Seguindo as pegadas do Beato João Paulo II e de São Josemaría Escrivá
"Desde que o Beato João Paulo II teve a iniciativa de promover o primeiro Dia Mundial da Juventude em Roma, há 26 anos, poderia dizer-se que cada uma dessas reuniões significou um ponto de partida para a vida de milhares de jovens: rapazes e raparigas que conheceram melhor Jesus Cristo e decidiram dar um novo rumo à sua vida, orientando-a de modo consciente e maduro para Deus e para os outros com uma visão cristã optimista, própria de quem se sabe filho de Deus. Para alguns, com o tempo, aquele entusiasmo inicial encontrou os obstáculos comuns do caminhar terreno mas, com a graça de Deus, muitos chegaram à felicidade da fidelidade: duas palavras que rimam, como dizia São Josemaría Escrivá de Balaguer. A fidelidade não é outra coisa que a maturidade do amor no tempo. De facto, muitos dos participantes nas primeiras jornadas mundiais encontravam-se entre os milhões de pessoas que deram o último adeus a João Paulo II, um “a Deus” que era ao mesmo tempo um “obrigado” e uma petição: “continua a ajudar-nos!”.
Passaram os anos e, com Bento XVI, as jornadas mundiais da juventude mantêm a sua extraordinária capacidade de convocatória. Possuem um magnetismo que não é artificial pois, com o sucessor de Pedro, é o mesmo Cristo que passa. Cristo que se fixa em muitos, sim, mas sobretudo em cada pessoa, e esse olhar é cautério que purifica e amor que chama. Muitas decisões de entrega virão, não duvido, para alcançar a alta medida da santidade cristã em todas as circunstâncias: na vida matrimonial, no celibato apostólico, sem mudar de estado, ou abraçando o sacerdócio ou a vida religiosa. O “obrigado”, “continua a ajudar-nos”, através de Pedro, chega ao Céu para converter-se em obras: “aqui estou!, conta comigo!”. Esta é a resposta cristã à exortação de Paulo aos Colossenses: “Assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, vivei n’Ele” (Col 2, 6).
Na defesa da fé que São Paulo faz, na passagem da sua carta que foi escolhida como lema para esta nova Jornada Mundial, o Apóstolo fala das “vãs filosofias e falácias” (Col 2, 8). As jornadas da juventude, neste nosso mundo, tão desgarrado por guerras e por revoltas ligadas às incertezas e injustiças da vida, neste mundo que, ao mesmo tempo nos toca amar porque é o lugar onde Deus nos quer com o seu amor infinito, as jornadas mundiais trazem-nos uma lufada de ar fresco. A mesma sociedade global, tecnológica, sempre em mudança, mostra-se também sensível à verdade e à esperança. E vê no seu seio essa multidão de católicos que, de repente, na rua, se descobrem, se conhecem, e se apercebem de que contam para algo, para muito: hão-de ser a alma da sociedade. Cremos no amor de Deus, dizem-nos, e aqui estamos.
A juventude é o tempo da esperança e da aventura, o tempo da generosidade. Um momento em que resulta mais fácil ver a Cristo como “plenitude do homem e cumprimento do seu anelo de justiça e de paz”, como dizia Bento XVI no passado dia 1 de Maio. Madrid, como antes Roma, Sidney, Colónia, Cracóvia, Toronto, Paris, Denver, Manila ou Buenos Aires – entre outras cidades –, será para muitos, não o duvido, uma chamada a construir sobre Jesus Cristo, não para se encerrar em si mesmo mas para converter a própria existência em serviço aos outros.
Há mais de 80 anos, Madrid foi para São Josemaría o lugar de um especialíssimo encontro com Deus. Em 1928, viu que Deus lhe pedia que fundasse o Opus Dei, e costumava recordar o episódio fazendo referência à chamada de Cristo a Saulo de Tarso, a caminho de Damasco: “Madrid foi a minha Damasco – afirmava – porque aqui caíram as escamas dos olhos da minha alma e aqui recebi a minha missão”.
Então, o jovem sacerdote de 26 anos, começou a trabalhar incansavelmente entre operários e estudantes. Procurou a sua força nos enfermos e nos pobres da capital espanhola: horas e horas pelos bairros marginais da cidade, todos os dias, a pé de um lado para o outro. Enquanto servia e alentava uns e outros, pedia-lhes que oferecessem as suas penas e dores pelas almas dos jovens que atendia. A oração dos meninos, dos pobres e dos enfermos é especialmente grata a Deus; estou persuadido de que aquelas orações dos enfermos dos anos 30, como as de tantos que hoje se unem com o coração à Jornada Mundial sustentarão quem se prepara para o seu encontro com Pedro nas ruas de Madrid. Manifestam a força invisível que fará de Madrid um novo Damasco para muitos.
Naqueles anos, São Josemaría ofereceu um dia, a um jovem estudante de Arquitectura, um livro sobre a Paixão de Cristo; na primeira página, escreveu esta dedicatória:
“+ Madrid, 29-V-33
Que procures Cristo
Que encontres Cristo
Que ames Cristo”.
Nestas poucas palavras estão resumidas, penso, as experiências destas jornadas mundiais, que resultam em levar Cristo até ao último recanto do mundo.
“Buscar Cristo” define o primeiro passo. O amor começa sempre como uma busca, que conduz a um convívio pessoal, na intimidade: “Acontece como com o namoro, explicava São Josemaría a esses jovens: o convívio é necessário, porque, se duas pessoas não se dão, não podem chegar a querer-se. E a nossa vida é de Amor” (Forja, n. 545). É necessária uma abertura do coração, não é algo mecânico, programável: rezo para que se dê em muitos, com a graça do Espírito Santo e a ajuda da autêntica amizade humana.
“Encontrar Cristo” é já enraizar-se mais n’Ele, como o sarmento à vide (Jo 15, 1-8). “Estar enraizados em Cristo — explica Bento XVI na Mensagem para a XXVI Jornada Mundial da Juventude — significa responder concretamente à chamada de Deus, fiando-se n’Ele e pondo em prática a sua Palavra (…); escutá-Lo como ao verdadeiro Amigo com quem compartilhar o caminho da vossa vida”.
“Amar Cristo”, por fim, supõe já gozar dessa seiva que dá sentido e força para amar os outros e desejar amar cada vez mais; é já estar “edificado” em Cristo, deixar que o Espírito Santo construa em nós a imagem do Verbo encarnado que se oferece por todos. O novo dinamismo ao qual nos chama o Papa significa buscar o perdão no Sacramento da Reconciliação, para receber esse amor, um sacramento que o próprio Bento XVI celebrará em Madrid, como eloquente testemunho da misericórdia divina. E esse amar exige deixar-se amar por Jesus na Eucaristia, para levá-Lo depois a muitas outras pessoas.
Peço à Virgem de Almudena, Mãe de Deus e Mãe nossa, para mim e para todos, a alegria de uma nova conversão, um partir de novo no caminho da fé, para que, sabendo-nos débeis mas ao mesmo tempo “fortes na fé” (Col 2, 7), creiamos no amor de Deus Pai e nos sintamos de verdade filhas e filhos de Deus em Cristo.
Fonte: L'Osservatore Romano, 18 de agosto de 2011 com tradução publicada no site de São Josemaría Escrivá em http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/fidelidade-e-felicidade
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