O papa João Paulo II insistiu diversas vezes na validade desta advertência de Pio XII: "O grande pecado do mundo contemporâneo é ter perdido a noção de pecado". Com efeito, parece que o sentido da liberdade, tão aguçado no homem contemporâneo, o compele a conhecer e a experimentar tudo indiscriminadamente. À luz disso, que se poderia comentar sobre este pensamento de Simone Weil: "Só fazemos a experiência do bem quando o praticamos. Quando fazemos o mal, não o conhecemos, porque o mal detesta a luz"?
Penso que essa palavra de Simone Weil é fundamental. O bem e a verdade são inseparáveis entre si. É um facto que só fazemos o bem quando estamos em harmonia com a lógica interna da realidade e do nosso próprio ser. Agimos bem quando o sentido da nossa ação é congruente com o sentido do nosso ser, isto é, quando encontramos a verdade e a realizamos. Em consequência, fazer o bem conduz necessariamente ao conhecimento da verdade. Quem não faz o bem, cega-se também para a verdade.
Inversamente, o mal é gerado pelo enfrentamento do meu eu com a exigência do ser, da realidade; isto é, pelo abandono da verdade. É por isso que fazer o mal não conduz ao conhecimento, mas à ofuscação. Já não posso - nem quero - ver o que é mau; o sentido do bem e do mal fica embotado. Por isso o Senhor diz que o Espírito Santo admoestará o mundo quanto ao pecado (Jo 16, 8): na sua qualidade de Espírito de Deus, deixa claro o que é o pecado; somente Ele, que é todo luz, pode reconhecer o que o pecado significa e conduzir assim os homens à verdade. Falando disto mesmo, São Paulo diz: O homem espiritual - aquele que vive no Espírito Santo - tudo compreende (1 Cor 2, 15). A comunhão com o bem, com o Espírito Santo, é a mais profunda de todas as experiências possíveis e, em consequência, proporciona-nos a pauta para uma compreensão que chega ao núcleo da realidade.
(Cardeal Joseph Ratzinger em Entrevista a Jaime Antúnez Aldunate, na revista ‘Humanitas’, Santiago de Chile, 2005)
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