No Angelus da festa da Sagrada Família o Papa saúda os participantes no encontro na capital espanhola
"Um dos serviços maiores que nós, cristãos, podemos prestar é oferecer o nosso testemunho sereno e firme de família fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, salvaguardando-a e promovendo-a". Com esta exortação Bento XVI dirigiu-se aos participantes no encontro das famílias realizado em Madrid, em ligação com a Praça de São Pedro para a oração do Angelus ao meio-dia de Domingo, 27 de Dezembro, festa litúrgica da Sagrada Família.
Queridos irmãos e irmãs!
Celebra-se hoje o Domingo da Sagrada Família. Podemos ainda identificar-nos com os pastores de Belém que, logo que receberam o anúncio do anjo, acorreram apressadamente à gruta e encontraram "Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura" (Lc 2, 16). Detenhamo-nos também nós a contemplar este cenário, e reflictamos sobre o seu significado. As primeiras testemunhas do nascimento de Cristo, os pastores, encontraram-se diante não só do Menino Jesus, mas de uma pequena família: mãe, pai e filho recém-nascido. Deus quis revelar-se nascendo numa família humana, e por isso a família humana tornou-se ícone de Deus! Deus é Trindade, é comunhão de amor, e a família é, com toda a diferença que existe entre o Mistério de Deus e a sua criatura humana, uma expressão que reflecte o Mistério insondável do Deus amor. O homem e a mulher, criados à imagem de Deus, tornam-se no matrimónio "uma única carne" (Gn 2, 24), isto é, uma comunhão de amor que gera vida nova. A família humana, num certo sentido, é ícone da Trindade pelo amor interpessoal e pela fecundidade do amor.
A liturgia de hoje propõe o célebre episódio evangélico de Jesus aos 12 anos que permanece no Templo, em Jerusalém, sem que os seus pais o soubessem, os quais, admirados e preocupados, ali o encontram depois de três dias que discute com os doutores. Quando a mãe lhe pede explicações, Jesus responde que deve "estar na propriedade", na casa do seu Pai, isto é, de Deus (cf. Lc 2, 49). Neste episódio o jovem Jesus demonstra-se cheio de zelo por Deus e pelo Templo. Perguntemos: de quem tinha aprendido Jesus o amor pelas "coisas" de seu Pai? Certamente como filho teve um conhecimento íntimo do seu Pai, de Deus, uma profunda relação pessoal e permanente com Ele, mas, na sua cultura concreta, aprendeu com certeza dos seus pais as orações, o amor pelo Templo e pelas Instituições de Israel. Portanto, podemos afirmar que a decisão de Jesus de permanecer no Templo era sobretudo fruto da sua relação íntima com o Pai, mas também fruto da educação recebida de Maria e de José. Podemos entrever nisto o sentido autêntico da educação cristã: ela é o fruto de uma colaboração que se deve procurar sempre entre os educadores e Deus. A família cristã está consciente de que os filhos são dom e projecto de Deus. Portanto, não os podemos considerar como posse pessoal, mas, servindo neles o desígnio de Deus, é chamada a educá-los na maior liberdade, que é precisamente a de dizer "sim" a Deus para fazer a sua vontade. A Virgem Maria é deste "sim" o exemplo perfeito. A ela confiamos todas as famílias, rezando sobretudo pela sua preciosa missão educativa. E dirijo-me agora, em espanhol, a quantos participam na festa da Sagrada Família em Madrid.
Saúdo cordialmente os pastores e fiéis reunidos em Madrid para celebrar com alegria a Sagrada Família e Nazaré. Como não recordar o verdadeiro significado desta festa? Deus, que veio ao mundo no seio de uma família, manifesta que esta instituição é caminho certo para o encontrar e conhecer, assim como uma chamada permanente para trabalhar pela unidade de todos em redor do amor. Portanto, um dos maiores serviços que nós, cristãos, podemos prestar aos nossos semelhantes é oferecer-lhes o nosso testemunho sereno e firme da família fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher, salvaguardando-a e promovendo-a, porque ela é de máxima importância para o presente e para o futuro da humanidade. De facto, a família é a melhor escola na qual se aprende a viver aqueles valores que dignificam a pessoa e tornam grandes os povos. Nela também se partilham os sofrimentos e as alegrias, sentindo-se todos protegidos pelo carinho que reina em casa pelo simples facto de ser membros da mesma família. Peço a Deus que nos vossos lares se respire sempre este amor de entrega e fidelidade total que Jesus trouxe ao mundo com o seu nascimento, alimentando-o e fortalecendo-o com a oração quotidiana, a prática constante das virtudes, a compreensão recíproca e o respeito mútuo. Portanto, estimulo-vos a que vos dediqueis incansavelmente a esta bonita missão que o Senhor vos recomendou, confiando na materna intercessão de Maria Santíssima, Rainha das Famílias, e na poderosa protecção de São José, seu esposo. Contai também com a minha proximidade e afecto, e peço-vos que leveis uma saudação especial do Papa aos vossos queridos mais necessitados ou que se encontrem em dificuldade. Abençoo-vos a todos de coração.
(© L'Osservatore Romano - 2 de Janeiro de 2010)
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