Muitas famílias sofrem, quando deveriam ser forças irradiantes de felicidade. Esta distância entre a realidade e o plano de Deus é um drama tremendo, que mobilizou especialmente a Igreja nas últimas décadas. Foi assim com Paulo VI, mais intensamente com João Paulo II e Bento XVI e é agora um tema central do magistério do Papa Francisco.
O horizonte de partida é um sonho de enorme beleza, mais precisamente, um sonho de Deus.
A família faz parte de um plano divino. É evidente que o Criador tinha mil modos diferentes de criar a humanidade, mas —desde o princípio— sonhou, cheio de bênçãos paternais e de expectativa, que a genealogia de cada ser humano se fundasse no amor indissolúvel do pai e da mãe.
Constituir uma família é tomar consciência deste entusiasmo de Deus e deixar-se entusiasmar por ele. A fé é acreditar na alegria, confiar no sonho de Deus. Fiar-se de Deus é estar seguro de que, mesmo perante as dificuldades da vida, Ele aponta o caminho certo da felicidade. O demónio sussurra que seríamos mais felizes «à nossa maneira»; a preguiça, o cansaço e todos os vícios gritam que lhes temos de obedecer, mas quem tem fé não desiste de acreditar no sonho de Deus.
Há um versículo surpreendente no Evangelho de S. Lucas, quando Jesus ressuscitou: ao princípio, os Apóstolos «não podiam acreditar por causa da alegria» (Lc 24, 41). É bom demais, o sonho de Deus. Muitos pensam igualmente que o plano de Deus para a sua família é maravilhoso, mas não é real. Por isso, a mensagem da Igreja neste tempo é repetir às famílias a grande notícia: o sonho de Deus é mesmo verdade!
Há dias, um casal amigo contou-me a conversa que tiveram com um padre, pouco antes de casarem. Prometer amar-se toda a vida não seria afirmar algo sem ter a certeza de cumprir?
Parecia-lhes honesto prometer um esforço muito grande, mas garantir o resultado... O bom padre sossegou-os: a força do Sacramento servia para isso, Deus não falha. Os noivos compreenderam que ele tinha razão. O conselho encheu-os de alegria e —diziam-me eles— tem-nos ajudado a viver um casamento muito feliz, que dura há 21 anos.
No dia 19 de Março, solenidade de S. José, neste ano dedicado a S. José, o Papa lançou um ano dedicado à família. Explicou em vídeo-conferência que pretende que as famílias recuperem a beleza do plano de Deus, que é uma palavra exigente, «que liberta as relações humanas das escravidões que frequentemente desfiguram as famílias e as tornam instáveis».
As famílias vivem numa «ditadura das emoções, da exaltação do provisório que desencoraja os compromissos para toda a vida, vivem no predomínio do individualismo, no medo do futuro».
O Papa pretende que as famílias descubram o desígnio de Deus, cheio de ternura e beleza, e entendam que as exigências de fidelidade não são uma imposição doutrinal «caída do céu, que não encarna com toda a força no dia-a-dia, arriscando-se a ficar uma bela teoria, talvez vivida apenas por obrigação moral». A palavra exigente de Deus, que liberta as relações humanas das ditaduras emocionais, é uma bênção de alegria e fecundidade, o caminho certo para ser intensamente feliz.
O primeiro passo é compreender que a fidelidade é um dom, um presente maravilhoso que Deus sonhou para nós. A mensagem de Francisco às famílias centra-se nisto: «A Igreja está convosco, o Senhor está próximo de vós, queremos ajudar-vos a guardar o dom que recebestes (...). O casamento, como projecto de Deus, fruto da sua graça, é um chamamento a viver com totalidade, fidelidade e gratuitidade». Este é o caminho para que mesmo as vidas trabalhadas «se abram à plenitude da alegria e da realização humana e se tornem fermento de fraternidade e de amor na sociedade».
É que «esta fidelidade —declarou Francisco numa outra mensagem, neste mesmo dia— é o segredo da alegria».
O Apóstolo S. João escreveu uma frase que o Papa Bento XVI classificou, no primeiro parágrafo da sua Encíclica programática («Deus caritas est»), como síntese da vida cristã:
«Nós conhecemos e acreditámos no amor que Deus nos tem» (I Jo 4, 16).
O programa de Francisco é levar-nos a dizer: conhecemos o sonho maravilhoso de Deus para nós e acreditámos nEle.
José Maria C.S. André
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