Advirto-te que as grandes penitências são compatíveis também com as quedas espalhafatosas, provocadas pela soberba. Em contrapartida, com esse desejo contínuo de agradar a Deus nas pequenas batalhas pessoais – como sorrir quando não se tem vontade: asseguro-vos, aliás, que em certas ocasiões torna-se mais custoso um sorriso do que uma hora de cilício – é difícil alimentar o orgulho, a ridícula ingenuidade de nos considerarmos heróis notáveis: ver-nos-emos como uma criança que apenas consegue oferecer ninharias ao seu pai, que as recebe, no entanto, com imensa alegria.
Então, um cristão há-de ser sempre mortificado? Sim, mas por amor. (…)Talvez até agora não nos tivéssemos sentido urgidos a seguir tão de perto os passos de Cristo. Talvez não nos tivéssemos apercebido de que podemos unir ao seu sacrifício reparador as nossas pequenas renúncias: pelos nossos pecados, pelos pecados dos homens de todas as épocas, por esse trabalho malvado de Lúcifer que continua a opor a Deus o seu non serviam! Como nos atreveremos a clamar sem hipocrisia: Senhor, doem-me as ofensas que ferem o teu Coração amabilíssimo, se não nos decidimos a privar-nos de uma ninharia ou a oferecer um sacrifício minúsculo em honra do seu Amor? A penitência – verdadeiro desagravo – lança-nos pelo caminho da entrega, da caridade. Entrega para reparar e caridade para ajudar os outros, como Cristo nos ajudou a nós.
De agora em diante, tende pressa de amar. O amor impedir-nos-á a queixa e o protesto. Porque com frequência suportamos a contrariedade, sim; mas lamentamo-nos; e então, além de desperdiçar a graça de Deus, cortamos-lhe as mãos para futuros pedidos. Hilarem enim datorem diligit Deus. Deus ama o que dá com alegria, com a espontaneidade que nasce de um coração enamorado, sem os espalhafatos de quem se entrega como se prestasse um favor. (Amigos de Deus, 139–140)
São Josemaría Escrivá