Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

sábado, 9 de maio de 2015

Discurso do Santo Padre aos Bispos moçambicanos em visita "ad Limina Apostolorum"

Amados Irmãos no episcopado!

Sede bem-vindos ad limina Apostolorum, meta da visita por vós empreendida nestes dias para, com as vossas dioceses no coração, celebrardes e estreitardes ainda mais os vínculos entre vós e com a Igreja de Roma que preside à caridade. Somos um único povo, com uma só alma, convocados pelo Senhor que nos ama e sustenta. Com fraterna alegria, vos acolho e saúdo, estendendo esta minha saudação aos cardeais Alexandre e Júlio, aos bispos eméritos, ao clero diocesano e missionário, aos consagrados e consagradas e a todos os fiéis leigos de Moçambique nomeadamente aos catequistas e animadores das pequenas comunidades cristãs. Agradeço a D. Lúcio Muandula as palavras que me dirigiu em nome de toda a Conferência Episcopal, compartilhando as alegrias e esperanças, as dificuldade e inquietações do vosso povo. Exprimo-vos a minha gratidão pelo generoso trabalho pastoral que levais a cabo nas vossas comunidades diocesanas e asseguro-vos a minha constante união e solidariedade espiritual. Por minha vez, peço que não vos esqueçais de rezar por mim, a fim de que eu possa ajudar a Igreja naquilo que o Senhor deseja que a ajude.

«Tu amas-me?» – perguntara Ele a Pedro, continuando a pergunta a ressoar no coração dos seus sucessores. E, à minha resposta afirmativa, pediu-me: «Apascenta as minhas ovelhas» (cf. Jo 21, 15-17). E o mesmo – estou certo! – aconteceu convosco. O Senhor faz-Se mendigo de amor e interroga-nos sobre a única questão verdadeiramente essencial para apascentar as suas ovelhas, a sua Igreja. Jesus é o Pastor supremo da Igreja e é em seu nome e por seu mandato que nós temos o cuidado de guardar o seu rebanho com plena disponibilidade até ao dom total da nossa vida. Ponhamos de parte todas as possíveis importâncias e falsas presunções, para nos inclinarmos a «lavar os pés» de quantos o Senhor nos confiou.

Na vossa solicitude pastoral, reservai um lugar particular, muito particular, para os vossos sacerdotes. Deus manda-nos amar o próximo, e o primeiro próximo do bispo são os seus sacerdotes, indispensáveis colaboradores, cujo conselho e ajuda buscais, de quem cuidais como pais, irmãos e amigos. Para eles, permaneça sempre aberto o vosso coração, a vossa mão e a vossa porta. O tempo gasto com eles nunca é tempo perdido. Entre os vossos primeiros deveres, conta-se o cuidado espiritual do presbitério, mas não esqueçais as necessidades humanas de cada sacerdote, sobretudo nos momentos mais delicados e importantes do seu ministério e da sua vida.

A fecundidade da nossa missão, amados Irmãos no sacerdócio, não é assegurada pelo número de colaboradores, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeado pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor. E é da Cruz, supremo acto de misericórdia e amor, que se renasce como «nova criação» (Gl 6, 15). Querido sacerdote, és alter Christus! De São Paulo, insuperável modelo de missionário cristão, sabemos que procurou conformar-se com Jesus na sua morte para participar na sua ressurreição (cf. Flp 3, 10-11). No seu ministério, experimentou o sofrimento, a fraqueza e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. Se permanecerdes dentro deste mistério, estareis ao abrigo tanto duma visão mundana e triunfalista da missão, como do desânimo que pode surgir à vista das provas e insucessos.

