terça-feira, 26 de maio de 2020

Maria, Rainha dos Apóstolos

Que lição tão extraordinária cada um dos ensinamentos do Novo Testamento! Depois de o Mestre lhes dizer, enquanto ascende para a dextra de Deus Pai, "ide e pregai a todas as gentes", os discípulos ficaram em paz. Mas ainda têm dúvidas: não sabem o que hão-de fazer; e reúnem-se com Maria, Rainha dos Apóstolos, para se converterem em zelosos pregoeiros da Verdade que há-de salvar o mundo. (Sulco, 232)

Se olharmos para a nossa vida com humildade, veremos claramente que o Senhor nos concedeu talentos e qualidades, além da graça da fé. Nenhum de nós é um ser repetido. O Nosso Pai criou-nos um a um, repartindo entre os seus filhos diverso número de bens. Pois temos de pôr esses talentos, essas qualidades, ao serviço de todos; temos de utilizar esses dons de Deus como instrumentos para ajudar os homens a descobrirem Cristo.

(…) É missão dos filhos de Deus conseguir que todos os homens entrem – com liberdade – dentro da rede divina, para que se amem. Se somos cristãos, temos de converter-nos nos pescadores de que fala o profeta Jeremias. Jesus Cristo também utilizou repetidamente essa metáfora: "Segui-me e Eu vos farei pescadores de homens", diz a Pedro e a André. (Amigos de Deus, 258–259)

São Josemaría Escrivá

MISTÉRIOS DO EVANGELHO Décimo primeiro Mistério

O olhar de Jesus!

Um olhar humano e divino, o olhar humano de Deus. Um olhar que arrasta, convence, atrai, chama.
Mas também é o olhar de tédio quando mira Herodes; de cólera quando expulsa os vendilhões do Templo; de repreensão quando encara os acusadores da adúltera.
Um olhar que põe a nu os defeitos e erros, que acusa, que repudia, que afasta. 
Jesus fala com o olhar em todas as situações: rindo contentes com a alegria do filho regressado à casa paterna, deixando correr as lágrimas pelo amigo morto há já três dias, toldado com a névoa da tristeza na Última Ceia, olhar de aflição e pavor em Getsémani.

Os Seus seguidores mais próximos, não podem esquecer o olhar de Jesus.

Mais que as Suas palavras ou os Seus gestos – mesmo os de maior significado – o Seu olhar ficou-lhes gravado no coração desde o primeiro momento em que os encarou, um a um, chamando-os à Sua intimidade, ao Seu círculo mais próximo de confidentes e amigos.

No nosso círculo de confidentes e amigos – onde levamos a cabo o nosso “apostolado de amizade e confidência” – conhecem-nos pelo nosso olhar franco, aberto, claro, bem-disposto?
O nosso olhar inspira confiança?
Transmite tranquilidade?
Perguntas que devemos colocar-nos cada dia.

Os olhos são o espelho da alma, costuma dizer-se, e, que preocupação devemos ter que, de facto, o sejam!
Com os mesmos olhos com que contemplamos, embevecidos, a Hóstia Santa que o Sacerdote nos mostra na hora de comungar, poderemos contemplar imagens impuras ou impróprias?

Os olhos que se perdem na vastidão do infinito Amor de Deus poderão ser os mesmos que se deixam absorver pela passageira e fugaz imagem do prazer do momento?

Podem, sim, sabemos que podem!

Somos humanos, fracos, débeis, volúveis. Que remédio teremos, senão pedir, constantemente, à nossa Mãe do Céu que proteja o nosso olhar, que guie o nosso olhar?
Que poderemos mais senão implorar que nos ajude a guardar a vista como um bem precioso e caríssimo que não queremos desperdiçar?
Que mais desejar que manter o olhar de crianças, límpido, puro, franco e aberto?

