Città del Vaticano
Greg Burke |
Uma das principais razões para as crises
"mediáticas"
que marcaram certas
fases do presente pontificado é a falta de uma
liderança comunicativa unitária, bem como a
falta de envolvimento das pessoas responsáveis pela comunicação nos processos de
decisão.
Seria demasiado simplista ver
os culpados das crises apenas e exclusivamente nos jornalistas, que
é o que está a acontecer no Vaticano em todos os níveis.
A nomeação
pela Santa Sé do jornalista americano Greg Burke como "consultor
de comunicação" mostra que a Secretaria de Estado do Vaticano
finalmente a tomar a sério o problema, depois de nas últimas semanas
ter dado vários tiros nos pés.
Burke é um profissional respeitado que trabalhou em Roma como correspondente da
revista Time e que actualmente trabalha
para a Fox News
com a mesma função.
Uma das gaffes mediáticas mais notáveis foi a divulgação
controlada das razões da moção de censura do presidente do IOR Ettore Gotti Tedeschi:
independentemente do seu mérito, tratou-se de uma destruição
moral e profissional de uma pessoa nomeada apenas três anos antes, a
quem foi dada uma grande confiança. Um
fenómeno sem precedentes na história recente da Santa Sé, agravada pela
penosa publicação de um parecer psiquiátrico, enviado aos superiores de Gotti por um
médico diligente que foi mandado sentar perto do presidente do IOR durante um
banquete para o examinar em segredo.
Também o comunicado, publicado pela Sala Stampa mas preparado
pela Secretaria de Estado, após a busca domiciliária de documentos na
posse de Gotti
Tedeschi, não tinha uma redacção feliz. Deveria ter reclamado o
respeito pelos direitos de soberania do Estado do Vaticano, mas acabou -
involuntariamente - por fazer passar a ideia de que na Santa Sé queria-se que
essas cartas ficassem secretas.
A entrevista do Secretário de Estado Tarcísio Bertone
à edição italiana da "Família Cristã", num compreensíveil desabafo
por parte do primeiro colaborador do Papa que se tornou um dos principais alvos
do vatileaks, não obteve o efeito esperado: todas as culpas foram descarregadas
para os jornalistas "tipo Dan
Brown", em especial os italianos, classificando como
"mentiras" e "calúnias" tudo o que estava a ser dito pelos
"corvos" e sobre o
IOR. Estes comentários de Bertone acabaram por ser uma
mensagem demasiado simplista em relação aos conteúdos dos documentos publicados
nos últimos seis meses e às tensões internas que objectivamente afloram na sua
leitura.
Agora a Secretaria de Estado decidiu
corrigir, criando a inédita figura do "consultor de comunicação", uma espécie de supervisor que tem semelhanças com o papel do consultor de comunicação da Casa Branca:
45 anos de idade, Burke
é americano e membro do Opus Dei, tal como o antecessor de Lombardi, Joaquín Navarro-Valls.
A
Obra fundada por S. Josemaria
Escrivá, nas suas expressões académicas, sempre deu atenção particular ao aspecto da comunicação, como confirmam os muito participados cursos da Universidade Pontifícia
da Santa Cruz e os seminários internacionais para comunicadores profissionais que trabalham para a Igreja que se realizam regularmente com notável êxito.
Comentando
a nomeação do novo consultor, o Pe. Lombardi
declarou: "Greg Burke juntar-se-á em breve à Secretaria de Estado como consultor. Esta
nova figura terá a finalidade de contribuir para integrar a
preocupação pelas questões de comunicação na actividade da
Secretaria de Estado e para coordenar a relação com o
serviço da Sala Stampa e de outros serviços de comunicação na
Santa Sé".
É de esperar que Burke
tenha a possibilidade de intervira montante, desde o início do processo, quando se redigem os comunicados e quando se decide como e quando informar.
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