Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja
Comentário ao Salmo 48, 14-15; CSEL 64, 368-370
Cristo reconciliou o mundo com Deus; por isso, certamente Ele próprio não teve necessidade de reconciliação. Com efeito, que pecado teria a expiar, se não cometeu pecado algum? Ao reclamarem os judeus as duas dracmas que deviam ser dadas, segundo a Lei, por causa do pecado, Ele disse a Pedro: «Simão, que te parece? De quem recebem os reis da terra impostos e contribuições? Dos seus filhos, ou dos estranhos?» Pedro respondeu: «Dos estranhos.» Então o Senhor disse: «Então, os filhos estão isentos. No entanto, para não os escandalizarmos, vai ao mar, deita o anzol, apanha o primeiro peixe que nele cair, abre-lhe a boca e encontrarás lá um estáter. Toma-o e dá-lho por Mim e por ti.»
Ele mostra assim que não é por Si próprio que deve expiar os pecados, porque Ele não era escravo do pecado; como Filho de Deus, estava liberto de todo o erro. De facto, o Filho é livre, mas o escravo está sujeito ao pecado. Portanto, Aquele que é inteiramente livre nada tinha de pagar pelo resgate da Sua vida, e o Seu sangue podia redimir, poderosamente, os pecados do mundo inteiro. Podia pois libertar os outros, Esse que nada tem a dever.
Mas irei mais longe. Cristo não é o único a não ter de pagar pela Sua própria redenção ou pela expiação dos Seus pecados; ao consideramos cada homem, é compreensível que nenhum tenha de pagar pela sua expiação pessoal. Porque Cristo expiou por todos, é a redenção de todos.
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