“Olho para Ti, olhos nos olhos, e digo-te que Te amo e, não tenho medo que não acredites. Sei que o vês nos meus olhos. Quero guardar para Ti, - só para Ti – o meu olhar. Se possível fosse, ter estes olhos com que agora Te contemplo, bem guardados num cofre donde só os retiraria para Te contemplar. Outros olhos, para o dia-a-dia, seriam “reforçados” com lentes especiais que só me permitissem ver o que pode ser visto. Ou, se preferires, Senhor, ser cego para tudo quanto não sejas Tu. A Tua Face que quero contemplar (Vultuum requiram!) tão cedo quanto Tu mo permitires, há-de iluminar os meus olhos com a mesma luz do Céu, aquela luz onde se movem os anjos e os santos que Te contemplam. Olhos só para Ti, Senhor, só para Ti, para mais nada os quero a não ser… a não ser…, para ver as maravilhas que Tu criaste e, por elas, dar-te graças continuamente. (AMA, Orações pessoais)

O lógico é que, quem tem olhos… veja. Não precise, para ver, mais que luz, claridade e, aqui, bate o ponto: como é possível ver no escuro?
Como pode descortinar-se o quer que seja, permanecendo na comodidade - e cobardia - do ensimesmamento, da clausura em si mesmo, recusando-se sistematicamente a tomar conhecimento do que a Igreja legisla, o Papa esclarece, Jesus Cristo adverte?
Ninguém pode dizer que não sabe se não quer ver, se recusa, pelo menos, tomar conhecimento. (Cfr. AMA, Thalita Kum)
Olhar e reparar
São duas atitudes diferentes.
Olhar pode ser um acto automático que não tem que ser nem mau nem bom.
Faz parte da nossa condição humana, dos nossos sentidos, da forma como percorremos a vida de todos os dias.
Reparar é diferente.
É deter o olhar em algo que nos desperta a curiosidade e pretendemos avaliar – ou ver mais detidamente – os pormenores, os detalhes.
E isto pode ser mau porque, de certa forma alia-se ao reparar a curiosidade e, esta, é sempre má.
Trata-se, pois, de guardar a vista e não se pense que é fácil porque não é.
Constantemente, somos confrontados com autênticas “agressões visuais” e há que ter a prontidão de seguir em frente e deixar o assunto.

A vista é a porta da alma! (AMA, reflexões, 2019)

(AMA, 2018)

Lar, doce Lar!

Está a dizer-nos que um lar é fundamental para que uma família possa subsistir? Não será exagerada tal afirmação? Então, não há muitas pessoas hoje em dia que vivem bem sem terem propriamente um lar?

A pergunta surgiu no final de uma conferência sobre a família.

É verdade, estou convencido disto. Sem um lar lá em casa, uma família não consegue ir para a frente.

A vida mais propriamente humana é a do nosso espírito. Não é a única que temos — mas é a mais essencial. Por isso, os animais não necessitam de um lar para viver — nós, sim!

Uma família constrói-se ao redor do lar. O lar é o âmbito de reunião da família por excelência. O lar é, como diz o dicionário, “o lugar onde se acende o lume na cozinha”.

Calor que reconforta. Mesa ao redor da qual nos sentamos todos. Convívio agradável e distendido que liberta de tantas tensões que a vida traz. Características fundamentais de uma verdadeira família que nos vêm à memória quando reflectimos sobre esta simples palavra de três letras.

Claro que pode não existir nenhuma lareira. E até podem faltar os aquecedores. Mas o que tem de estar presente é o “calor de lar” — temperatura que só nós podemos dar.

A indiferença é o melhor modo de gelar um lar. De dinamitá-lo pela raiz. Podem continuar a existir “quatro paredes caiadas e um cheirinho a alecrim”, mas o lar desaparece. Fica somente uma simples pensão — e nada mais.

É o lar que origina uma atmosfera de confiança e de perdão. Sem esse ambiente, não há nenhuma família que possa aguentar-se.

E o lar são as pessoas que o criam e cuidam dele. Não surge automaticamente pelo facto de haver alguns indivíduos da mesma família que, por pura coincidência, habitam debaixo do mesmo tecto.

Ter experiência de o que é um lar é essencial para o homem actual encontrar a verdade sobre si mesmo.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria