Obrigado, Perdão Ajuda-me

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As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

domingo, 6 de março de 2011

Deus está na moda – por Henrique Raposo

I. Em Europa - Os Seus Fundamentos Hoje e Amanhã (2004), Ratzinger foi um dos primeiros a abordar, sem rodeios, o tema do declínio da Europa. E não estamos apenas a falar do óbvio: perda de poder económico, blá blá, demográfico, blá blá, e militar em relação às novas potências emergentes. O declínio europeu é mais profundo, não se fica pela superfície material ("quem tem mais poder?") e atinge as discussões normativas ("quem tem mais legitimidade?"). Neste sentido, Ratzinger é particularmente acutilante na forma como coloca em cheque a legitimidade da modernidade europeia.

II. Durante dois séculos, a elite europeia associou modernidade à secularização. Esta era a lei da gravidade do pensamento europeu: se caminhar no sentido da modernidade, uma sociedade - seja ela qual for - afastar-se-á de Deus. Ora, olhando para a realidade, Ratzinger diz o óbvio: isto está errado, a modernidade não matou Deus. Nos outros continentes, a modernidade anda a par da religião. Várias sociedades (EUA, Índia, Israel, China, Japão, Coreia, Malásia, etc.) conciliam a modernidade com a fé. A Europa está sozinha no ateísmo, está sozinha na morte de Deus. E aqui convém convocar o trabalho de um pensador israelita, S. N. Eisenstadt: não existe uma Modernidade; existem, isso sim, múltiplas modernidades. No lugar da esperada civilização moderna (unificada e liderada pela matriz europeia), surgiram diversas civilizações modernas. As sociedades que partilham algumas características essenciais da modernidade (a burocracia estatal, o capitalismo, a ciência) tendem a desenvolver dinâmicas equivalentes, mas divergem absolutamente noutros pontos. E a diversidade maior está no campo religioso. 

III. E isto quer dizer o quê? Acabou a tutela europeia sobre aquilo que é moderno, sobre aquilo que é legitimo. E isto dói mais do que a perda de poder económico. Um exemplo: os reformadores não-ocidentais do século XIX ou XX (ex: Era Meiji no Japão; a Turquia de Atatürk) viam a Europa como o único modelo civilizacional. O mundo civilizado era sinónimo de mundo europeu, e - actuando neste quadro mental - os reformadores turcos e japoneses deixaram a barbárie da sua própria cultura e abraçaram o mundo civilizado/ocidental. Hoje, essa equivalência única entre mundo civilizado e mundo europeu terminou. Não por acaso, uma nova geração de políticos turcos está a destruir o jacobinismo do estado criado por Atatürk. Não por acaso, uma horda de políticos e intelectuais asiáticos fala com orgulho da "modernidade asiática", algo que seria impensável em 1911 ou 1971.

IV. A perda de legitimidade da modernidade europeia remete ainda para outro pormaior: enquanto a Europa permaneceu como árbitra cultural do mundo, os EUA, simultaneamente modernos e religiosos, podiam ser descartados como uma bizarria. Ora, em 2011, podemos dizer que a Europa é que é bizarra, uma bizarria ateia num mundo de crentes. E o que Ratzinger faz, no fundo, é pedir à Europa que olhe para uma nova laicidade, uma laicidade americana que coloque progresso e religião lado a lado. Em Portugal, D. Manuel Clemente tem seguido exactamente esta linha. Em 1810 - 1910 - 2010 (Assírio & Alvim), por exemplo, o bispo do Porto desenvolve aquilo que pode ser descrito como uma modernidade à americana. Manuel Clemente critica a ideia de "estado confessional". Os católicos devem defender o "estado secular". Porém, a neutralidade do estado não deve invalidar a presença da religião na sociedade. 'Estado' e 'sociedade' são duas realidades distintas. O estado deve ser secular, mas a sociedade não deve ser secularizada à força.

Henrique Raposo

(Fonte: Expresso online)

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