Mas, hoje, existirão ainda estes missionários com a estofa de Paulo, homens e mulheres agarrados à Cruz de Cristo, desposados com Cristo, despojados de tudo para abraçarem o Tudo? Sim, e rejubilamos com tais homens e mulheres consagrados totalmente a Cristo, imolados e identificados com Cristo podendo afirmar: «Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Neste Ano da Vida Consagrada, elevem-se a Deus, das vossas comunidades cristãs, acções de graças e louvores pelo testemunho de fé e serviço que os religiosos e as religiosas oferecem nos diversos sectores da vida eclesial e social, nomeadamente na atenção e solicitude pelos pobres e todas as misérias humanas, materiais, morais e espirituais. Penso na grande quantidade de escolas comunitárias, geridas pelas diversas Famílias religiosas, bem como nos variados centros de acolhimento, orfanatos, casas-família onde vivem e crescem tantas crianças e jovens abandonados; desejo assinalar ainda a heróica dedicação de tantos enfermeiros e médicos, freiras e sacerdotes. Amados Irmãos bispos, mostrai-vos agradecidos pela presença e serviço que as consagradas e os consagrados desempenham em Moçambique; é importante a justa inserção diocesana das comunidades religiosas: não são mero material de reserva para as dioceses, mas carismas que as enriquecem. Entretanto isto não pode ser deixado ao acaso, à improvisação; exige o compromisso das diversas forças e vivências num projecto comum, para que não se dispersem em muitas coisas secundárias ou supérfluas, mas se concentrem na realidade fundamental que é o encontro com Cristo, com a sua misericórdia, com o seu amor, e amar os irmãos como Ele nos amou.

O vosso pastoreio impõe-vos a obrigação de unir, harmonizar e racionalizar as forças eclesiais da diocese. Sei que já o estais fazendo, mas não seja para cada um se fechar no próprio redil ou lamentar-se do que não tem; fazei-o para imprimir um renovado impulso apostólico às comunidades cristãs, imprimir-lhes a dinâmica missionária da saída para acompanhar as pessoas – como fez Jesus com os discípulos de Emaús –, acordando nelas a esperança, abrasando-lhes o coração e suscitando o desejo de regressar a casa, ao seio da família, à Igreja onde habitam as nossas fontes: a Sagrada Escritura, a catequese, os sacramentos, a comunidade, a amizade do Senhor, Maria e os Apóstolos. Possa este clima de «família», o ambiente sereno e cordial entre todos, favorecer o bom entendimento e a colaboração responsável no seio da Igreja que peregrina em Moçambique, convidando os bispos à comunhão entre si e à solicitude pela Igreja universal. Esta solicitude e comunhão vêem-se no real e fecundo funcionamento da Conferência Episcopal, na generosa colaboração entre dioceses vizinhas ou da mesma província eclesiástica que se põem de acordo para oferecer serviços e soluções de interesse comum.

Amados Irmãos no episcopado, descei para o meio dos vossos fiéis, mesmo nas periferias das vossas dioceses e em todas as «periferias existenciais» onde há sofrimento, solidão, degrado humano. Um bispo que vive no meio dos seus fiéis tem os ouvidos abertos para escutar «aquilo que o Espírito diz às Igrejas» (Ap 2, 7) e a «voz das ovelhas», inclusive através daqueles organismos diocesanos que têm a tarefa de vos aconselhar e ajudar, promovendo um diálogo leal e construtivo: conselho presbiteral, conselho pastoral, conselho dos assuntos económicos. Não se pode pensar num bispo que não tenha estes organismos diocesanos. Também isto significa estar com o povo. Penso aqui no vosso dever de residência na diocese; solicita-a o próprio povo, que quer ver o seu bispo, caminhar com ele, estar perto dele; precisa desta presença para viver e, de certo modo, para respirar. Sois esposos da vossa comunidade diocesana, ligados profundamente a ela.

Todos recebemos a água do Baptismo, partilhamos a mesma Eucaristia, possuímos o mesmo e único Espírito Santo, que nos recorda o que Jesus nos ensinou. Pois bem! A primeira coisa que Jesus nos ensina é esta: encontrar-se e, encontrando, ajudar. O encontro com o outro alarga o coração, multiplica a capacidade de amar. Os Pastores e os fiéis de Moçambique precisam de desenvolver mais a cultura do encontro. Jesus pede-vos apenas uma coisa: que vades, procureis e encontreis os mais necessitados. Como não pensar aqui nas vítimas das calamidades naturais? Estas não cessam de semear destruição, sofrimento e morte – como ainda há pouco, infelizmente, fomos testemunhas –, aumentando o número de deslocados e refugiados. Estas pessoas precisam que partilhemos a sua dor, as suas ânsias, os seus problemas. Precisam que as olhemos com amor; é preciso ir ao encontro delas, como fazia Jesus.

