Meu Caro João Maria Vianney
Muitos parabéns pelo 150º aniversário do teu falecimento, em 4 de Agosto de 1859. Não é costume felicitar ninguém pela sua morte, mas a morte dos santos é uma festa, como bem sabes, quando nesse dia te encontraste com o teu Senhor a quem servistes tão fielmente durante os teus 73 anos de vida. E fizeram festa todos os santos, como aqueles que no Céu te aguardavam depois de os teres ajudado, nesta vida, a encontrar o caminho, do qual muitos andavam afastados.
Nasceste numa família do campo em Dardilly, perto de Lião, tendo vivido os tempos da Revolução Francesa e os da ascensão e queda de Napoleão. Eras criancita de escassos anos quando teus pais albergavam padres que se tinham recusado a prestar o juramento a que os queriam obrigar a constituição civil, com risco de morte, e muitos fiéis que se queriam manter ligados à Igreja tinham de frequentar missas clandestinas, como foi aquela em que recebeste a primeira comunhão.
Foste crescendo, a situação da Igreja apaziguou-se com a concordata de Pio VII com Napoleão e surgiu-te a vocação ao sacerdócio, mas foi um tormento tê-lo conseguido, pois não tinhas grande jeito para os estudos, e então o Latim era um tormento. Até que te deixaram estudar por textos em Francês, e com a ajuda de um bom pároco, lá conseguiste que te ordenassem aos 28 anos, e em 1818 confiaram-te a aldeia de Ars, a Norte de Lião.
Era uma terra de uns 250 habitantes, em que aos Domingos havia bailes e bebedeiras, mas na igreja escassas mulheres e crianças apareciam. Arregaçaste as mangas e aos poucos tudo mudou. Começaste por devolver à condessa de Garets que vivia no castelo, uns móveis que tinha oferecido e ficaste com o mínimo de mobília, incluindo uma cama bem dura. Depois foram as escassas dietas, que incluíam uma panela de batatas cozidas que comias com pouco mais dias a fio, as esmolas, roupas e sapatos que davas aos pobres, as visitas aos paroquianos, a catequese às crianças e as homilias em que apelavas a uma vida melhor e à fuga dos maus costumes. Uma das tuas lutas eram os bailes e nem o castelo escapou às tuas críticas quando se soube que se lá se preparava um baile ... que a boa castelã veio a cancelar.
Era patente o contraste entre a tua vida austera e o carinho com que tratavas das coisas do culto: para o Senhor, tudo te parecia pouco e era quase um milagre como conseguias para tal fim coisas bem ricas e, espantosamente, de um bom gosto que não era de esperar de um homem criado no campo. E depois a tua dedicação ao confessionário, onde chegavas a passar 18 horas por dia e a atender mais de 200 pessoas, que vinham de toda a França e de todas as categorias sociais e que, mesmo assim, passavam dias em Ars e nas redondezas à espera. E também não faltavam milagres que iam sucedendo, e que tu, modestamente, atribuías a Santa Filomena. Ainda tiveste maneira de organizar uma escola e um orfanato para meninas, a que deste o nome de “Providência”, e que era o teu enlevo.
Não admira que no teu falecimento 100.000 chorassem a tua morte em Ars – como o teu Senhor também chorou a morte do seu amigo Lázaro, em Betânia – e que Pio XI te canonizasse em 1925 e te declarasse depois padroeiro de todos os párocos do mundo. Ou que Bento XVI, comemorando os 150 anos do teu falecimento, tenha estabelecido um “Ano Sacerdotal”, tendo citado uma das tuas famosas saídas: “O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”. Bem sabes como tanto precisamos de mais e de bons sacerdotes, e vê lá se dás um jeito, está bem?
Fernando Sena Esteves
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