São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense, doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, nº 2, 4ss
Mesmo antes da vinda do Salvador, os santos não ignoravam que Deus tinha desígnios de paz para o género humano. Pois «o Senhor Deus nada faz sem revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas» (Am 3,7) No entanto, esse desígnio continuava oculto a muitos […]; mas aqueles que pressentiam a redenção de Israel (Is 14,1) anunciavam que Cristo viria na carne e, com Ele, a paz […]: «Ele próprio será a paz» (Mq 5,4). […]
Contudo, enquanto eles prediziam a paz e o Autor da paz demorava a chegar, a fé do povo vacilava, pois não havia ninguém para o resgatar e salvar (Si 36,15). Queixavam-se desse atraso; tantas vezes prometido «pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos» (Lc 1,70), o Príncipe da paz (Is 9,5) parecia nunca mais vir. […] Era como se alguém de entre a multidão respondesse aos profetas: «Durante quanto mais tempo nos mantereis em suspenso? Há já tanto tempo que anunciais a paz e ela não chega. Prometeis maravilhas e só aparecem problemas. E essa promessa foi-nos de novo feita, “muitas vezes e de muitos modos” (Heb 1,1), os anjos anunciaram-na aos nossos pais e os nossos pais falaram-nos dela: “Paz, paz: mas não há paz” (Jr 6,14). […] Que Deus prove que os seus mensageiros são dignos de fé, se é que são seus mensageiros! Que venha Ele próprio!» […]
Daí vêm as suas promessas doces e cheias de consolo: «Eis que vem o Senhor» (Is 33,12), Ele não mentirá; se tardar, esperai ainda, porque com toda a certeza não falhará (cf Hab 2,3). Ou ainda: o seu tempo está próximo; os seus dias não tardarão. E enfim, na boca daquele que foi prometido vêm estas palavras : «Vou fazer com que a paz corra para Jerusalém como um rio, e a riqueza das nações como uma torrente transbordante» (Is 66,12).