Por fim, alargando o olhar ao país inteiro, vemos que os desafios actuais de Moçambique requerem que se promova em medida maior a cultura do encontro. As tensões e os conflitos minaram o tecido social, destruíram famílias e sobretudo o futuro de milhares de jovens. O caminho mais eficaz para contrastar a mentalidade de prepotência e as desigualdades, bem como as divisões sociais, é investir no campo de «uma educação que ensine os jovens a pensar criticamente e ofereça um caminho de amadurecimento nos valores» (Evangelii gaudium, 64). Queridos bispos, continuai a apoiar a vossa juventude, sobretudo através da criação de espaços de formação humana e profissional. Neste sentido, é oportuno sensibilizar o mundo dos responsáveis da sociedade e reavivar a pastoral nas Universidades e nas escolas, conjugando a tarefa educativa com o anúncio do Evangelho (cf. Evangelii gaudium, 132-134). As exigências são tão grandes, que não há maneira de as satisfazer com as meras possibilidades da iniciativa individual e da união de particulares formados no individualismo. Aos problemas sociais responde-se com redes comunitárias. É necessária uma junção de forças e uma unidade de rumo: a isso ajuda a Conferência Episcopal. Entre as suas funções, menciona-se «o diálogo unitário com a autoridade política comum a todo o território» (Directório para o Ministério Pastoral dos Bispos, n. 28). Neste sentido, encorajo uma decidida implementação de boas relações com o Governo, não de dependência, mas de sã colaboração – nos termos do Acordo celebrado em 7 de Dezembro de 2011 entre a Santa Sé e a República de Moçambique –, interessando-se nomeadamente pelas leis que são aprovadas no Parlamento. Amados Bispos, não poupeis esforços no apoio à família e na defesa da vida desde a sua concepção até à morte natural. A este respeito, recordai as opções próprias dum discípulo de Cristo e a beleza de ser mãe acompanhada pelo apoio da família e da comunidade local. A família seja sempre defendida como fonte privilegiada de fraternidade, respeito pelos outros e caminho primário da paz.
Querida Igreja de Deus que peregrinas em terras de Moçambique, amados Irmãos no episcopado, Jesus não vos diz: «Ide! Arranjai-vos!» Mas sim: «Ide, (…) Eu estarei convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 19.20). Está aqui a nossa força e consolação: quando saímos para levar o Evangelho com verdadeiro espírito apostólico, Ele caminha connosco, precede-nos. Para nós, isto é fundamental: Deus sempre nos precede. Quando tivermos de partir para uma periferia extrema, talvez nos assalte o medo; mas não há motivo! Na realidade, Jesus já está lá; Ele espera-nos no coração daquele irmão, na sua carne ferida, na sua vida oprimida, na sua alma sem fé. Jesus está lá naquele irmão. Ele sempre nos precede; sigamo-Lo! Tenhamos a audácia de abrir estradas novas para o anúncio do Evangelho. Confio à Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, as vossas esperanças e as vossas solicitudes, o caminho das vossas dioceses e o progresso da vossa Pátria, enquanto invoco a Bênção do Senhor sobre todo o povo de Deus que peregrina com os seus pastores na dilecta Nação Moçambicana.

«Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a Minha alegria»

Beato Paulo VI, papa de 1963-1978 
Exortação apostólica «Gaudete in domino» sobre a alegria cristã, § 4

Durante vinte séculos, a fonte da alegria espiritual não deixou de fluir na Igreja, e em especial no coração dos santos. [...] Na vida dos membros da Igreja, a sua participação na alegria do Senhor é inseparável da celebração do mistério eucarístico, onde são alimentados e saciados pelo Seu corpo e pelo Seu sangue. Porque neste sacramento, sustentados como viajantes no caminho da eternidade, recebem já os primeiros frutos da alegria do fim dos tempos.

A partir desta perspectiva, a alegria ampla e profunda que é derramada já neste mundo no coração dos verdadeiros crentes revela-se «transbordante», como a vida e o amor do qual é justamente sinal. A alegria é o resultado de uma comunhão entre o homem e Deus, e aspira a uma comunhão cada vez mais universal; a alegria não pode incitar aqueles que a experimentam a uma atitude de auto-absorção. Ela dá ao coração uma abertura universal ao mundo, ao mesmo tempo que o alimenta com o desejo de experimentar os bens eternos. [...]

