Quando a Conferência Episcopal Norte-Americana
tomou a decisão de o elaborar, em Junho de 2019, ninguém imaginava os problemas
que surgiriam dois anos mais tarde, em virtude de o novo Presidente ser um
militante activo a favor do aborto, ao mesmo tempo que se declara católico. Esta
inconsistência talvez se explique por algumas pessoas que admiram as
iniciativas da Igreja se considerarem católicas, mesmo desconhecendo a doutrina
ou tendo divergências de fundo.
O assunto ganhou especial
acuidade quando o Presidente Biden apareceu numa Missa e se aproximou para
Comungar. A contradição escandalizou os católicos e gerou um movimento forte a
pedir aos bispos que explicassem a Biden que não podia tratar assim a Eucaristia.
Inesperadamente, o documento que se trabalhava desde há dois anos, parecia destinado
a concentrar-se nesta lição fundamental: Biden venha à Missa, mas não pode comungar.
Bastantes bispos viram o perigo
de se transformar a Eucaristia num instrumento de luta política. Em Maio deste
ano, o Cardeal Luis Ladaria, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, enviou-lhes
uma carta repetindo a cada passo que o aborto é um crime grave, mas pedindo que
o documento reflectisse o consenso de todos os bispos, evitasse aparecer como
uma intromissão na luta partidária, ou desse a entender que a doutrina da
Igreja se resume à sua oposição ao aborto. Em vista da polémica, na reunião da
Conferência Episcopal de Junho, 55 bispos preferiram adiar indefinidamente o
documento sobre a Eucaristia. Felizmente, 168 mantiveram o plano.
As páginas sobre o carácter
sacrificial da Missa e sobre a presença real de Jesus na Eucaristia abrem o
panorama geral, que permite compreender a relação da Eucaristia com a Igreja e
entender o significado de Comunhão, simultaneamente com Cristo e com a Igreja. Para
alguns leitores, uma consequência prática é a importância de assistir presencialmente
à Missa, em especial ao Domingo, porque a pandemia os fez perder o bom hábito
de assistir à Missa, como se a transmissão televisiva a pudesse substituir.
O capítulo sobre a resposta do
cristão ao dom da Eucaristia ilustra a exposição doutrinal com esplêndidas observações
práticas, por exemplo acerca do Sacramento da Confissão.
Sem abandonar a perspectiva
teológica e sem referir casos particulares, o documento é perfeitamente claro
acerca da importância de estar em comunhão visível com a Igreja para poder
comungar Jesus na Eucaristia. «Repetimos o que os bispos dos EUA declararam em
2006: “Se, na sua vida pessoal ou profissional, um católico rejeita consciente
e obstinadamente doutrinas definidas pela Igreja, ou se consciente e
obstinadamente repudia os seus ensinamentos definitivos acerca de temas morais,
diminui seriamente a sua comunhão com a Igreja. Receber a Sagrada Comunhão
nestas condições contradiz a natureza da celebração eucarística, de modo que tal
pessoa deve abster-se de comungar”». O texto cita ainda uma Encíclica papal sobre
a Eucaristia: «Em casos de uma conduta pública que seja séria, clara e persistentemente
contrária à norma moral, a Igreja, na sua preocupação pastoral pela boa ordem da
comunidade e por respeito ao sacramento, não pode deixar de intervir. O Código
de Direito Canónico refere-se a esta manifesta falta de disposições morais quando
estipula que “quem persiste obstinadamente num pecado grave” não deve ser
admitido à Comunhão eucarística”».
Em resumo, vale a pena ler «O
Mistério da Eucaristia na Vida da Igreja».
José Maria C.S. André
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