A falta de relatórios da Fundação Richard Zwentzerg
(FRZ) tem gerado inquietação. A instituição dedicada aos estudos lusitanos
continuou as suas actividades, mas desde Junho de 2010 mantém silêncio, sem
publicar os textos, que só são acessíveis através do DN.
Na entrevista de apresentação do último título, o
actual presidente da FRZ, o milionário guatemalteco Oskar Papadiván, parecia
quase aliviado. "A falta de intervenção da fundação em momento tão difícil
da vida portuguesa deveu-se a uma clivagem interna na nossa comissão
científica", explicou. "Felizmente está ultrapassada."
"Quero dizer que a maioria do grupo nunca duvidou
de que o ajustamento da economia e sociedade portuguesas teria sucesso",
afirmou Papadiván. "Aliás, quisemos publicar este resultado há um ano,
meses antes do pedido de ajuda. Mas um pequeno número dos nossos membros tinha
hesitações fundamentadas que não podíamos ignorar. Hoje, o consenso regressou e
apresentamos com confiança estas conclusões."
O relatório afirma que se vive o momento mais negro e
incerto da crise. "Foram muitos erros durante muito tempo. São inevitáveis
meses de sofrimento." Apesar disso, é já evidente que haverá uma
recuperação sólida e equilibrada da conjuntura. "Não será fácil, mas
Portugal voltará ao equilíbrio."
"As alternativas a considerar na situação
portuguesa", diz adiante, "não estão entre seguir a miséria grega ou
o sucesso irlandês, mas entre copiar os desastres de 1834 e 1910 ou os êxitos
de 1978 e 1983. Em todos havia grave crise, mas as revoluções liberal e republicana
mergulharam o País em décadas de caos, enquanto os acordos do FMI conseguiram
aprofundar a democracia e o progresso".
Hoje, o sinal mais promissor do sucesso é a calma
social. "A serenidade é uma condição decisiva para a recuperação e, ao contrário
da Grécia e até da Itália e da Espanha, Portugal e Irlanda têm-na. Apesar da
natural indignação, dos esforços compreensíveis de forças de agitação e dos
sucessivos avisos de revoltas por intelectuais, os portugueses mantêm-se
estoicamente pacíficos. O sofrimento é muito, mas as pessoas e os grupos
compreendem que nada têm a ganhar com protestos e distúrbios. É preciso
trabalhar, poupar, encontrar novas alternativas." O texto chega mesmo a
teorizar: "As pessoas não se revoltam quando perdem muito, mas quando nada
têm a perder. Os lusitanos sabem que a recusa aos sacrifícios e os protestos
paralisantes só aumentariam ainda mais o sofrimento."
O tom optimista do texto surpreende face ao cepticismo
do capítulo relativo às políticas. A Fundação desconfia da capacidade do
Governo em cumprir o prometido. "Os grupos de pressão têm as suas
influências no PSD e no CDS, como tinham no PS. Conseguir eliminar o gigantismo
do aparelho e a obsessão regulamentar é um mito", garante. A timidez das
medidas já tomadas mostra-o à evidência: "Nas reformas estruturais vê-se
pouco e intui-se desorientação, aselhice, ignorância. O Estado tem feito algum
jejum, mas não muda hábitos nem leis. Pior, sem distinguir as críticas sérias e
justificadas das queixas interesseiras e ciumentas, o Governo faz bandeira de
tolices (redução de feriados), meias-medidas (lei das rendas) ou velhas ideias
(programas escolares)."
Como pode então a FRZ assegurar o êxito? Por confiança
na população. "As empresas portuguesas vivem dificuldades há dez anos e
começaram a ajustar-se à nova situação logo em 2008, ao contrário do aparelho
estatal e de grupos de pressão, que parecem ainda mal ter percebido a situação.
Basta que as imposições do memorando consigam parar os erros e aliviar os
estrangulamentos fiscal e regulamentar das empresas, o qual tem crescido
sucessivamente nos últimos anos, para a recuperação ter êxito."
O texto justifica: "Este foi sempre o segredo do
sucesso português ao longo dos séculos. Ao lado de uma elite pedante e parasita
existe um povo espantoso que consegue dar a volta. Ao contrário das desgraças
de 1834 e 1910, os programas externos de 1978 e 1983 aliviaram o povo um pouco
do peso dos parasitas. Isso chegou."
João César das Neves in DN online
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