Bento XVI diz que esta é a altura de os cristãos se «empenharem» no mundo
Bento XVI assina hoje um artigo de opinião no jornal ‘Financial Times’ (FT) sobre a celebração do Natal em tempos de austeridade, apelando ao compromisso dos cristãos na transformação do mundo.
“O nascimento de Cristo desafia-nos a reformular as nossas prioridades, os nossos valores, o nosso modo de vida: sendo, sem dúvida, um tempo de grande alegria, o Natal é também ocasião para uma profunda reflexão, mesmo um exame de consciência”, assinala o Papa.
O texto fala num ano que trouxe “privações económicas para muitos”, no qual a cena do presépio pode surgir como lição de “humildade, pobreza, simplicidade”.
“Os cristãos combatem a pobreza pelo reconhecimento da suprema dignidade de todo o ser humano, criado à imagem de Deus e destinado à vida eterna”, o que dá um sentido de “urgência à tarefa de promover a paz e a justiça para todos”, refere o artigo, intitulado ‘A time for Christians to engage with the world’ ** (Um tempo de compromisso no mundo para os cristãos, em tradução livre).
Neste sentido, o Papa diz que os mesmos não podem “fugir ao mundo”, mas devem comprometer-se nele, numa ação que tem de “transcender qualquer forma de ideologia”.
“Os cristãos trabalham para uma partilha mais equitativa dos recursos da terra a partir da convicção de que, como guardiões da criação de Deus, temos o dever de cuidar dos pobres e mais vulneráveis”, sublinha.
Bento XVI condena a “ganância e exploração” a partir da certeza de que “a generosidade e o amor desinteressado, ensinados e vividos por Jesus de Nazaré, são o caminho que leva à plenitude da vida”.
O Papa apresenta uma reflexão sobre a relação dos cristãos com a política a partir da expressão ‘Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’, que Jesus proferiu ao ser interrogado sobre a necessidade do pagamento de impostos aos romanos, segundo os evangelhos, fugindo assim a uma “armadilha” em relação à questão da ocupação do território de Israel.
“Quando os cristãos se recusam a inclinar-se perante os falsos deuses hoje propostos, não é por causa de uma visão do mundo antiquada, mas porque estão livres de constrangimentos ideológicos e inspirados por uma tão nobre visão do destino humano que não podem ceder perante algo que a mine”, observa.
O artigo adverte contra os perigos da “politização da religião” e da “deificação do poder temporal”, bem como da “insaciável busca de riqueza”.
O nascimento de Jesus, prossegue Bento XVI, marca o fim de uma era, dominada pelo César, e o reinado de quem “não confia na força das armas, mas no poder do amor”.
“Ele traz esperança aos que estão vulneráveis à fortuna em mudança do mundo precário”, sustenta.
Segundo o Papa, os relatos do Novo Testamento sobre o nascimento de Jesus mostram que “este menino, nascido num canto obscuro e distante” do Império Romano, veio oferecer ao mundo “uma paz muito maior, verdadeiramente universal nos seus objetivos e transcendente”.
O Vaticano explica, em comunicado, que o artigo foi pedido pelo FT após a publicação da nova obra de Bento XVI sobre a infância de Jesus.
“Apesar da natureza invulgar do pedido, o Santo Padre aceitou de bom grado”, acrescenta a nota da sala de imprensa da Santa Sé, que recorda as entrevistas concedidas pelo Papa à BBC e à RAI como momentos em que o líder da Igreja Católica quis “passar a sua mensagem a um auditório maior”.
OC / Agência Ecclesia
** (Tradução ‘Spe Deus’ – Tempo para os cristãos se comprometerem com o mundo)
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