A alegria faz com que os cristãos se orientem fervorosamente para a consumação celeste das núpcias do Cordeiro (Ap 19.7), permanecendo serenamente distendida entre o tempo das fadigas da terra e a paz da morada eterna, de acordo com a lei da gravitação do Espírito: «Se já agora, tendo recebido essa garantia dos dons do Espírito (2Cor 5,5), clamamos 'Abba, Pai' (Gal 4,6), o que não será quando, ressuscitados, O virmos face a face (1Cor 13,12), quando todos os membros do Corpo de Cristo irromperem num hino de alegria, glorificando Aquele que os ressuscitou de entre os mortos e lhes deu o dom da vida eterna? [...] O que não fará toda a graça do Espírito, finalmente dada aos homens por Deus? Tornar-nos-á semelhantes a Ele e dará efeito à vontade do Pai, porque tornará o homem à imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26)» (Ireneu de Lião). Neste mundo, os santos oferecem-nos já um vislumbre dessa semelhança.

O Evangelho de Domingo dia 10 de maio de 2015

Como o Pai Me amou, assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. Se observardes os Meus preceitos, permanecereis no Meu amor, como Eu observei os preceitos de Meu Pai e permaneço no Seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós e para que a vossa alegria seja completa. «O Meu preceito é este: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos. Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando. Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. Isto vos mando: Amai-vos uns aos outros. 

Jo 15, 9-17

O sacerdócio católico, a sua dignidade a sua necessidade


Na homilia “Sacerdote para a eternidade”, São Josemaría reflete sobre a Santa Missa, sobre a natureza do sacerdócio católico, a sua dignidade e a sua necessidade, e a relação entre sacerdotes e leigos na Igreja.

Pode ler-se a homilia completa em Sacerdote para a eternidade AQUI

O sacerdócio
O sacerdócio leva a servir a Deus num estado que, em si mesmo, não é melhor nem pior do que os outros; é diferente. Mas a vocação de sacerdote aparece revestida duma dignidade e duma grandeza que nada na terra supera.

Um novo trabalho profissional
Este é, se assim se pode dizer, o seu novo trabalho profissional, ao qual dedicam todas as horas do dia, que sempre serão poucas, porque é preciso estudar constantemente a ciência de Deus, orientar espiritualmente tantas almas, ouvir muitas confissões, pregar incansavelmente e rezar muito, muito, com o coração sempre posto no Sacrário, onde está realmente presente Aquele que nos escolheu para sermos seus, numa maravilhosa entrega cheia de alegria, inclusivamente no meio de contrariedades, que a nenhuma criatura faltam.
Quando forem sacerdotes não se deixarão arrastar pela tentação de imitar as ocupações e o trabalho ,dos leigos, mesmo que se trate de tarefas que conheçam bem por as terem realizado até agora, o que lhes conferiu uma mentalidade laical que não perderão nunca.

Sacerdotes a cem por cento
A sua competência nos diversos ramos do saber humano - da história, das ciências naturais, da psicologia, do direito, da sociologia -, embora faça parte necessariamente dessa mentalidade laical, não os levará a quererem apresentar-se como sacerdotes-psicólogos, sacerdotes-biólogos ou sacerdotes-sociólogos. Receberam o sacramento da Ordem para serem, nem mais nem menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento.
É provável que sobre muitos assuntos temporais e humanos, entendam mais do que muitos leigos. Mas, desde que são sacerdotes, calam com alegria essa competência para continuarem a fortalecer-se espiritualmente através da oração constante, para falarem só de Deus, para pregarem o Evangelho e administrarem os sacramentos. Este é, se assim se pode dizer, o seu novo trabalho profissional, ao qual dedicam todas as horas do dia, que sempre serão poucas, porque é preciso estudar constantemente a ciência de Deus, orientar espiritualmente tantas almas, ouvir muitas confissões, pregar incansavelmente e rezar muito, muito, com o coração sempre posto no Sacrário, onde está realmente presente Aquele que nos escolheu para sermos seus, numa maravilhosa entrega cheia de alegria, inclusivamente no meio de contrariedades, que a nenhuma criatura faltam.

