Na segunda sessão de votações do
Parlamento Europeu, ao princípio da tarde, aconteceu o seguinte: 14 deputados
faltaram a toda a sessão. 16 dos deputados presentes, quando chegou o momento
de se pronunciarem sobre a Resolução A9-0169/2021, saíram para tomar café e
voltaram 1 minuto depois da votação. 42 deputados abstiveram-se, 255 tiveram a honra
de votar contra e 378 deputados aceitaram a resolução.
Esta resolução, intitulada «dos
direitos sexuais e da saúde reprodutiva», é apenas um parecer sem valor legal
mas é um teste de força. Fundamentalmente, mostra que metade dos deputados
europeus é favorável ao aborto e defende medidas contra quem respeita a vida
humana.
A linguagem da resolução é característica
de sociedades em que uma ideologia controla a comunicação social com pouca
oposição. Só neste ambiente de unanimidade artificial é possível embrulhar as
realidades mais duras em tanto eufemismo: matar o bebé nascituro é «tratar da
saúde», o direito de o matar é um «direito humano» e, mais retorcido ainda,
condenam-se os médicos e enfermeiros que não aceitam colaborar com este
«direito humano».
Numa sociedade verdadeiramente
livre ninguém se atreveria a dizer que a gravidez é uma doença que precise de
ser «curada» matando o bebé.
Cidadãos capazes de pensar por
sua conta nunca inventariam esse «direito humano» que vai contra a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e não está contemplado em nenhum tratado
internacional de direitos humanos: nem no Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos, nem na Convenção Europeia dos Direitos do Homem, nem na Carta de
Direitos Fundamentais da União Europeia.
Se não fosse o peso opressivo de uma
corrente ideológica, ninguém levantaria o dedo contra a liberdade de
consciência, consagrada na Declaração Universal dos Direitos do Homem, no Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos, na Carta de Direitos Fundamentais
da União Europeia e — já agora — tão oportunamente defendida na Constituição da
República Portuguesa.
Um artigo recente de José Diogo
Ferreira Martins e Inês Quadros (https://observador.pt/opiniao/totalitarismo-vs-objecao-de-consciencia/)
expõe com clareza os termos da questão.
A Resolução do Parlamento Europeu
não é lei, mas dá-nos o retrato de uma Europa triste, de pensamento limitado, de
cultura decadente.
Em Portugal, os deputados
preparam-se para voltar à eutanásia e aprovaram uma lei que confere ao Estado o
encargo de controlar o que os cidadãos pensam. O que é a censura?
A Itália que impor, em especial
às crianças, um pensamento alinhado com a nova ideologia sexual. O Vaticano
lembrou formalmente ao Governo italiano que a liberdade de pensamento está
consagrada na Concordata entre a Itália e o Vaticano. Tanto bastou para que
muitos meios de comunicação europeus classificassem a Igreja de inimiga dos
direitos humanos!
Estes apontamentos soltos dos
tempos que correm explicam-se sem a acção perversa do demónio?