultores de topo na especialidade.
O relevo divide-se em três grandes painéis: a Sagrada Família no centro, do lado esquerdo a adoração dos pastores e à direita os reis magos. Além disso, vários Anjos povoam o cenário. Todas as figuras convergem para o Menino Jesus, em grande destaque.
O município de Jesolo organiza presépios de areia há bastantes anos, mas desta vez o desafio era maior. Os 4 escultores escolhidos pelo município não queriam apenas surpreender turistas, queriam levar os peregrinos a rezar. E, entre todas as opiniões, os quatro e toda a equipa de Jesolo estavam ansiosos sobretudo por saber a opinião do Papa. Por isso, o momento culminante das duas semanas de trabalho foi o dia 7 de Dezembro, quando Francisco desceu à praça de S. Pedro, para ver o presépio e a árvore de Natal que o acompanha. Entusiasmado com a expressividade e beleza do conjunto, o Papa alongou-se numa meditação profunda sobre o Natal, transmitida na televisão de vários países.
A árvore e o presépio são «dois sinais que nunca perdem a força do seu fascínio e nos ajudam a contemplar o mistério de Deus feito Homem para estar próximo de cada um de nós» – disse Francisco. «Este abeto vermelho, com uma altura de mais de 20 m, simboliza Deus que, com o nascimento do seu Filho Jesus, Se abaixa até aos homens para os levantar dos nevoeiros do egoísmo e do pecado. O Filho de Deus assume a condição humana para a atrair a Si e a tornar participante da sua natureza divina e incorruptível».
A areia daquele presépio, «material pobre, simboliza a simplicidade, a pequenez com que Deus Se mostrou no nascimento de Jesus, na acomodação precária de Belém. Poderíamos pensar que esta pequenez esteja em contradição com a divindade, a tal ponto que alguns consideraram [a humanidade de Cristo] como se fosse uma aparência, um revestimento. Pelo contrário. A pequenez é liberdade. Quem é pequeno, no sentido evangélico, não só anda ligeiro, mas livre de toda a mania de aparecer e de toda a pretensão de sucesso; como as crianças que se expressam e vivem com espontaneidade. Todos somos chamados a ser livres diante de Deus, a ter a liberdade de uma criança diante do seu Pai. O Menino Jesus, Filho de Deus e nosso Salvador, aqui no presépio, é Santo na pobreza, na pequenez, na simplicidade, na humildade».
Quando o Papa concluiu as suas considerações sobre o Natal e os cumprimentou, os escultores sentiam-se a flutuar numa nuvem. Não podiam ter imaginado um momento mais intenso. Tinham sido duas semanas estafantes, a trabalhar naquela escultura enorme, pensada e realizada com uma intencionalidade tão forte. No final, ouvir a sua obra interpretada ao vivo pelo próprio Papa!... Para aqueles escultores e para toda a equipa, o presente de Natal tinha chegado mais cedo.
José Maria C.S. André