quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O sinal admirável do presépio

O presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. Ele educa-nos para contemplar Jesus: meditar e acreditar no amor de Deus por cada um de nós. Nesta fé firme está precisamente a nossa felicidade aqui na Terra – antecipação da felicidade sem fim na Jerusalém celestial.
São ideias da Carta Apostólica “Sinal Admirável” que o Papa Francisco acabou de nos escrever no passado dia 1 de Dezembro.
Nela anima-nos a voltar a meditar que o presépio seja ele uma representação simples ou uma verdadeira obra de arte – é um modo admirável e de comprovada eficácia que nos ajuda a saborear o mistério do Natal.
É como um “Evangelho vivo”: ao mesmo tempo que nos mete na cena da Noite de Natal, convida-nos também a colocarmo-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade de um Deus que se faz Homem e vem para nos salvar.
O presépio propõe com simplicidade a beleza da nossa fé. Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus pelas suas criaturas que somos cada um de nós. Ele, que é o Criador de todo o Universo, abaixa-se até à nossa pequenez.
No presépio percebemos que a vida humana possui um sentido maravilhoso: divino e humano ao mesmo tempo. O dom da vida fascina-nos ainda mais quando contemplamos que Aquele que nasceu em Belém – nessa gruta tão pobre – é a fonte e o sustento de toda a vida que existe no Universo.
Que neste Natal não deixemos de ir a Belém através da contemplação do presépio. Que esta quadra natalícia não nos encontre tão ocupados com o acessório que nos esqueçamos do essencial: acolher a salvação que Deus nos oferece em Jesus, que veio à Terra para nos indicar o caminho do Céu.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Sem Ele nada podemos

Quando sentires o orgulho que ferve dentro de ti – a soberba! –, que faz com que te consideres um super-homem, chegou o momento de exclamar: – Não! E, assim, saborearás a alegria do bom filho de Deus, que passa pela terra com erros, mas fazendo o bem. (Forja, 1054)

Vedes como é necessário conhecer Jesus, observar amorosamente a sua vida? Muitas vezes fui à procura da definição da biografia de Jesus na Sagrada Escritura. Encontrei-a lendo aquela que o Espírito Santo faz em duas palavras: pertransiit benefaciendo. Todos os dias de Jesus Cristo na terra, desde o seu nascimento até à morte, pertransiit benefaciendo, foram preenchidos fazendo o bem. Como, noutro lugar, a Escritura também diz: bene omnia fecit, fez tudo bem, terminou bem todas as coisas, não fez senão o bem.

E tu? E eu? Lancemos um olhar para ver se temos alguma coisa que emendar. Eu, sim, encontro em mim muito que fazer. Como me vejo incapaz, só por mim, de fazer o bem e, como o próprio Jesus nos disse que sem Ele nada podemos, vamos tu e eu implorar ao Senhor a sua assistência, por meio de sua Mãe, neste colóquio íntimo, próprio das almas que amam a Deus. Não acrescento mais nada, porque é cada um de vós que tem de falar, segundo a sua particular necessidade. Por dentro, e sem ruído de palavras, neste mesmo momento em que vos dou estes conselhos, aplico esta doutrina à minha própria miséria. (Cristo que passa, 16)

São Josemaría Escrivá

Celebrar O Natal em Família

Quando este texto chegar às suas mãos, leitor amigo em quem penso enquanto escrevo, estaremos em plena época natalícia. Imaginamos com que intensidade reviveria a Sagrada Família as recordações daqueles dias de Belém, mistos de dores que se transformavam em alegrias deixando os corações inundados de profunda paz. À medida que o Cristianismo se foi consolidando e conhecidos os factos em que se deu o nascimento e infância de Jesus a festa do Natal do Senhor passou a ser celebrado nas comunidades cristãs. A 1ª referência documental à data de 25 de Dezembro aparece num texto de Sexto Júlio Africano em 221 e em 354 o calendário litúrgico filocaliano refere expressamente, (MGH, IX, I, 13-196), que “VIII kal. Ian. natus Christus in Betleem Iudeae”, [“nas VIII Calendas de Janeiro (25 de Dezembro) nasceu Cristo em Belém da Judeia”].

Chegou-se à definição desta data pela relação entre dados dos calendários sacerdotais judaicos, da astronomia, da história romana e da tradição cristã. O Natal é pois algo mais profundo do que a pouco credível substituição de uma celebração pagã por uma cristã.

Os materialismos contemporâneos procuram intensamente afogar as celebrações do Natal em consumismo. Para lhe disfarçar a fria agressividade e fealdade revestem-no com um estaladiço banho exterior de solidariedade fraterna, de festa da família, de tempo de sermos bons, de sorrirmos aos desconhecidos… Como em todos os reducionismos também, neste caso, existe uma réstia de verdade já que, a fraternidade só pode ser realidade entre filhos do mesmo Pai. Por isso é necessário recuperar o sentido do Natal: que chegada a plenitude dos tempos Deus enviou o Seu Filho para nos redimir e podermos ser chamados filhos de Deus.

Sugiro, como melhor maneira de preparar o Natal fazermos uma boa Confissão. Se Natal é tempo de ser bom haverá alguma forma mais razoável de o fazer do que pedir sinceramente perdão ao nosso Pai Deus e decidirmos ser Seus melhores filhos?

Depois, armar o Presépio num local acolhedor da casa onde possamos facilmente lançar um olhar amoroso ao Menino Deus e fazer-Lhe companhia.

Ao decorarmos a árvore de Natal poderemos atribuir um significado sobrenatural a cada um dos seus enfeites: a cor azul a uma oração de reconciliação, a prata para dar graças, a dourada para louvar a Deus, o vermelha para Lhe expor as nossas necessidades; os laços representam a união da família e entre os homens de boa vontade. O Anjo que encima o Presépio pode recordar-nos o nosso Anjo da Guarda; a Estrela de Belém que conduziu os Magos a Cristo lembra a fé que deve guiar as nossas vidas; as luzes, a Luz de Cristo…

João Paulo II lembrava que a cor verde e a perenidade das folhas do abeto são sinal da vida que não morre e que a mensagem da árvore de Natal é, portanto, que a vida permanece "sempre verde" se se torna dom: não tanto de coisas materiais, mas de si mesmo: na amizade e no carinho sincero, na ajuda fraterna e no perdão, no tempo compartilhado e na escuta recíproca. Também as prendas que se costumam colocar na sua base recordam que da árvore da Cruz procedem todos os bens e que Jesus Cristo é o supremo dom de Deus à humanidade (Cfr. João Paulo II, Angelus, 19 de Dezembro de 2004).

Se nos esforçarmos por viver assim o Natal, com fé, esperança e caridade, Jesus encontrará pousada no nosso coração e enchê-lo-á de paz e de alegria. E transmitiremos às novas gerações os valores das tradições que fazem parte do património da nossa fé e cultura.

Para si leitor, para a sua família, desejo um Santo Natal e um 2011 (2015) cheio dos dons do Menino Deus.

António Faure em 2010