Renúncia?
Todas estas considerações podem aumentar, como vos dizia, os motivos de admiração. Alguns continuarão talvez a perguntar a si mesmos: mas porquê esta renúncia a tantas coisas boas e nobres da terra, a uma profissão mais ou menos brilhante, a influir cristãmente, com o exemplo, no âmbito da cultura profana, do ensino, da economia, ou de qualquer outra atividade social?

Outros ficarão admirados lembrando-se de que hoje, em não poucos sítios, grassa uma desorientação notável sobre a figura do sacerdote; apregoa-se que é preciso procurar a sua identidade e põe-se em dúvida o significado que, nas circunstâncias actuais, possa ter a entrega a Deus no sacerdócio. Finalmente, também poderá surpreender alguns que, numa época em que escasseiam as vocações sacerdotais, estas surjam entre cristãos que já tinham resolvido - graças a um trabalho pessoal exigente - os problemas de colocação e trabalho no mundo.

A santidade é para todos
Uma única e a mesma é a condição de fiéis cristãos nos sacerdotes e nos leigos, porque Deus Nosso Senhor nos chamou a todos à plenitude da caridade, à santidade: bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos.

Não há santidade de segunda categoria: ou existe uma luta constante por estar na graça de Deus e ser conformes a Cristo, nosso Modelo, ou desertamos dessas batalhas divinas. O Senhor convida todos para que cada um se santifique no seu próprio estado. No Opus Dei esta paixão pela santidade - apesar dos erros e misérias individuais - não se diferencia pelo facto de se ser sacerdote ou leigo; e, além disso, os sacerdotes são apenas uma pequeníssima parte, em comparação com o total de membros.
A santidade não depende do estado - solteiro, casado, viúvo, sacerdote -, mas sim da correspondência pessoal à graça, que a todos é concedida, para aprendermos a afastar de nós as obras das trevas e para nos revestirmos das armas da luz, da serenidade, da paz, do serviço sacrificado e alegre à humanidade inteira (Cfr. Rom XIII, 12).

Dignidade do sacerdócio
O sacerdócio leva a servir a Deus num estado que, em si mesmo, não é melhor nem pior do que os outros; é diferente. Mas a vocação de sacerdote aparece revestida duma dignidade e duma grandeza que nada na terra supera. Santa Catarina de Sena põe na boca de Jesus Cristo estas palavras: não quero que diminua a reverência que se deve professar aos sacerdotes, porque a reverência e o respeito que se lhes manifesta, não se dirige a eles, mas a Mim, em virtude do Sangue que lhes dei para que o administrem. Se não fosse isso, deveríeis dedicar-lhes a mesma reverência que aos leigos e não mais... Não devem ser ofendidos: ofendendo-os ofende-se a Mim e não a eles. Por isso o proibi e estabeleci que não admito que toqueis nos meus Cristos. (Santa Catarina de Sena, O Diálogo, cap. 116; Cfr. Ps CIV, 15).

Identidade do sacerdócio
Alguns afadigam-se à procura, como dizem, da identidade do sacerdote. Que claras resultam estas palavras da Santa de Sena! Qual é a identidade do sacerdote? A de Cristo. Todos os cristãos podem e devem ser, não já alter Christus, mas ipse Christus: outros Cristos, o próprio Cristo! Mas no sacerdote isto dá-se imediatamente, de forma sacramental.
Para realizar uma obra tão grande - a da Redenção - Cristo está sempre presente na Igreja, principalmente nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, tanto na pessoa do Ministro - "oferecendo-se agora por ministério dos sacerdotes O mesmo que se ofereceu a si mesmo na cruz" – como, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. (Concilio Vaticano II, Const. Sacrosantum Concilium 7; Cf. Concilio de Trento, Doctrina acerca del Santísimo Sacrificio de la Misa cap. 2).

O sacrifício da Missa
Pelo sacramento da Ordem, o sacerdote torna-se efectivamente apto para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o seu ser: é Jesus Cristo quem, na Santa Missa, com as palavras da consagração, transforma a substância do pão e do vinho no Seu Corpo, Alma, Sangue e Divindade.
Nisto se fundamenta a incomparável dignidade do sacerdote. Uma grandeza emprestada, compatível com a minha pequenez. Eu peço a Deus Nosso Senhor que nos dê, a todos os sacerdotes, a graça de realizar santamente as coisas santas, e de reflectir também na nossa vida as maravilhas das grandezas do Senhor. Nós, que celebramos os mistérios da Paixão do Senhor, temos de imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará o nosso lugar diante de Deus, se nós mesmos nos fizermos hóstias. (São Gregório Magno, Diálogos. 4, 59).

