Há uma misteriosa relação entre as aparições marianas da Cova da Iria, a «conversão» da Rússia e o triunfo do Imaculado Coração de Maria.
É sabido que uma parte importante do segredo de Fátima tem a ver com a ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Na terceira aparição, a 13 de Julho de 1917, a «Senhora mais branca do que o sol» veio «pedir a consagração da Rússia» ao seu Imaculado Coração. Se assim se tivesse feito, esse país ter-se-ia então convertido e teria havido paz, mas como assim não aconteceu, espalhou os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja e, por isso, os bons foram martirizados, o Santo Padre teve muito que sofrer e várias nações foram aniquiladas, perdendo a sua independência e liberdade.
Hoje é sabido que a queda do muro de Berlim, em 1989, a derrocada pacífica da cortina de ferro, o colapso da antiga URSS e a implosão de todos os seus satélites, os países do Pacto de Varsóvia, não eram humanamente expectáveis, nem foram de facto previstos por nenhum politólogo. Para o crente, contudo, aquela impressionante reviravolta política, que devolveu a liberdade a milhões de cidadãos escravizados por uma das piores tiranias de que há memória, ficou-se a dever à consagração realizada pelo Beato João Paulo II, em Roma, a 25 de Março de 1984, e reconhecida formalmente como válida pela própria vidente.
É certo que alguns pontífices tinham querido realizar esse mandato da Mãe de Deus mas, por incumprimento de algumas das condições estipuladas por Nossa Senhora, essas tentativas malograram-se. Também é verdade que a diplomacia da Santa Sé há já várias décadas que procurava reatar relações com os Estados comunistas do leste europeu, mas sem resultados significativos ou, pelo menos, absolutamente incapazes de explicar a «conversão da Rússia» e do seu império do mal.
O que, em 1917, era uma incrível profecia, é hoje história. Tanto mais inacreditável se se tiver em conta que, só depois de concluídas as aparições de Fátima, isto é em Novembro de 1917, é que a Rússia se torna um Estado totalitário. Além do mais, os confidentes da celestial Senhora nem sequer sabiam da existência dessa potência estrangeira, situada no extremo oposto do continente europeu. Muito menos podiam estar a par das suas convulsões internas, nem do regime implacável que nessas vastos domínios da Europa oriental se iria instalar em breve, com tão funestas consequências para a liberdade religiosa de todos os crentes dos países integrados ou submetidos à URSS.
Todavia, a conversão da Rússia, que talvez só se complete com o regresso da ortodoxia à catolicidade da Igreja, não era a única bênção que Nossa Senhora prometia, se essa nação a Ela fosse consagrada: «O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia que se converterá e será concedido ao mundo algum tempo de paz». «Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará». Assim se entende que o Papa emérito Bento XVI, na solene homilia da celebração eucarística de 13 de Maio de 2010, tenha dito: «Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída». De forma ainda mais explícita, expressou nessa mesma ocasião o seguinte voto: «Possam os sete anos que nos separam do centenário das aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria».
Pela primeira vez na história da Igreja, o Papa tem o nome do único vidente masculino de Fátima. E foi o Papa Francisco – eleito num dia 13, do terceiro mês, do ano 2013 … – que quis que o seu pontificado romano fosse consagrado a Maria, na Cova da Iria, como aconteceu no passado dia 13 de Maio, pela mediação do nosso Patriarca. Talvez não seja temerário supor que este gesto, à semelhança da consagração do Beato João Paulo II e a sua inequívoca relação com a «conversão» da Rússia, é o sinal que pressagia, por fim, o prometido e tão desejado triunfo do Imaculado Coração de Maria.
Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada in 'Voz da Verdade'