São João da Cruz (1542-1591), carmelita descalço, doutor da Igreja
Cântico espiritual, estrofe 1 (Obras Completas, Ed. Carmelo, 2005)
Aonde Te escondeste,
Amado, e me deixaste num gemido?
Qual veado fugiste
Havendo-me ferido.
Atrás de Ti clamei, tinhas partido!
É como se dissesse: «Ó Verbo, meu Esposo, mostra-me o lugar onde estás escondido!» Deste modo, está a pedir que lhe mostre a sua essência divina, porque o lugar onde o Filho de Deus está escondido é, como diz São João, o seio do Pai (Jo 1,18), que é a essência divina, a qual permanece longe dos olhos mortais e escondida a todo o entendimento humano. Por isso, Isaías, falando de Deus, disse. «Na verdade, Vós sois um Deus escondido» (Is 45,15).
Advirta-se, portanto, que, por maiores comunicações, presenças, notícias sublimes e elevadas de Deus que uma alma possa ter nesta vida, isso não é essencialmente Deus nem tem a ver com Ele; na verdade, está ainda escondido à alma. É por isso que, além de todas essas grandezas, convém sempre à alma tê-lO por escondido e buscá-lO como escondido dizendo: «Aonde Te escondeste?» De facto, nem a comunicação elevada nem a presença sensível são uma demonstração clara da presença graciosa de Deus; nem tampouco a secura e carência de tudo isso na alma demonstra a Sua ausência. Daí que o profeta Job tenha dito: «Passa diante de mim e eu não O vejo, afasta-Se de mim e não me apercebo (Jb 9,11).
Desta maneira dá-se a entender que se a alma sentir uma grande comunicação, ou sentimento ou notícia espiritual, nem por isso se há-de convencer de que aquilo que sente consiste em possuir ou ver nítida e essencialmente a Deus, ou que seja possuir mais a Deus ou estar mais em Deus, por muito forte que seja. De igual modo, não deve pensar que, se todas essas comunicações sensíveis e espirituais lhe vierem a faltar, ficando às escuras, em aridez e abandono, Deus lhe falta. [...] Portanto, neste verso, a intenção principal da alma não consiste em pedir apenas a devoção afectiva e sensível, onde não é certo nem claro possuir-se o Esposo, mas, sobretudo, pedir a presença e a visão clara da Sua essência, da qual quer ter a certeza e a consolação na outra vida.
É como se dissesse: «Ó Verbo, meu Esposo, mostra-me o lugar onde estás escondido!» Deste modo, está a pedir que lhe mostre a sua essência divina, porque o lugar onde o Filho de Deus está escondido é, como diz São João, o seio do Pai (Jo 1,18), que é a essência divina, a qual permanece longe dos olhos mortais e escondida a todo o entendimento humano. Por isso, Isaías, falando de Deus, disse. «Na verdade, Vós sois um Deus escondido» (Is 45,15).
Advirta-se, portanto, que, por maiores comunicações, presenças, notícias sublimes e elevadas de Deus que uma alma possa ter nesta vida, isso não é essencialmente Deus nem tem a ver com Ele; na verdade, está ainda escondido à alma. É por isso que, além de todas essas grandezas, convém sempre à alma tê-lO por escondido e buscá-lO como escondido dizendo: «Aonde Te escondeste?» De facto, nem a comunicação elevada nem a presença sensível são uma demonstração clara da presença graciosa de Deus; nem tampouco a secura e carência de tudo isso na alma demonstra a Sua ausência. Daí que o profeta Job tenha dito: «Passa diante de mim e eu não O vejo, afasta-Se de mim e não me apercebo (Jb 9,11).
Desta maneira dá-se a entender que se a alma sentir uma grande comunicação, ou sentimento ou notícia espiritual, nem por isso se há-de convencer de que aquilo que sente consiste em possuir ou ver nítida e essencialmente a Deus, ou que seja possuir mais a Deus ou estar mais em Deus, por muito forte que seja. De igual modo, não deve pensar que, se todas essas comunicações sensíveis e espirituais lhe vierem a faltar, ficando às escuras, em aridez e abandono, Deus lhe falta. [...] Portanto, neste verso, a intenção principal da alma não consiste em pedir apenas a devoção afectiva e sensível, onde não é certo nem claro possuir-se o Esposo, mas, sobretudo, pedir a presença e a visão clara da Sua essência, da qual quer ter a certeza e a consolação na outra vida.
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