Não é pacífica a relação entre homens e mulheres, pelo menos desde Adão e Eva. A crer no relato bíblico, foi a mulher que obrigou o homem a comer o fruto proibido e, desde então, elas nunca mais deixaram de mandar. Aliás, é por isso que nos fazem crer que vivemos numa sociedade machista…
Se não, vejamos. Um homem que considera as mulheres menos aptas para o exercício de um cargo ou profissão é, obviamente, machista. Mas, se uma senhora tecer a mesma opinião em relação aos cavalheiros, ninguém a acusará de feminista que, por sinal, não é o contrário de machista, nem a sua versão feminina, que não há. Com efeito, ser machista é sempre um insulto, algo política e socialmente incorrecto, porque pressupõe uma atitude prepotente e desrespeitadora dos legítimos direitos do outro sexo. Mas ser feminista é uma virtude, porque se entende que é nobre defender os direitos das minorias ou dos mais necessitados, embora as mulheres não sejam propriamente nenhuma minoria, nem muito menos seres descapacitados.
Se uma mulher, que injustamente discrimina os homens, não é machista, uma vez que esta designação é exclusivamente masculina, o que é?! A verdade é que nem sequer há um termo para designar com propriedade este eventual machismo feminino! E, se um sujeito defender os direitos políticos e sociais das senhoras, é feminista?! Não parece, porque, como já se disse, esta honrosa designação é exclusiva das mulheres. Logo, nenhuma mulher pode ser tão má quanto são maus os machistas, nem nenhum homem pode ser tão bom como as feministas.
Em tese, também poderia haver um machismo bom e um feminismo mau. De facto, seria louvável aquele acto de afirmação do sexo masculino que não infamasse o seu contrário, como deveria ser censurável aquele feminismo que fosse depreciativo do sexo masculino. Deveria ser assim, mas não é. Porquê? Não quero ser machista, mas …
Muitos privilégios da condição feminina não são extensivos aos homens: a consorte do rei é rainha, como as plebeias Letícia de Espanha, Sílvia da Suécia e Sónia da Noruega. Mas o marido da rainha só é príncipe, como Filipe de Edimburgo, Bernardo da Holanda ou Frederico da Dinamarca, mesmo quando já eram príncipes pelo seu nascimento, como é o caso dos dois primeiros. A mulher de um presidente da República é a primeira dama, mas o marido de uma chefe de Estado não é coisa nenhuma. Será justa esta discriminação?! Será machismo exigir que o marido da rainha seja rei e o cônjuge da presidente seja ‘o primeiro cavalheiro’?!
Tempos atrás, combateu-se a desproporção entre homens e mulheres em certas profissões, criando-se quotas para o acesso feminino a esses postos de trabalho. Hoje verifica-se análoga disparidade, mas em sentido contrário: já há mais médicas e juízas, por exemplo. Contudo, ninguém defende, que eu saiba, lugares cativos para machos …
Talvez seja hora de abandonar os preconceitos feministas, mas sem ressuscitar serôdios machismos ultramontanos. Impor restrições, por razão do sexo, no acesso aos cargos políticos, ou outros, é perverter a ordem da justiça, porque o único critério válido para o exercício de funções, públicas ou privadas, deve ser o mérito dos candidatos, qualquer que seja o seu sexo. Não faz sentido que ninguém seja preferido, ou preterido, por esse motivo. Na realidade, seria humilhante que alguém ocupasse um determinado cargo, só por ser mulher, ou homem, porque, mais do que o sexo, vale aquilo que cada um é.
Não é que eu seja machista mas, pelo sim pelo não, dou graças a Deus por me ter chamado para a única profissão que elas nunca poderão exercer! Mas tão excelsa é a condição feminina que, quando chegou a plenitude do tempo, foi uma mulher que deu à luz o próprio Deus! (Gal 4, 4).
Gonçalo Portocarrero de Almada
jornal i – 30 Agosto 2014