O olhar de
Jesus!
Um olhar humano e divino, o olhar
humano de Deus. Um olhar que arrasta, convence, atrai, chama.
Mas também é o olhar de tédio quando mira Herodes; de
cólera quando expulsa os vendilhões do Templo; de repreensão quando encara os
acusadores da adúltera.
Um olhar que põe a nu os defeitos e erros, que acusa,
que repudia, que afasta.
Jesus fala com o olhar em todas
as situações: rindo contentes com a alegria do filho regressado à casa paterna,
deixando correr as lágrimas pelo amigo morto há já três dias, toldado com a
névoa da tristeza na Última Ceia, olhar de aflição e pavor em Getsémani.
Os Seus seguidores mais próximos,
não podem esquecer o olhar de Jesus.
Mais que as Suas palavras ou os
Seus gestos – mesmo os de maior significado – o Seu olhar ficou-lhes gravado no
coração desde o primeiro momento em que os encarou, um a um, chamando-os à Sua
intimidade, ao Seu círculo mais próximo de confidentes e amigos.
No nosso círculo de confidentes e
amigos – onde levamos a cabo o nosso “apostolado de amizade e confidência” –
conhecem-nos pelo nosso olhar franco, aberto, claro, bem-disposto?
O nosso olhar inspira confiança?
Transmite tranquilidade?
Perguntas que devemos colocar-nos
cada dia.
Os olhos são o espelho da alma,
costuma dizer-se, e, que preocupação devemos ter que, de facto, o sejam!
Com os mesmos olhos com que
contemplamos, embevecidos, a Hóstia Santa que o Sacerdote nos mostra na hora de
comungar, poderemos contemplar imagens impuras ou impróprias?
Os olhos que se perdem na
vastidão do infinito Amor de Deus poderão ser os mesmos que se deixam absorver
pela passageira e fugaz imagem do prazer do momento?
Podem,
sim, sabemos que podem!
Somos
humanos, fracos, débeis, volúveis. Que remédio teremos, senão pedir,
constantemente, à nossa Mãe do Céu que proteja o nosso olhar, que guie o nosso
olhar?
Que poderemos mais
senão implorar que nos ajude a guardar a vista como um bem precioso e caríssimo
que não queremos desperdiçar?
Que mais desejar que
manter o olhar de crianças, límpido, puro, franco e aberto?
“Olho para Ti, olhos nos olhos, e
digo-te que Te amo e, não tenho medo que não acredites. Sei que o vês nos meus
olhos. Quero guardar para Ti, - só para Ti – o meu olhar. Se possível fosse,
ter estes olhos com que agora Te contemplo, bem guardados num cofre donde só os
retiraria para Te contemplar. Outros olhos, para o dia-a-dia, seriam
“reforçados” com lentes especiais que só me permitissem ver o que pode ser
visto. Ou, se preferires, Senhor, ser cego para tudo quanto não sejas Tu. A Tua
Face que quero contemplar (Vultuum
requiram!) tão cedo quanto Tu
mo permitires, há-de iluminar os meus olhos com a mesma luz do Céu, aquela luz
onde se movem os anjos e os santos que Te contemplam. Olhos só para Ti, Senhor,
só para Ti, para mais nada os quero a não ser… a não ser…, para ver as
maravilhas que Tu criaste e, por elas, dar-te graças continuamente. (AMA, Orações pessoais)
O lógico é que, quem tem olhos…
veja. Não precise, para ver, mais que luz, claridade e, aqui, bate o ponto:
como é possível ver no escuro?
Como pode descortinar-se o quer
que seja, permanecendo na comodidade - e cobardia - do ensimesmamento, da
clausura em si mesmo, recusando-se sistematicamente a tomar conhecimento do que
a Igreja legisla, o Papa esclarece, Jesus Cristo adverte?
Ninguém pode dizer que não sabe se não quer ver, se
recusa, pelo menos, tomar conhecimento. (Cfr. AMA, Thalita Kum)
Olhar e reparar
São duas atitudes diferentes.
Olhar pode ser um acto automático que não tem
que ser nem mau nem bom.
Faz parte da nossa condição humana, dos nossos sentidos,
da forma como percorremos a vida de todos os dias.
Reparar é diferente.
É deter o olhar em algo que nos desperta a curiosidade e
pretendemos avaliar – ou ver mais detidamente – os pormenores, os detalhes.
E isto pode ser mau porque, de certa forma alia-se ao
reparar a curiosidade e, esta, é sempre má.
Trata-se, pois, de guardar a vista e não se
pense que é fácil porque não é.
Constantemente, somos confrontados com
autênticas “agressões visuais” e há que ter a prontidão de seguir em frente e
deixar o assunto.
A vista é a porta da alma! (AMA, reflexões, 2019)
(AMA, 2018)