A virtude da temperança é vista, muitas vezes, como o caminho da infelicidade. Isso porque a alegria está, na cabeça de muitos, relacionada directamente com o consumo: «compra e serás feliz!». Ou com o aproveitamento da vida “ao máximo”: «quanto mais puderes gozar deste mundo, melhor!».
Para compreender esta virtude e vivê-la, é fundamental captarmos a sua beleza e grandeza, sem nos deixarmos arrastar por uma visão reducionista. A temperança não é a simples negação daquilo que atrai: trata-se de dizer que “não” a um bem menor, para ter capacidade de dizer que “sim” a um bem maior.
A temperança permite ao homem ser mais humano. Ele não é um “animal” criado somente para consumir enquanto há luz debaixo do sol. É alguém chamado à existência para amar, para realizar grandes façanhas por amor a Deus e aos outros. Isso é o que o fará feliz aqui e depois.
A temperança põe ordem nas tendências mais íntimas do “eu”: sensibilidade e afectividade, gostos e desejos. A temperança ― como o próprio nome indica ― tempera a vida de uma pessoa. Protege da degradação ― da dispersão, da frivolidade ― todo o mundo interior, que é a fonte da qual procedem os nossos pensamentos, palavras, acções e omissões.
Mas existe um ponto fundamental sem o qual esta virtude ― que é um meio e não um fim em si mesma ― perde todo o seu sentido.
Para aprender a dizer que “não” a nós mesmos ― essência da temperança ― é necessário recordarmo-nos de que levamos dentro um “tesouro” que vale a pena guardar com fidelidade. Ou seja, nascemos para coisas maiores do que aquelas a que os apetites nos inclinam. Valemos por aquilo que somos e não por aquilo que temos.
Quem não é consciente desse “tesouro”, acaba por identificar a felicidade com tudo aquilo que o atrai à primeira vista. E, com esta identificação, a temperança torna-se um absurdo. Uma loucura. Uma aberração. Algo que, evidentemente, não vale a pena ― porque não há nada dentro que proteger e guardar.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
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