sábado, 15 de agosto de 2020

Se a democracia morre na escuridão, e morre, alguém apagou a luz

O único país no mundo que perde, e aplaude, o seu ministro das Finanças ao entrar em crise. O único país no mundo que prefere debater ameaças anónimas, infelizmente longe de serem novidade, à barbárie do abandono e da fome dos seus mais velhos. O único país em que um "ativista" que admitiu usar a raça como "arma para a luta" insulta a polícia e depois lhe pede escolta, em jeito de humilhação, e ainda é elevado a vítima pelo regime. O mesmo ativista "anti-racista" que não diz uma palavra sobre a ditadura a quem os embaixadores de países africanos tiveram de pedir, há escassos meses, que parasse com o racismo durante a pandemia: a China. O único país no mundo que celebrou a vinda de um torneio de futebol a que ninguém foi, poucos vieram ou por cá viram, enquanto as filas para ajuda aos sem-abrigo triplicaram. O país que falou mais de um crowd-funding que do descarrilamento de um comboio. O país que se riu do "drink" enquanto se morria de desidratação nos lares. O país em que as críticas a um partido anti-democrático se resumem a um festival de música. O país em que para haver mais turistas se fazem menos testes e em que para não haver mentiras se deixam de fazer perguntas.

O país que à beira do precipício finge que está tudo bem, como se isso fosse mudar alguma coisa e as narrativas enchessem estômagos. O país que fala mais de um deputado único que do secretário de Estado que usou um vírus para dar contratos a amigos – e que continua em funções. O país em que um futebolista uruguaio e o livro de um italiano abriram mais jornais e deram assunto a mais opiniões que a maior queda económica em meio século. O país em que vamos de euro-bravos a euro-mendigos consoante o dia da semana. O país em que a ambição da recuperação rapidamente virou um sonho de esquemas. O país em que os líderes dos dois maiores partidos fazem acordos e nomeações por SMS, sem partidos, parlamento ou debate, e se batem palmas. O país em que a moderação passou a crime e a discordância a risco. O país em que as polémicas são prioridade e as tragédias lixo.

Não vai ficar "tudo bem" enquanto não se assumir que está quase tudo mal. E não haverá "milagre" nenhum enquanto não houver algo de verdadeiro em que acreditar.

Se a democracia morre na escuridão, e morre, alguém apagou a luz.

Sebastião R. Bugalho no Facebook

O Evangelho de Domingo dia 16 de agosto de 2020

Partindo dali, Jesus retirou-Se para a região de Tiro e de Sidónia. E eis que uma mulher cananeia, que viera daqueles arredores, gritou: «Senhor, Filho de David, tem piedade de mim! Minha filha está cruelmente atormentada pelo demónio». Ele, porém, não lhe respondeu palavra. Aproximando-se Seus discípulos, pediram-Lhe: «Despede-a, porque vem gritando atrás de nós». Ele respondeu: «Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel». Ela, porém, veio e prostrou-se diante d'Ele, dizendo: «Senhor, valei-me». Ele respondeu: «Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães». Ela replicou: «Assim é, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos». Então Jesus disse-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Seja-te feito como queres». E, desde aquela hora, a sua filha ficou curada.

Mt 15, 21-28