Está implícito na chamada à conversão, como sua condição fundamental, o anúncio do Deus vivo. O teocentrismo é fundamental na mensagem de Jesus e deve ser também o núcleo da nova evangelização. A palavra-chave do anúncio de Jesus é: reino de Deus.
Mas reino de Deus não é uma coisa, uma estrutura social ou política, uma utopia. O reino de Deus é Deus.
Reino de Deus quer dizer: Deus existe. Deus vive. Deus está presente e actua no mundo, na nossa vida, na minha vida. Deus não é uma longínqua "causa última". Deus não é o "grande arquitecto" do deísmo, que montou a máquina do mundo e depois a abandonou.
Pelo contrário. Deus é a realidade mais presente e decisiva em cada acto da minha vida, em cada momento da História. Na conferência de despedida da sua cátedra na Universidade de Münster, o teólogo Johann Baptist Metz disse coisas que ninguém imaginaria ouvir dos seus lábios. Antes, ensinara o antropocentrismo: o verdadeiro feito do cristianismo teria sido o "giro antropológico", a secularização, a descoberta da secularidade do mundo. Depois passara a ensinar teologia política, a índole política da fé; a "memória perigosa"; e, finalmente, a teologia narrativa. Mas após percorrer esse caminho árduo e difícil, ele nos diz: o verdadeiro problema do nosso tempo é "a crise de Deus", a ausência de Deus, disfarçada de religiosidade vazia. A teologia deve voltar a ser realmente teo-logia, falar de Deus e com Deus.
Metz tem razão. O "único necessário" (unum necessarium) para o homem é Deus. Tudo muda dependendo da existência ou não de Deus. Por desgraça, também nós, cristãos, muitas vezes vivemos como se Deus não existisse (51 Deus non dare-tur). Vivemos segundo o slogan: Deus não existe e, se existe, não conta para nada. Por isso, a evangelização deve falar de Deus antes de qualquer coisa, anunciar o único Deus verdadeiro: o Criador, o Santificador, o Juiz (cfr. Catecismo da Igreja Católica).
Também aqui é preciso ter presente o aspecto prático. Não se pode dar a conhecer Deus unicamente com palavras. Não se conhece uma pessoa quando as únicas referências que se têm a seu respeito são de segunda mão. Anunciar Deus é introduzir na relação com Deus: ensinar a orar. A oração é fé em ato. E é apenas através dessa experiência vivida que encontramos, de maneira evidente, as garantias de que Deus existe. Por isso são tão importantes as escolas de oração, as comunidades de oração. A oração pessoal (no teu quarto, a sós na presença de Deus), a oração comum "paralitúrgica" ("religiosidade popular") e a oração litúrgica são complementares entre si. Sim, a liturgia é principalmente oração: o seu elemento específico consiste em que o seu sujeito primário não somos nós (como na oração privada e na religiosidade popular), mas o próprio Deus. A liturgia é actio divina. Deus age e nós correspondemos à ação divina.
(Cardeal Joseph Ratzinger excerto conferência pronunciada no Congresso de catequistas e professores de religião, Roma, 10.12.2000, e publicada no ‘L’Osservatore romano’ de 19.01.2001)