Hoje (12/05/2017), na oração na Capelinha, o
Papa Francisco denomina-se a si próprio «o homem vestido de branco», aplicando
a expressão usada pela Irmã Lúcia ao escrever o terceiro Segredo de Fátima. Os
Pastorinhos nunca tinham visto o Papa e, na época, e tão longe da cidade, não
havia imagens disponíveis. Por isso, a terrível visão do terceiro Segredo de Fátima
teve também um matiz difícil de perceber. Quem era aquela multidão fiel ao
«homem vestido de branco», que é dizimada pelas forças do mal? Quem é essa
personagem vestida de branco? Algum
tempo mais tarde, Lúcia percebeu claramente a resposta.
Em Fátima, Francisco identifica-se
directamente com essa figura. Na visão, o homem vestido de branco avança por um
monte de desolação, rodeado por uma grande multidão que se mantém fiel, e
sofrendo o combate encarniçado dos que se lhe opõem. Não luta, não ataca, não
responde com violência à agressividade de que é vítima, e, no momento
culminante, ele próprio é abatido.
João Paulo II, atingido no dia 13
de Maio na Praça de S. Pedro, mal recuperou a consciência, ainda no hospital,
pediu a documentação escrita pela Irmã Lúcia. As circunstâncias e o facto de o
Papa ter sobrevivido às balas daquele profissional do crime sugeriam uma
relação muito directa com Fátima. Depois de capturado pela polícia italiana, o
que o assassino, Ali Agca, não entendia era a razão de o Papa estar vivo.
Soube-se, de fonte da prisão, que quando alguém lhe falou das aparições de
Fátima, ele ficou sumamente interessado.
Francisco, ao chamar a si mesmo
«o homem vestido de branco», retoma o sentido profundo da visão do terceiro
Segredo. O líder que cai, atingido pela hegemonia do mal, não é apenas um Papa
alvejado por um Ali Agca. E aquela multidão fiel que derrama o seu sangue com o
homem vestido de branco não é apenas imagem dos mártires do século XX. A visão
refere-se à grande apostasia em que caiu uma parte importante do globo e ao
combate contra a Igreja. O livro do Apocalipse tem uma página semelhante,
quando fala da serpente fazendo guerra à Mulher, a uma mulher que é Mãe, e ao
seu Filho.
Desabam sobre o Papa e a Igreja
os pecados dos católicos e a loucura dos gentios, os preconceitos, as
difamações. A cada momento da história, dá a impressão de que Deus perde
batalhas e que aqueles que O seguem estão em desvantagem. Tudo isso é verdade,
mas há um plano que escapa à visão dos homens. Foi essa a visão do terceiro
Segredo. Deus vê. Deus é fiel.
Ao chamar-se a si «o homem
vestido de branco», Francisco indicou a esta multidão que enche a esplanada de
Fátima – e a todos aqueles que aqui estão em espírito – que eles são o imenso
povo fiel.
José Maria C.S. André
12-V-2017