Quis Sua Santidade, o Papa Bento XVI, que toda a Igreja vivesse intensamente, entre Outubro 2012 e Novembro 2013, uma das três virtudes teologais – a Fé –, aprofundando no seu significado, procurando fundamentar os motivos da sua existência e, decerto, entendendo todo o papel que ela desempenha na nossa vida cristã. Com isto, não se quer minimizar a importância das outras virtudes teologais – a esperança e a caridade –, mas apenas dar relevo à fé, para que ela se firme na consciência dos fiéis e oriente a nossa conduta de acordo com os seus ditames e as possibilidades que ela mesma nos confere.
A Fé começa por ser um dom de Deus
Quando abrimos o Catecismo da Igreja Católica, no ponto nº 153, podemos ler: “A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele”. Esta afirmação ensina-nos que nós não temos fé, porque a conquistamos apenas com os nossos esforços pessoais, tal como acontece com as virtudes humanas, que se conseguem à custa de repetirmos os actos que lhes são próprios. Por outras palavras, a virtude humana da ordem, por exemplo, não é fruto da nossa espontaneidade. Não se é ordenado, porque nascemos assim. A ordem surge como uma consequência de, em muitas circunstâncias, às vezes difíceis, fazermos o que é deveras importante e necessário nessas ocasiões, não cedendo à tentação de realizarmos o que é mais fácil ou que dá menos trabalho.
Com a fé, porém, na sua origem, não há somente uma dimensão humana como sua autora. Antes de o homem a possuir, «é um dom de Deus». Ou seja, sem essa intervenção divina, a fé não existe, porque se trata de (...) “uma virtude sobrenatural infundida por Ele”. Por esta razão, no mesmo ponto pode ainda ler-se: “Para prestar esta adesão da fé (ou seja, para aceitarmos a fé e as suas consequências), são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, O Qual move e converte o coração, para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá a todos “a suavidade em aceitar e crer a verdade” (DV 5) ”.
Estas observações elucidam-nos de uma forma clara que Deus quer que a nossa fé comece por ser um dom seu, isto é, uma dádiva que nos oferece para podermos saber com certeza em que acreditamos, já que a autoridade das verdades reveladas tem o próprio Deus como autor, que é perfeito em tudo o que faz e anuncia.
A Fé é também um acto humano
Na sequência do que nos indicou no nº 153, o Catecismo ensina-nos, no número seguinte que, se «o acto de fé só é possível pela graça e pelos auxílios do Espírito Santo» ele corresponde também a um acto profundamente humano. Na verdade, a maior parte dos conhecimentos que temos são fruto do que ouvimos dizer a outras pessoas. E a nossa adesão é tanto mais forte quanto mais sérias e competentes são relativamente ao tipo de conhecimentos ou verdades que nos transmitem. Seria para qualquer um de nós muito mais preocupante que um médico oncologista, numa conversa acidental sobre um problema de saúde que eu sentisse, me dissesse para ter cuidado e me quisesse examinar no seu consultório, do que a opinião dum engenheiro civil sobre o mesmo assunto, ainda que esta fosse mais veemente, efusiva e categórica.
Por isso, «não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas” (Catecismo da Igreja Católica, nº 154). Deus é a autoridade máxima em matéria de verdade e de conhecimento, porque é omnisciente, ou seja, conhecedor de tudo com a máxima perfeição, que não engana, não é ilusória, nem pretende enganar.
Como devemos saber agradecer a Deus o dom da fé. E com que propósitos de melhoria vamos encarar o Ano da Fé decretado pelo Santo Padre, Bento XVI.
(Pe. Rui Rosas da Silva – Prior da Paróquia de Nossa Senhora da Porta Céu em Lisboa in Boletim Paroquial de setembro de 2012 AQUI)
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