Seguir Jesus
Mas… sigo Jesus como? Parece que a resposta está latente no meu coração. Sigo-O cada vez que me lembro d'Ele, o que acontece amiúde durante o dia. Exagero? Não! Mas penso - e desejo ardentemente - que seja permanente, visceral, com todo o empenho e entrega de todo o meu coração. Sei muito bem que tal só é possível com amor. Mas Tu, meu Deus, não sabes que Te amo? Então... aumenta o meu AMOR POR TI que eu, não consigo, mas Tu podes TUDO![1]
Segue-me!
Estava ali, sentado naquela cadeira de café. Não é meu hábito mas, naquela tarde, estava um pouco cansado de uma caminhada pelas ruas da cidade e apeteceu-me descansar um pouco. Ouvi distintamente alguém que dizia: - Tu segue-me! Que estranho! Uma frase que eu conheço perfeitamente e sobre a qual medito bastante: Refiro-me ao “chamamento típico” de Jesus Cristo que os Evangelistas referem por várias vezes. Fez-me confusão, confesso. Estarei a ouvir “coisas”? Estou tontinho? Olhei em volta e as sete ou oito pessoas que estavam por ali sentadas continuavam a conversar normalmente. Enfim… gente comum, uns três ou quatro homens, duas senhoras e três jovens “agarrados” aos telemóveis. Pois… não podia ser… Mas, de facto, tornei a ouvir talvez com um acento de insistência: - Tu segue-me! Bom… desta vez a coisa pareceu-me séria e tive de fazer um esforço para não me levantar imediatamente persignando-me. Mas, sou teimoso, muito teimoso, e nada dado nem a “visões” nem a “audições” estranhas como vindas “do Além”. Por isso resolvi “entrar no jogo” e perguntei em silêncio: - Senhor… estás a falar comigo? E ouvi: - Claro que estou a falar contigo. Vem e segue-me! Fiquei estarrecido! O Senhor estava a falar comigo, sentado a uma mesa de café, numa rua qualquer da cidade onde vivo. O esforço agora, para me comportar sem dar nas vistas, era tentar reter a torrente lágrimas que sentia impetuosa a vir-me aos olhos. Deixei de ouvir os ruídos das conversas à minha volta, do bulício normal de uma rua de cidade, dos automóveis, nada. Como se uma espécie de “bolha” invisível me tivesse encerrado isolando-me do mundo exterior. Pensei: ‘O que faço agora?’ Ali perto há uma Igreja aberta ao público. Quase como um “zombie” levantei-me e fui até lá. O Templo estava deserto pelo que me senti muito à vontade e comecei num monólogo íntimo, mas aceso e confiante: ‘Pronto, Senhor, não sabia onde ir, ou antes, onde querias que fosse para seguir-Te, por isso, vim aqui. Desculpa a minha ousadia e a minha pouca fé mas, se há mais alguma coisa…’ E não acabei porque Ele, - tive então a certeza absoluta que era Ele – disse-me: - ‘Fizeste exactamente o que Eu queria. Sabes: estou aqui neste Sacrário e há mais de quatro horas e não aparece ninguém para Me fazer um pouco de companhia, ou, sequer, para Me cumprimentar! Que bom! Agora estás aqui e podemos passar uns bons momentos juntos.’ Para mim já não havia quaisquer “barreiras” ou impedimentos de falsa vergonha e por isso comecei a falar como se de repente tivesse aberto as portas do meu coração, da minha alma, e deixasse vir cá para fora quanto guardava cioso da minha Fé e do meu Amor. Sentia-me tão contente e feliz por ter merecido – sem merecimento – o convite do Senhor que nem sei quanto tempo ali estive, nem o que Lhe disse ou contei. Nunca me interrompeu e eu fui falando, falando ininterruptamente até que uma senhora com alguma idade entrou na Igreja. Nessa altura disse-me: - Pronto! Gostei do nosso convívio, podes ir-te embora. - Ah! E obrigado por Me teres seguido! O convite de Jesus Cristo a segui-Lo é muito simples e pragmático.
«Segue-Me!»
Posso imaginar o tom, a inflexão das Suas palavras: Não são “imperiosas” nem “formais”. São simples e concretas e não admitem interpretações. O tom é normal e corrente. É, de facto um convite mas, parece uma ordem. Dirige-se sempre a alguém especialmente e não é nem multitudinário nem abrangente. Realmente as pessoas - multidões, lê-se nos Evangelhos - acompanham Jesus mas tal não quer dizer que O sigam. Seguir alguém é acompanhar – permanentemente – essa pessoa, escutando o que diz, vendo o que faz e como faz, no fim e ao cabo ter essa pessoa como guia e mestre. Não consta nos Evangelhos que alguém não tenha aceitado o convite a não ser, mas, neste caso, o jovem que desejava ser perfeito e, Jesus, ofereceu-lhe a solução e foi esta que o jovem não quis aceitar. (Cfr. Mc 10, 17-22) O Senhor escolhe quem muito bem entende e fá-lo – sempre – com a esperança que a pessoa que convida aceite e, com segui-Lo, deseje imitá-Lo e alcance a Salvação Eterna. Talvez que o caso mais paradigmático que consta nos Evangelhos (A escolha é minha) seja o convite endereçado a Mateus. (Cfr. Mt 9, 9) Jesus passa pelo seu lugar de trabalho: sentado no telónio de cobrador de impostos. Olha-o nos olhos e diz as “famosas palavras”:
«Segue-me.»
A resposta foi pronta e imediata: Mateus levantou-se e seguiu Jesus. A decisão de Mateus de seguir Jesus sugere-me algumas “lições”.
Uma primeira “lição”: Não pode adiar-se para um momento qualquer num futuro sempre incerto, ou é – como disse – pronta e imediata ou corre-se o risco de nunca acontecer.
Uma segunda “lição”: Não põe condições ou levanta obstáculos, impedimentos. (Mateus, por exemplo, poderia demorar um pouco para terminar o que estava a fazer.)
Uma terceira “lição”: A exigência do desprendimento pessoal seja o que for: importante ou de escasso valor, necessário ou não, com a confiada certeza que o Senhor providenciará o que se mostrar útil.
(Foi este desprendimento que faltou ao “Jovem Rico”) (Cfr. Mc 10, 17-22)
Uma quarta “lição”: As “consequências” de seguir Jesus são inimagináveis!
Por exemplo, Mateus tornou-se um dos Doze Apóstolos e foi autor de um dos Evangelhos.
(AMA, 2019)
Nota:
Desde o séc. II, o Evangelho de Mateus foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo, que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já actuante no mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não identificando a Igreja com o Reino do Céu, Mateus continua hoje a recordar-lhe o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória, na perspectiva do Reino de Deus.
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