Obrigado, Perdão Ajuda-me

Obrigado, Perdão Ajuda-me
As minhas capacidades estão fortemente diminuídas com lapsos de memória e confusão mental. Esta é certamente a vontade do Senhor a Quem eu tudo ofereço. A vós que me leiam rogo orações por todos e por tudo o que eu amo. Bem-haja!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Erros meus...

Eu tenho andado a dizer cobras e lagartos da CPLP, acrescentando que ela não serve rigorosamente para nada. Resolvi penitenciar-me e pedir desculpa pela minha rotunda obtusidade aos numerosos leitores que me seguem a prosa. Dito isto, passo a explicar para quer serve a conspícua organização.

A CPLP teve uma origem acidentada cujas peripécias vêm descritas, com algumas farpas certeiras a Mário Soares e mais uns subentendidos, no segundo volume da Autobiografia Política de Aníbal Cavaco Silva (pp. 445-448). Tratou-se, como aí se diz, de "uma iniciativa brasileira impulsionada entusiasticamente pelo embaixador do Brasil em Lisboa, José Aparecido de Oliveira".

Devo reconhecer que, ao longo de década e meia, e depois do referido ex-ministro da Cultura e diplomata brasileiro, a CPLP tem servido para ocupar intensivamente mais algumas estimáveis nulidades.

E assim, o ex-ministro guineense Domingos Simões Pereira, actual secretário executivo da CPLP, numa entrevista a um suplemento especial do semanário Sol, descreve o impacto que a organização tem na vida dos cidadãos: respiro fundo, ao constatar que a CPLP esteve presente aquando do atentado contra o Presidente da República de Timor-Leste e, na Guiné-Bissau, está "permanentemente em ligação com as autoridades desse país".

Estes substantíficos factos só por si já eram motivo para eu me sentir assaz reconfortado quanto aos vigorosos préstimos da CPLP. Até porque a real medida desse impacto, consabidamente igual a zero vírgula zero, é dada pelo Diário de Notícias de 24.7.10: "O recado mais forte da Cimeira foi dirigido à Guiné-Bissau, instada a libertar os detidos da intervenção militar de 1 de Abril"…

Acontece que eu também andei por aí a proclamar que algumas baratas tontas, à míngua de outras maneiras de matar o tempo, procuraram ressuscitar o defunto Acordo Ortográfico, nem isso conseguindo fazer de forma satisfatória. Erros meus, má fortuna, mau repente...

Que a CPLP continua a ser um dócil instrumento da política externa brasileira já se via, tanto da perspectiva histórica da sua própria criação como da perspectiva grotesca do Acordo Ortográfico que alguns dóceis serventuários de interesses brasileiros tanto aplaudem entre nós. Agora há mais:
Na reunião extraordinária do Conselho de Ministros da mesma bafejada organização de 31.3.2010, foi aprovado o Plano de Acção de Brasília para a Promoção, a Difusão e a Projecção da Língua Portuguesa, onde às tantas se lê esta mimosa afirmação:

"O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa não prevê a elaboração de vocabulário ortográfico comum, mas apenas de um vocabulário comum das terminologias científicas e técnicas, cuja existência, nos termos do Acordo, não está posta como condição prévia à sua aplicação."

Acontece que o Acordo Ortográfico estatui, logo no art.º 2º que "os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vista à elaboração, até 1 de Janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas". A mesma previsão, salvo no tocante à data, figura no art.º 2 do Protocolo Modificativo de 17.7.98.

A CPLP serviu pois para a diplomacia portuguesa, em exercício analfabeto de alto nível, engolir esta evidente manifestação dos interesses de Brasília em acelerar as coisas sem qualquer observância do disposto naquele preceito, subscrevendo servilmente a falsidade de o Acordo não prever a elaboração de um vocabulário comum…

Quem verga a espinha perante o Brasil invocando a irreversibilidade de se tratar de 150 milhões de habitantes, esquecendo que, do lado oposto do Atlântico, há mais de 50 milhões que falam a mesma língua, para justificar a necessidade do Acordo, agora admitiu também a inclusão na agenda da Cimeira do que nunca nela devia ter figurado: a pretensão de a Guiné Equatorial entrar na CPLP, apenas porque isso corresponde a interesses geoestratégicos do Brasil no Atlântico Sul.

A CPLP serviu para lançar o processo e a diplomacia, mais uma vez, edulcorou ominosamente as coreografias pertinentes cobrindo-se de um ridículo definitivo. Agora a Gronelândia, a Coreia do Norte e o Burkina-Fasso têm as maiores probabilidades de ser incluídos numa próxima agenda.
E depois a questão da Guiné Equatorial nem ficou resolvida, nem foi varrida de vez do horizonte. Talvez a CPLP também sirva exactamente para ajudar ainda mais o Brasil nessa petrolífera matéria…

VASCO GRAÇA MOURA

(Fonte: DN online)

Nota de JPR: este artigo embora o possa parecer, na minha modesta opinião, como sendo político, tem na sua génese a defesa intransigente da nossa amada língua portuguesa.

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