Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Europa e o Ocidente


O predomínio dos EUA, não obstante os serviços prestados para dominar os demónios interiores europeus, substituiria mais tarde a ordem sonhada pelo unilateralismo, e de novo a guerra, com expressão maior no Iraque, com alianças que dividiram os ocidentais na ONU, na NATO e na Europa. Também se tornou conflituoso o Mediterrâneo, com ainda limitada inquietação dos países do Sul da Europa, e riscos crescentes para os ocidentais. O alarme do chamado "Conflito das Civilizações", de Huntington, secundarizou o multiculturalismo pacífico e as migrações descontroladas afectaram a composição das sociedades civis europeias de destino. Nas suas memórias, chamadas Horas Decisivas (Lisboa, 2010), Bush ameniza os enganos com as previsões. Diz: "Se Saddam tivesse levado avante essa intervenção (produção de ADM), o mundo teria muito provavelmente assistido a uma corrida ao armamento nuclear entre o Iraque e o Irão. Saddam poderia ter recorrido a quaisquer terroristas sunitas, como a Al-Qaeda - um casamento de conveniência não de ideologia -, numa tentativa de igualar o que o Irão fazia com grupos terroristas xiitas, como o Hezbollah, etc.." O facto é que o Mediterrâneo se transformou em turbilhão, que o risco da guerra atípica cresceu, que as sociedades civis vivem sem confiança, e, sobretudo, que a fronteira da pobreza ultrapassou o Mediterrâneo para absorver os territórios dos países do Sul da Europa, em que Portugal se encontra: a pobreza está com os países mediterrânicos. A esperança também está, com o seu património imaterial, que faz parte do Património da Humanidade: os direitos humanos, a paz no lugar do combate, o diálogo no lugar do conflito, o multiculturalismo como valor, o respeito no lugar da tolerância, fazem parte da cultura desses povos do Sul da Europa, obrigados agora a serem os que sabem estender a mão fraterna aos povos do Sul desse mar que, pelo menos, as migrações clandestinas ameaçam transforma em cemitério. Os responsáveis pelo chamado Tratado de Lisboa, nesta época de escombros, têm motivos para repensar a decisão de omitir a referência aos valores cristãos no texto do tratado. A situação em que se encontram os povos europeus do Mediterrâneo, é a de estarem limitados a sul pelo turbilhão muçulmano, e limitados a norte pela fronteira da pobreza que absorveu aquele mar do Império Romano. Será realista falar na divisão entre duas Europas, a Europa rica do Norte, com a Alemanha como ponto de referência principal, e a pobre mais representada, nesta data de crise, pela Grécia, por Portugal, Espanha e, agora, a Itália. Pelo que, subitamente, parece que as contribuições para o património imaterial da Humanidade são ensombradas pela visão menos lisonjeira vinda do Norte. A chanceler Merkel, que parece convencida de ter refeito o seu império ao Norte, não apenas pelo exemplo de criatividade e trabalho do seu povo mas também pela generosidade dos ocidentais que ganharam a II Guerra Mundial - dispensaram gerações alemãs de despesas militares, aguentaram a liberdade da Alemanha Ocidental, criaram as condições de reunificação depois da queda do Muro de Berlim, em 1989 -, permitiu-se arriscar um conceito de identificação dos povos do Sul abrangidos pela fronteira da pobreza, dentro da crise global financeira e económica. No fundo, viu-nos preguiçosos e amantes dos lazeres, de feriados, subsídios, sol e férias, desejosos de reformas precoces sem perda de juventude, e parece animada por um renovado directório, já por vezes tentado sem êxito, e que seria o fim do processo europeu dos fundadores do movimento de unidade. Talvez seja mais oportuno pensar no Ocidente como área cultural em decadência, que exige unidade de visão, de cooperação, de solidariedade, e reconhecer que ao divisionismo entre americanismo e europeísmo não parece útil acrescentar a distância entre uma Europa rica e uma Europa pobre: é, sem dúvida, um facto visível, mas também é visível o dever e o interesse de impedir que a divisão apresse a decadência dos ocidentais.

Adriano Moreira in DN online AQUI

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