Salviano de Marselha (c. 400-c. 480), presbítero
Sobre o governo de Deus Sobre o governo de Deus
O amor de Deus por nós é bem maior que o de um pai. É isso que comprovam as palavras do Salvador no Evangelho: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o Seu Filho Unigénito» (Jo 3,16). E o apóstolo Paulo também refere: «Ele, que nem sequer poupou o Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?» (Rm 8,32) Por isso nos ama Deus mais do que um pai ama o seu filho. É evidente que Deus nos estima para além da afeição paternal: por nós, não poupou o Seu Filho ─ e que Filho! Esse Filho justo, este Filho único, este Filho que é Deus. Poder-se-á dizer mais? Sim! Foi por nós, quer dizer, pelos maus, pelos culpados, que Ele não O poupou. [...]
Por isso o apóstolo Paulo, para nos advertir, em certa medida, da imensidade da misericórdia de Deus, exprime-se assim: «De facto, quando ainda éramos fracos é que Cristo morreu pelos ímpios. Dificilmente alguém morrerá por um justo» (Rm 5,6-7). Com golpe certeiro, basta esta passagem para ele nos mostrar o amor de Deus. Porque, se dificilmente alguém morreria por um grande justo, Cristo provou-nos ser superior, morrendo pelos culpados que nós somos. Mas porque agiu o Senhor assim? O apóstolo Paulo explica-no-lo imediatamente pelo que se segue: «mas é assim que Deus demonstra o Seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós. E, agora que fomos justificados pelo Seu sangue, com muito mais razão havemos de ser salvos da ira, por meio dele» (v. 8-9).
A prova que Ele nos deu foi o ter morrido pelos culpados: uma mercê tem mais valor quando é feita a indignos. [...] Porque, se Ele a tivesse concedido a santos e a homens de mérito não teria demonstrado que é Aquele que dá o que não deveria ser dado ─ teria demonstrado ser Aquele que não faz mais do que render o que é devido. Que Lhe retribuiremos, então, por tudo isto?
(Fonte: Evangelho Quotidiano)
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