Quando este texto chegar às suas mãos, leitor amigo em quem penso enquanto escrevo, estaremos em plena época natalícia. Imaginamos com que intensidade reviveria a Sagrada Família as recordações daqueles dias de Belém, mistos de dores que se transformavam em alegrias deixando os corações inundados de profunda paz. À medida que o Cristianismo se foi consolidando e conhecidos os factos em que se deu o nascimento e infância de Jesus a festa do Natal do Senhor passou a ser celebrado nas comunidades cristãs. A 1ª referência documental à data de 25 de Dezembro aparece num texto de Sexto Júlio Africano em 221 e em 354 o calendário litúrgico filocaliano refere expressamente, (MGH, IX, I, 13-196), que “VIII kal. Ian. natus Christus in Betleem Iudeae”, [“nas VIII Calendas de Janeiro (25 de Dezembro) nasceu Cristo em Belém da Judeia”].
Chegou-se à definição desta data pela relação entre dados dos calendários sacerdotais judaicos, da astronomia, da história romana e da tradição cristã. O Natal é pois algo mais profundo do que a pouco credível substituição de uma celebração pagã por uma cristã.
Os materialismos contemporâneos procuram intensamente afogar as celebrações do Natal em consumismo. Para lhe disfarçar a fria agressividade e fealdade revestem-no com um estaladiço banho exterior de solidariedade fraterna, de festa da família, de tempo de sermos bons, de sorrirmos aos desconhecidos… Como em todos os reducionismos também, neste caso, existe uma réstia de verdade já que, a fraternidade só pode ser realidade entre filhos do mesmo Pai. Por isso é necessário recuperar o sentido do Natal: que chegada a plenitude dos tempos Deus enviou o Seu Filho para nos redimir e podermos ser chamados filhos de Deus.
Sugiro, como melhor maneira de preparar o Natal fazermos uma boa Confissão. Se Natal é tempo de ser bom haverá alguma forma mais razoável de o fazer do que pedir sinceramente perdão ao nosso Pai Deus e decidirmos ser Seus melhores filhos?
Depois, armar o Presépio num local acolhedor da casa onde possamos facilmente lançar um olhar amoroso ao Menino Deus e fazer-Lhe companhia.
Ao decorarmos a árvore de Natal poderemos atribuir um significado sobrenatural a cada um dos seus enfeites: a cor azul a uma oração de reconciliação, a prata para dar graças, a dourada para louvar a Deus, o vermelha para Lhe expor as nossas necessidades; os laços representam a união da família e entre os homens de boa vontade. O Anjo que encima o Presépio pode recordar-nos o nosso Anjo da Guarda; a Estrela de Belém que conduziu os Magos a Cristo lembra a fé que deve guiar as nossas vidas; as luzes, a Luz de Cristo…
João Paulo II lembrava que a cor verde e a perenidade das folhas do abeto são sinal da vida que não morre e que a mensagem da árvore de Natal é, portanto, que a vida permanece "sempre verde" se se torna dom: não tanto de coisas materiais, mas de si mesmo: na amizade e no carinho sincero, na ajuda fraterna e no perdão, no tempo compartilhado e na escuta recíproca. Também as prendas que se costumam colocar na sua base recordam que da árvore da Cruz procedem todos os bens e que Jesus Cristo é o supremo dom de Deus à humanidade (Cfr. João Paulo II, Angelus, 19 de Dezembro de 2004).
Se nos esforçarmos por viver assim o Natal, com fé, esperança e caridade, Jesus encontrará pousada no nosso coração e enchê-lo-á de paz e de alegria. E transmitiremos às novas gerações os valores das tradições que fazem parte do património da nossa fé e cultura.
Para si leitor, para a sua família, desejo um Santo Natal e um 2011 (2015) cheio dos dons do Menino Deus.
António Faure em 2010