Desde que Richard Dawkins publicou o cáustico livro The God Delusion (A Desilusão de Deus), alguns ateus juntaram-se à sua particular cruzada contra a religião. Até agora, vários pensadores - crentes ou não crentes - tinham-se encarregado de responder às suas objecções. Mas faltava trazer à luz do dia um aspecto comum a todos eles: o seu fraco sentido de humor.
A diferença entre os ateus que se limitam a negar a existência de Deus, e os chamados "novos ateus" (como Richard Dawkins, Christopher Hichens, Daniel Dennet, Geoffrey Robertson, etc.) caracteriza-se pelo tom beligerante destes e a sua intolerância perante as crenças alheias.
Quando o jornalista Eduardo Suarez entrevistou Richard Dawkins (o mais batalhador de todos) para El Mundo (6-02-2009), optou por advertir o leitor, à laia de desculpa:"À priori, Dawkins mostra-se pessoa solícita e agradável. No entanto, as perguntas transformam-no num tipo mal-encarado, desabrido e mal-humorado".
Sábios, mas enganados
Nessa entrevista, Dawkins faz recair o peso da prova da existência de Deus "naqueles que acreditam em algo que tem as mesmas probabilidades de existir que uma fada ou um unicórnio". Na sua opinião, as pessoas são crentes apenas "por ignorância".
E quanto aos cientistas cristãos da envergadura de Newton, Pasteur, Galileu, Lavoisier, Kepler, Copérnico, Faraday, Maxwell, Bernard ou Heisenberg? Da mesma maneira, são um produto de " uma catequese infantil, de que não são capazes de se libertar".
Então, pelo menos salvar-se-ão os crentes que dedicaram as suas vidas ao serviço dos outros? Nem mesmo esses. Para Dawkins, por exemplo, Teresa de Calcutá "era uma mulher malvada. Pensava que era muito boa, mas não se importava nada com o sofrimento dos outros; apenas o que queria era convertê-los".
Suarez termina com uma pergunta:"Há pessoas que não compreendem a sua vontade de expandir o ateísmo e que lhe poderiam dizer: 'Senhor Dawkins, provavelmente Deus não existe, mas deixe de se preocupar com Ele e goze a sua vida'. Que responderia?".
Resposta:"Dir-lhes-ia que, aquilo que, na realidade, me apaixona é a verdade científica e o que desejo é abrir os olhos aos outros acerca do facto maravilhoso da sua própria existência. Enquanto a catequese religiosa estiver a interferir no conhecimento dessa verdade científica continuarei a combatê-la. Não duvide disso".
Os "velhos ateus" entram na contenda
Dawkins foi um dos principais impulsionadores da campanha de publicidade nos autocarros de Londres com o slogan a favor do ateísmo:"Provavelmente Deus não existe. Então deixa de te preocupares e goza a vida" (cfr.www.aceprensa.com, 26-11-2008).
No passado mês de Abril, Dawkins e Hitchens voltaram à carga. Pretendem sentar Bento XVI no banco dos réus por "crimes contra a humanidade" (referem-se aos abusos sexuais cometidos por alguns sacerdotes).Também tentaram que as autoridades britânicas impedissem a visita do Papa ao País, para a beatificação de John Henry Newman, no próximo mês de Setembro.
Outra proposta de Dawkins foi a de instalar um acampamento de Verão, para crianças e adolescentes, com o fim de os salvar da catequese religiosa dos seus pais. Os participantes receberiam uma educação estritamente científica. Além disso, nos momentos de descanso junto à fogueira, aprenderiam anedotas ateias e cantariam o Imagine, de Jonh Lennon("Imagine there's no heaven...and no religion too").
Este tipo de ideias provocou que alguns ateus tenham vindo a público para reivindicar o ateísmo de sempre, temendo que os colegas, do estilo de Dawkins, consigam que o ateísmo caia no ridículo.
Em artigo publicado no Telegraph (29-06-2009), o ateu Michael Deacon perguntava a si próprio quais as consequências que poderiam influir no seu filho se o enviasse para o acampamento de Dawkins e as suas ideias anti-religiosas viessem a ser aceites por ele.
"Há alguma coisa que me põe os cabelos em pé: pensar que o meu filho de 8 anos se transforme numa espécie de mini-Dawkins, pedante e sem sentido de humor".
"Imaginem o que deve ser celebrar o aniversário do teu filho dizendo:"Feliz aniversário, querido! E agora assopra as velas e pede um desejo!"
"De maneira alguma, pai. Isso é um hábito frívolo. Não existem provas que demonstrem que assoprar velas de um Marks & Spencer Victoria aumentem as probabilidades de um desejo se converter em realidade".
"Está bem, percebo...Mas, por sorte, compramos-te umas ofertas!"
"Não, pai. A sorte não teve influencia nas tuas compras. Não existe nada semelhante. Pensar assim, manifesta um pensamento de fraca consistência".
"Meu Deus!"
"Por favor, pai, não digas isso. Sabes perfeitamente que a divindade que invocas não existe".
Libertadas ou indefesas?
No seu livro The Loser Letters (Ignatius Press, 2010), Mary Eberstadt - investigadora na Hoover Institution e escritora - realiza uma aguda sátira sobre os novos ateus. Conta a história de uma jovem de idade entre os vinte e os trinta, bastante desavergonhada, que decide converter-se ao ateísmo.
1. Former Christian cresceu em lar cristão. Mas, ao chegar à Universidade, abandona a fé. Após a sua conversão ao ateísmo, começa a descobrir muitas incoerências de que não lhe tinham falado os seus novos mestres. Decide assim escrever-lhes dez cartas explosivas.
Numa entrevista concedida a Family North Carolina Magazine, Eberstadt explica porque escolheu A. F. Christian como protagonista. A sua historia, diz a escritora, é muito parecida à de muitas raparigas da sua idade que, durante os anos universitários, adoptaram um estilo de vida libertário e secularizado. Com o correr dos anos, descobrem que essa eleição lhes trouxe muitíssimos problemas.
"Os novos ateus e os laicistas radicais dizem que, se te desfizeres do código de conduta judeo-cristão - sobretudo das estúpidas regras sobre sexo, dever ou família - então serás feliz. Libertaste-te. Mas isso não é verdade".
"Uma coisa é o facto de Bertrand Russell e outros da sua geração se terem dado ao luxo de pregar estas coisas. Mas agora sabemos perfeitamente quais são as consequências de tudo isto. O que acontece a muitas raparigas é horrível; terminam sendo vítimas de predadores.
Enquanto que este grupo de ateus elitistas se converteram em autênticas estrelas, os universitários que os seguiram acabaram perdendo. "Quis mostrar aos leitores que este debate entre crentes e ateus não é um debate exclusivamente filosófico. Tem repercussões na vida real das pessoas", conclui Eberstadt.
Juan Meseguer
Aceprensa
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