Não julgar
Se alguma vez encontrais um sacerdote que, exteriormente, não parece viver de acordo com o Evangelho - não o julgueis, Deus o julga - , sabei que, se celebrar validamente a Santa Missa, com intenção de consagrar, Nosso Senhor não deixa de descer até àquelas mãos, ainda que sejam indignas. Pode haver maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em Belém e no Calvário! Porquê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas suas ânsias redentoras, porque não quer que ninguém possa dizer que não foi chamado, porque se faz encontrar pelos que não O procuram.

É amor? Não há outra explicação. Que insuficientes se tornam as palavras, para falar do Amor de Cristo! Ele baixa-se a tudo, admite tudo, expõe-se a tudo - a sacrilégios, a blasfémias, à frieza da indiferença de tantos - com o fim de oferecer, ainda que seja a um único homem, a possibilidade de descobrir o bater de um Coração que salta no Seu peito chagado.

A Virgem Maria e o sacerdote
Esta é a identidade do sacerdote: instrumento imediato e diário da graça salvadora que Cristo ganhou para nós. Se se compreende isto, se isto é meditado no silêncio activo da oração, como se pode considerar o sacerdócio uma renúncia? É um ganho impossível de calcular. A Nossa Mãe Santa Maria, a mais santa das criaturas - mais do que Ela, só Deus - trouxe uma vez Jesus ao mundo; os sacerdotes trazem-no à nossa terra, ao nosso corpo e à nossa alma, todos os dias: Cristo vem para nos alimentar, para no vivificar, para ser, desde já, penhor da vida futura.

Homilia "Sacerdote para a eternidade", pronunciada pelo fundador do Opus Dei no dia 13 de Abril de 1973

(Fonte: site de S. Josemaría Escrivá http://www.pt.josemariaescriva.info/)

«Não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo»

Santo Agostinho (354-430), Bispo de Hipona (norte de África) e Doutor da Igreja

Todos os bons e fiéis cristãos, mas sobretudo os gloriosos mártires, dirão: «Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?» (Rm 8,31). O mundo contra eles gritava, as nações faziam planos insensatos, os príncipes conspiravam juntos (Sl 2,1); inventavam novos tormentos e imaginavam suplícios incríveis a que submetê-los. Oprimiam-nos cobrindo-os de opróbrio e de falsas acusações, encerravam-nos em cárceres insuportáveis, torturavam-lhes a carne com unhas de ferro, massacravam-nos a golpes de espada, expunham-nos às feras, abandonavam-nos às chamas, e estes mártires de Cristo exclamavam: «Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?»

O mundo inteiro está contra vós, e dizeis: «Quem pode estar contra nós?» Mas os mártires respondem-nos: «Que significa para nós o mundo inteiro, quando morremos por Aquele por Quem o mundo foi feito?» Que estes mártires o digam, então, e que o reiterem, e que nós os escutemos, dizendo com eles: «Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?» Podem descarregar a sua fúria, injuriar-nos, acusar-nos injustamente, cobrir-nos de calúnias; podem não só matar como torturar. Que farão os mártires? Repetirão: «Mas Deus é o meu auxílio, o Senhor é Quem conserva a minha vida» (Sl 53, 6). [...] Ora, se o Senhor é Quem conserva a minha vida e Quem dá força à minha alma, em que poderá o mundo fazer-me mal? [...] É também Ele quem restabelecerá o meu corpo. [...] «Até os cabelos da vossa cabeça estão contados» (Lc 12, 7). [...] Digamos portanto, digamos com fé, com esperança, com um coração ardendo de caridade: «Se Deus está por nós, quem pode estar contra nós?»

O Evangelho do dia 9 de maio de 2015

«Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o senhor. Se eles Me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós; se guardaram a Minha palavra, também hão-de guardar a vossa. Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou.

Jo 15, 18-21