Quando eu era menino, uma das primeiras coisas que os meus pais me ensinaram, bem como na catequese, foi a oração “ideal” para se rezar durante a elevação da Hóstia e do Cálice na Consagração: «Meu Senhor e meu Deus!»
De tal modo assim rezei sempre ao longo desses verdes anos, durante a Consagração, que ficou em mim enraizada essa prática, por isso mesmo uma das primeiras a ser recordada, quando ao fim de muitos anos de afastamento, reencontrei a Fé e a Igreja, pela graça de Deus.
Mas confesso que essa oração saía muito mais da minha boca, numa forma rotineira, do que verdadeiramente uma oração do coração, meditada e abarcada em toda a sua dimensão espiritual de afirmação de Fé, em Jesus Cristo.
Julgo até, (a memória não me ajuda), que durante muito tempo, nem sequer liguei essa oração ao “credo” proferido por São Tomé, quando do seu encontro com Jesus Cristo ressuscitado.
No entanto, essa ligação indelével entre a passagem bíblica e o presente tempo, ao rezar essa oração, tem-me surgido como reflexão, como meditação, e este ano mais ainda no Domingo passado, em que foi proclamado esse Evangelho.
Como nos narra o Evangelho de São João 20, 24-29, Tomé não acreditou, quando os seus irmãos Apóstolos lhe disseram que tinham visto o Ressuscitado.
Respondeu-lhes, como nós hoje em dia tantas vezes respondemos, um tanto displicentemente, uma qualquer frase do tipo: “Pois sim, está bem, mas só se eu vir com os meus olhos e tocar com as minhas mãos.”
Passados oito dias, (sempre no primeiro dia da semana), Jesus Cristo apresentou-se novamente diante deles e convidou Tomé a ver com os seus olhos e a tocar com as suas mãos.
Tomé, não era com certeza um céptico, até queria acreditar, mas estava preso da sua humanidade.
Ora quem tem o coração aberto à fé, ao ser encontrado, ao encontrar-se com Jesus Cristo, nunca fica indiferente, e a relação puramente humana e racional, adquire uma nova dimensão espiritual, que permite “ver” o que os olhos do corpo não vêem.
Jesus Cristo convidou Tomé a pôr as mãos nas suas chagas, mas o Evangelho não nos diz que ele assim terá feito.
O Evangelho diz sim, que Tomé, imediatamente a seguir ao convite de Jesus, respondeu apenas: «Meu Senhor e meu Deus!»Jo 20, 28
Perante o encontro pessoal com Jesus Cristo, Tomé faz a profissão de fé mais explícita até então feita pelos Apóstolos.
Porque nesse encontro Tomé acreditou, e ao acreditar, pode “ver” para além do que os olhos do seu corpo lhe mostravam, e assim pode “ver” a Pessoa de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.
Se eu, no momento da Consagração, repito essa oração apenas rotineiramente, se não a torno uma oração de coração aberto à presença real de Jesus Cristo, então apenas posso ver com os olhos do corpo, e apenas vejo um pouco de pão branco de forma redonda, e um cálice com vinho.
Mas se eu me abro à presença real de Jesus Cristo na Consagração, então os meus olhos passam a ser os olhos do coração, passam a ser os olhos da fé, e o que eu vejo com os olhos do corpo, toma a dimensão real e verdadeira do Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, na Hóstia e no Vinho consagrados.
Então não me resta mais nada, como Tomé, a não ser proclamar: «Meu Senhor e meu Deus!»
«Felizes os que crêem sem terem visto!» Jo 20, 29, diz Jesus a Tomé.
E eu medito nesta frase e quero perceber que aqueles que hoje acreditam, vêem pela fé, porque os olhos do corpo apenas lhes mostram um pouco de pão e um cálice com vinho.
E assim são felizes, porque para “verem”, não o podem fazer apenas por si próprios, mas pela graça de Deus, que lhes concede o dom da fé, que os leva a ultrapassarem a sua própria humanidade, e a “verem” para além de si próprios.
Glória ao Senhor!
Monte Real, 5 de Maio de 2011
Joaquim Mexia Alves