As três, solteiras, trabalhavam
num pequeno hospital em Somiedo, nas Astúrias, e participavam activamente na
vida da igreja: eram catequísticas, visitavam os pobres, etc. No dia 27 de
Outubro de 1936, quando o exército vermelho invadiu Somiedo, as três
enfermeiras não quiseram abandonar os doentes do hospital. Os milicianos
vermelhos irromperam no edifício, fuzilaram os doentes e levaram o médico, o
restante pessoal e as três enfermeiras algemados ao comandante, conhecido como
o «El Patas». Os populares que viram o cortejo contam que foram 8 quilómetros
muito duros para os prisioneiros. O capelão do hospital e o médico foram logo
assassinados e os seus cadáveres expostos em público, mas o «El Patas» propôs-se
libertar as três enfermeiras se deixassem de ser católicas e se juntassem ao
partido. As raparigas recusaram a proposta e o «El Patas» deu ordem aos
milicianos para abusarem delas à vontade.
Os soldados violaram-nas e
torturaram-nas toda a noite. A gritaria foi tanta que o «El Patas» pôs carroças
de bois a circular nas ruas à volta da casa para fazerem barulho. Apesar da
violência, as raparigas mantiveram-se leais a Deus. Rezavam elas e gritavam, e
gritavam também os soldados fora de si, enquanto os bois mugiam lá fora e as
carroças chiavam pelas ruas desertas. Numa das carroças a ranger jazia o
cadáver do capelão do hospital, que durante o dia tinha sido exibido a toda a
povoação juntamente com o cadáver do médico e, chegada a noite, fora deixado em
cima da carroça, talvez por esquecimento.
No dia seguinte, ao meio-dia, exaustos
uns e outros, levaram as três enfermeiras despidas para um descampado para serem
fuziladas atadas a dois homens. As mulheres milicianas que trataram do assunto despacharam
primeiro os homens e depois as três enfermeiras, que morreram louvando a Deus e
perdoando as assassinas.
Depois do fuzilamento, os
milicianos profanaram os cadáveres, arrastaram-nos pelo chão e deixaram-nos a
apodrecer ao ar livre até à noite. Já escuro, obrigaram alguns aldeões a cavar
um buraco e a colocá-las lá, já vestidas com a sua farda de enfermeiras.
Estas circunstâncias conhecem-se
porque, no final da guerra civil, o «El Patas» contou o que tinha acontecido e
alguns habitantes da povoação também prestaram testemunho. Entre as muitas
pessoas mortas pelas «milícias republicanas» naqueles dias, a população guardou
especial memória destas três raparigas de modo que, acabada a guerra civil,
convenceram o bispo a levar os corpos delas para a catedral, em Astorga.
Hoje, em tempos mais pacíficos, é difícil conceber tanto ódio desvairado, mas de acordo com os princípios marxistas a vida humana não vale nada e o ambiente daquele tempo, exacerbado pela crueldade da guerra civil, fez da loucura um padrão habitual. Sem nenhum intuito de reavivar ódios velhos ou de pedir vingança, o Papa Francisco considerou que nos fazia bem a todos recordar estas três enfermeiras, que amaram a Deus com tal generosidade e deram a vida por Ele. Por isso mandou que fossem beatificadas no passado dia 29 de Maio de 2021.
A perseguição religiosa antes e
durante a guerra civil espanhola deu origem a numerosos mártires, dos quais já
foram beatificados e canonizados vários milhares. São exemplos edificantes de
gente comum, muitas vezes crianças e mulheres, que postas perante uma situação
extrema puseram Deus em primeiro lugar. É pena que estas histórias não sejam mais
conhecidas. E o catálogo é abundante, porque já foram beatificadas e canonizadas
milhares de mártires deste período de perseguição religiosa em Espanha.
Cada uma destas histórias é
motivo para nos perguntarmos como teríamos reagido e como actuamos hoje no
dia-a-dia. Guardamos rancor? Rezamos pelos outros, por mais desvairados que
sejam? Olhamos para eles com simpatia? Somos leais e justos?
José Maria C.S. André