A última década deixou as coisas claras. Não é só o facto de a “superpopulação” ser uma quimera ideológica que vacilou, mas que precisamente se verificou o seu contrário. Um grande número de pessoas, especialmente no Ocidente, cada vez mais envelhecido e estéril, estão a sofrer precisamente aquilo a que os especialistas destas sociedades afligidas apelidam de a “epidemia da solidão”. Este fenómeno não surpreenderia o Papa Francisco, que numa entrevista recente com la Repubblica em 2013 considerou a “solidão dos velhos” um dos piores “males” no mundo de hoje. Cinquenta anos depois da adopção da pílula, inegavelmente, devido à adopção da pílula, a solidão está em expansão através daqueles países no mundo que prosperam materialmente.
No final do ano passado, o New York Times, publicou uma história horrível sobre a queda da natalidade: 4.000 mortes em completa solidão numa semana. Cada ano, no Japão, alguns morrem sem ninguém dar por isso e os seus vizinhos só se dão conta mais tarde através do cheiro.
A primeira vez que aconteceu, ou pelo menos a primeira vez que chamou a atenção nacional, o corpo de um homem de 69 anos que vivia perto da Sra. Ito estava jazido no chão há três anos, sem que ninguém se tivesse dado conta da sua ausência. A sua renda mensal e outros pagamentos eram debitados directamente da sua conta bancária. Finalmente, quando as suas poupanças se esgotaram no ano 2000 é que as autoridades foram a casa dele e se deram conta do seu esqueleto junto da cozinha, o seu corpo fora completamente devorado por insectos e larvas, isto a uns meros metros dos seus vizinhos do lado.
O artigo continua dizendo: “A extrema solidão dos idosos japoneses é tão comum que toda uma nova indústria nasceu em torno dela, especializada em limpar apartamentos onde restos em decomposição são encontrados”. De acordo com outro relatório publicado pelo The Independent, as empresas de limpeza estão em grande e algumas empresas de seguros oferecem apólices que protegem o senhorio em caso de um “solitário” falece na sua propriedade.
O Japão é apenas um dos países a enfrentar alterações demográficas pós-pílula. “A solidão está a converter-se num fenómeno comum em França” noticiava o Le Figaro há uns anos. O artigo, citando um estudo sobre as “novas solidões /novos isolamentos” da Fondation de France, apontava como principal factor para esta solidão: a “ruptura familiar”, especialmente o divórcio. De forma semelhante, em 2004 um estudo sobre “Socio-Demographic Predictors of Loneliness Across the Adult Life Span in Portugal” concluía que o divórcio aumenta a probabilidade de solidão – ainda que não estudasse a influência de ter ou não crianças. Curiosamente, podemos ler vários estudos sobre solidão sem que seja feita qualquer referência a filhos, uma omissão gritante que diz muito sobre a nossa época.
Mary Eberstadt (excerto artigo sobre a encíclica ‘Humanae Vitae’ publicado pela Aciprensa)
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