Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Confissões IX, 10
Suponhamos uma alma onde se calaram as agitações da carne, onde se calaram todas as ilusões da terra, do mar, do ar e até do céu. Suponhamos que essa alma faz silêncio – silêncio dos sonhos e dos devaneios da imaginação – e se suplanta a si mesma, não pensando mais em si. Suponhamos que nela se cala igualmente qualquer língua, qualquer signo passageiro, em suma, que tudo nela é silêncio, uma vez que, ouvindo, todas as coisas lhe dizem: «Não fomos nós que nos fizemos a nós mesmas, mas fez-nos Aquele que permanece para sempre» (cf Sl 99,3.5) e, tendo dito isto, se calam de imediato porque despertam os nossos ouvidos para Aquele que as fez. Suponhamos que Deus Se põe a falar só Ele, já não através dessas criaturas, mas através de Si mesmo, de modo a ouvirmos o Seu Verbo não por meio da língua da carne, nem da voz de um anjo, nem do estrondo de uma nuvem (Ex 19,16), nem dos enigmas das parábolas, mas para O ouvirmos a Ele próprio, que amamos em todas estas coisas [...], e assim o nosso pensamento atinge [...] a eterna Sabedoria que permanece acima de todas as coisas: [...] porventura não será isto que significa «Entra na alegria do teu Senhor»? (Mt 25,21).
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